Nada de barulho
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Praticar o silêncio significa assumir o compromisso de reservar uma certa quantidade de tempo para simplesmente ser”. (Deepak Chopra)
Sei que estou ficando chato, para certas pessoas. Mas isso não me preocupa. O certo será elas se verem e se perguntarem: ele me chateou ou eu me chateei com ele? Se for inteligente vai ver que o tolo foi ele e não eu. Que ele caiu na fala do Jaime Costa: “Não há bobo mais bobo do que o bobo que pensa que eu sou bobo”. Já sabemos que só os tolos discutem. Quando o opositor se cala é porque ele está dando a oportunidade para o outro pensar que venceu. Escute mais para ouvir mais. E o que você interpreta no ouvir é que vai dizer quem e o que você realmente é.
Pode até lhe parecer grosseiro, mas é verdade. Não estou mais com paciência para ficar ouvindo os noticiários. As notícias estão cada vez mais negativas e incentivadoras. Os blá-blá-blás que ouvimos, sobretudo nas discussões políticas, estão ficando nauseantes. Mas vamos aprender com eles. E o importante é que não nos deixemos levar por eles. Por que discutir quando, inteligentemente você pode cortar o papo, sem aborrecimentos?
Abraham Lincoln já nos deu um exemplo notável. Quando ele era Senador, dos Estados Unidos, certo dia, numa reunião, um adversário falou para o Lincoln:
– O Senhor é um político de duas caras!
Nós sabemos o quanto o Lincoln tinha uma cara muito feia. E como ele era consciente disso, virou-se para os colegas, e respondeu para o insultante:
– A resposta fica por conta do auditório: Os Senhores acham que se eu tivesse outra cara iria sair por aí com esta?
A resposta fez com que todos rissem e, consequentemente, o insulto do adversário foi para o brejo. O que é um exemplo de que a política está na inteligência. E se é assim, por que ficar gritando e esperneando em discussões vazias? Vamos nos aprimorar, no preparo para a batalha pacífica que devemos iniciar, pela nossa democracia. Porque só a hipocrisia nos garante que somos cidadãos de fato e de direito. E nunca seremos cidadãos, enquanto não formos um País realmente democrático. Não há democracia com obrigatoriedade no voto. Mas não há liberdade no voto facultativo, sem uma boa educação. E não há uma educação plena sem os conhecimentos políticos. Então vamos nos educar.
Tente conversar sobre isso, com seu candidato à próxima eleição. Veja se ele está interessado na educação do povo, ou se está no mesmo barco do descaso, sempre lotado de desinteressados. Faça sua parte, para que sejamos brasileiros respeitados. E nada de discussões, gritos e arruaças. Lutemos pelo que merecemos. Pense nisso.
99121-1460
Pautando a sociedade: política e religião
Evandro Pereira
Um dos desafios para os eleitores brasileiros é separar política de religião. O direito ao culto em um estado laico, ou seja, aberto a todos tipos de manifestação religiosa, está garantido na Constituição. Na promulgação das Constituições Federal e Estadual, em seus preâmbulos invoca-se a “proteção de Deus” para assegurar o ideal de servir a todos e assegurar justiça e bem-estar, fato que revela as condições sociais e culturais em que foram debatidos e escritos os textos constitucionais.
É certo que diferentes tipos de sociedade apresentam diferentes formas de liderança política. Tratamos neste texto da política de estado, dos agentes que representam o povo na proposição e execução de políticas públicas que intencionam afetar o bem comum em nosso país. O estado moderno, laico, do ponto de vista sociológico, existe sob condição de submissão às leis deste estado, ou seja, os cidadãos “dominados” se submetem à autoridade continuamente reivindicada pelos “dominadores”.
No artigo 4º da Constituição de Roraima, há um reforço da Lei Federal, quando diz que todos são iguais perante a Lei, portanto, tem os mesmos direitos. Dessa forma, o exercício pessoal da religião, limita-se ao campo privado. Há uma confusão gerada do seio da sociedade brasileira, disseminada pela mídia convencional e ampliada pelas redes sociais, de que é possível constituir-se no Brasil, um estado confessional.
Pela lei, não existe a possibilidade de se implantar um estado cristão, islâmico, budista, kardecista ou de qualquer outro segmento em nosso país, pois todos os credos são possíveis no campo privado, entretanto, estes não devem decidir o futuro do país, ou exercer pressão nos espaços institucionais para atender seus interesses ideológicos em detrimento aos direitos comuns dos cidadãos, como educação, saúde, segurança, assistência social, habitação, cultura, comunicação, etc.
Os exemplos em outros países que misturam o domínio da religião sobre as pessoas por meio da política são trágicos. No entanto, tais fenômenos sociopolíticos precisam ser compreendidos pelo processo histórico de constituição destes estados nacionais. Em uma democracia, como a nossa, é importante que se perceba que os representantes políticos são reconhecíveis pela possibilidade de deslocá-los de suas funções por meio do processo eleitoral.
Estes agentes não devem ser eternos nos cargos, ou pelo menos, não deveriam. O político de carreira é uma categoria que distorce a alternância de poder necessária para o pleno exercício da cidadania e da participação popular, fenômeno que permite anomalias como a corrupção, o culto à personalidade, cegueira de problemas sociais, criação de feudos dependentes, currais eleitorais e o discurso religioso excludente.
Conhecidas informalmente como “bancada BBB”, as bancadas da bala, do boi e da bíblia – que são, respectivamente, as frentes parlamentares da Segurança Pública, Agropecuária e Evangélica representam o avanço do conservadorismo no Brasil e a afirmação da moda que virou o discurso moralista nestes últimos tempos. Suas pautas vão desde a facilidade para o acesso à posse de armas, flexibilização de trabalho análogo ao escravo, limitação das demarcações de terras indígenas e a abertura para mineração, proibição de aborto em caso de estupro e a disseminação da ideia do malfadado Kit Gay, fantasia criada por estas alas conservadoras. Outro discurso que tira a credibilidade, sobretudo, de políticos da bancada evangélica, é atribuir uma imagem negativa ou “demonizar” os partidos de esquerda e as outras religiões, sobretudo, as afro-indígenas, promovendo um pensamento de ódio e exclusão.
É neste contexto que temos que continuar vigilantes na defesa da democracia, denunciando os abusos e fake news. Política e religião podem e devem conviver democraticamente, mas em dimensões diferentes – a primeira, conduzindo o debate público e a outra na condição de um direito que deve ser garantido pelo estado pluridiverso. Os riscos da teocracia precisam ser eliminados, com a consciência da importância da democracia e das normas que nos regem por meia da Carta maior, que é nossa Constituição.
Sociólogo, ex-coordenador da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores indígenas de Roraima e membro do Comitê Pró-cultura de Roraima.