O que foi possível perceber no cenário montado para a cassação no Centro Cívico
Jessé Souza*
Todo o cenário montado na Praça do Centro Cívico, na manhã dessa segunda-feira, 28, em torno da sessão extraordinária da Assembleia Legislativa do Estado de Roraima (ALE-RR) para cassar o mandato do então deputado Jalser Renier (SD), traz uma série de reflexões e joga luz sobre a realidade que estamos vivendo em Roraima.
A cena de 16 deputados que atravessaram a praça a pé para chegar a ALE, como se fossem os novos arautos da justiça, está longe de representar um ato heróico em defesa do povo roraimense. Por tudo o que se viu e ouviu nos últimos dias, toda essa encenação transpareceu um ato em defesa de seus próprios interesses. Da mesma forma os manifestantes ali presentes, defendendo seus cargos comissionados.
Com toda reviravolta que ocorreu nesses últimos dias, também está longe de se achar que agora está tudo bem, como repetem alguns parlamentares em suas entrevistas. Não está. Os órgãos de controle precisam dar as respostas para tudo o que foi denunciado, especialmente a suposta farra com a distribuição de cargos comissionados. Há muito o que se explicar.
É necessário dar sequência a essa faxina moral, pois para que a opinião pública possa voltar a acreditar em novos tempos no Legislativo estadual, é imprescindível que essa legislatura não tenha mais deputados cassados sob acusação de corrupção decidindo o futuro do Estado. Não é apenas incoerente, é algo que vai contra qualquer ato de moralidade.
O cenário de cassação também serviu para mostrar que, quando quer e tem interesse, o governo estadual sabe mostrar força policial. Eram no minímo 400 policiais que ocuparam todo o Centro Cívico, além de quase tres dezenas de viaturas policiais estacionadas por lá há dias, em uma espécie de vitrine política em torno do Palácio, enquanto a violência avança nos bairros da Capital e no interior do Estado.
Tudo isso para garantir a realização de uma sessão extraordinária de interesse político do grupo governista, enquanto a população não consegue dormir tranquila diante da escalada da violência sob o comando de grupos criminosos brasileiros e venezuelanos que disputam poder e pontos de droga.
A verdade é que essa mobilização política em torno da cassação de um deputado nunca foi vista em defesa dos verdadeiros interesses do Estado, cujos políticos não conseguem resolver a regularização fundiária e a questão energética do linhão de Tucuruí, por exemplo, só para citar as mais flagrantes que estão na boca dos políticos a cada promessa eleitoral.
Por tudo isso que ocorreu nos últimos dias, ficou bem claro que as forças políticas sabem se mobilizar quando seus interesses estão em jogo, mas ficam inertes quando o desenvolvimento do Estado está em risco. Agora a opinião pública teve certeza de que, se houver interesse e vontade política, as coisas acontecem.
Todos ficaram sabendo que recursos financeiros e recursos políticos existem. Agora faltam mesmo vontade política e muita gestão. É necessário cobrar a continuidade dessa faxina e união para consertar Roraima. Ou todos já voltaram para o seu berço esplêndido?!
*Colunista