Bom dia,

Hoje é sexta-feira (04.03). Um ouvir atento sobre o que fala muita gente e o que se lê em redes sociais dá uma ideia bem próxima da dificuldade e da desesperança que cerca a possibilidade de mudanças no Brasil a partir das próximas eleições. É lamentável que se diga isso, afinal, em sistemas democráticos maduros é através do voto popular, que se tem o caminho para as mudanças,  especialmente sociedades abatidas por crises econômicas, morais e sociais como é o presente caso do Brasil. Não existe outra forma para enfrentar o desemprego, a fome, a desigualdade social, a ladroagem do dinheiro público e a violência urbana e rural que grassa no país.

 Nos últimos dias tem sido pródigo ouvir comentários sobre os recentes episódios envolvendo a cassação do mandato de um deputado estadual, que antes de ser apeado da presidência da Assembleia Legislativa do Estado (ALE), fez várias denúncias da existência de “rachadinhas” – prática onde parlamentares arranjam emprego para apaniguados, mas ficam com a maior parte dos salários de seus salários-, na instituição. Comentários de populares que se manifestam sobre o episódio é de arrepiar. Muitas dessas manifestações dizem: “Para que apurar, se todos os políticos são iguais”.

Outra expressão muito ouvida entre esse mesmo público vai no sentido da reação de muitos, quando perguntados porque votam em candidatos sabidamente envolvidos em corrupção, esses vão pelo mesmo caminho afirmando que é da natureza dos políticos serem corruptos. Não é sem razão que gente flagrada roubando dinheiro público, alguns até condenados pela complacente justiça brasileira são eleitos e reeleitos sucessivamente, formando patrimônios muito acima do que ganham de salários, mesmo que eles sejam escandalosamente grandes.

Essas posturas levam a que o processo político/eleitoral virem negócios para eleitos e eleitores. Faz algum tempo, um delegado da Polícia Federal que esteve chefiando a polícia judiciária eleitoral disse com todas as letras que “em Roraima não se disputa votos, mas se compra votos”. Só naquele pleito a Polícia Federal apreendeu uma mala jogada num terreno baldio por um sujeito que acabara de sair do escritório de um candidato, em cujo interior havia cem mil reais para comprar votos. Parece que virou comum a tal de “boca de urna”, que consiste na compra e venda deslavada de votos, especialmente no dia da votação.

É claro, quem vende o voto são exatamente os eleitores e eleitoras que já têm a convicção de que todo político é corrupto, e neste caso, corrupto por corrupto vai votar naquele que lhe dá algum dinheiro em troca do voto. Isso é tão conhecido como fazendo parte da cultura político/eleitoral roraimense que o mercado estima que para as eleições de outubro a “boca de urna” está estimada em duzentos reais. Muitos candidatos acreditam que sem a grana para a “boca de urna” não é possível ganhar eleições em Roraima, E isso parece ser verdade.

Essa perversão da política eleitoral local é naturalmente realimentada: os candidatos eleitos, sabendo que precisarão comprar votos, roubam dinheiro público de diversas formas.Já os eleitores que vendem votos aproveitam a eleição para ganhar uma graninha, mesmo que ela acabe antes de findar a apuração. É assim que caminha nossa política e eleição, infelizmente.

GANGORRA 1

Certa vez um prefeito do interior de Roraima disse a um amigo que resolvera abandonar a política. Ele estava no último ano de seu segundo mandato e considerou a hipótese de renunciar para disputar uma das vagas na Assembleia Legislativa do Estado (ALE). Para tanto, escolheu fazer uma pesquisa de modo próprio visitando 100 casas na zona urbana e 100 lotes rurais no município. Da conversa com os munícipes chegou à conclusão que 90% deles o elogiavam como prefeito, mas queriam alguma coisa-geralmente cimento, emprego, telhas e até mesmo dinheiro em espécie-, para nele votar.

GANGORRA 2

Depois dessa enquete informal e pessoal, o então prefeito comunicou a sua esposa que não seria mais candidato a deputado estadual, e para o amigo apresentou a seguinte justificativa: ”Política é uma gangorra: para ser eleito você gasta quase tudo do que tem. Eleito, você precisa compensar o que gastou, e para ampliar seu patrimônio. Na próxima eleição, que é cada vez mais cara gasta, de novo, tudo o que tem, para se reeleger. O perigo é que você pode ser pego quando está sem dinheiro sequer para pagar advogado. Nunca me saiu da cabeça a imagem do poderoso político paraense Jader Barbalho, chegando algemado a Belém por conta de desvio de dinheiro da Sudam. Por isso, vou sair da política agora, afinal, tenho uma fazenda que dá para eu viver com minha família”.  E de fato, aquele ex-prefeito nunca mais foi candidato.