As chuvas que revelam os fatos e provocam desespero ao contribuinte
Jessé Souza*
As chuvas nunca foram amigas de governos e políticos. Porque elas acabam desnudando os principais problemas de infraestrutura e, por conseguinte, provocam a indignação dos pagadores de impostos, mais conhecidos como cidadãos ou, mais precisamente, chamados de eleitores.
É exatamente isso o que está ocorrendo neste exato momento, em quase todo o Estado, com as fortes chuvas que caem em todas as regiões, parecendo a antecipação do inverno roraimense. Apesar da observação dos mais antigos, os quais dizem que ainda poderá haver uma estiagem antes do período de chuvas realmente começar, o estrago já está feito.
O aguaceiro que atinge o Estado revela anos de políticas paliativas (e até mesmo da falta delas) com relação às estradas, vicinais e pontes em todo o Estado. Sai e entra governo, mas os problemas antigos retornam a cada chuva mais forte, piorando no inverno, quando regiões ficam alagadas com comunidades isoladas por causa de atoleiros e pontes quebradas ou arrastadas pelas enxurradas.
O atual governo pode até querer esquivar-se de sua culpa, jogando as responsabilidades para seus antecessores (o que até pode ser justificável em alguns aspectos), mas três anos de administração foram praticamente usados para “economizar” recursos e acumular R$2 bilhões em caixa. Os dois anos de pandemia podem até servir de alegação, mas os fatos não sustentam os argumentos.
O caso das regiões do Município do Amajari, Norte do Estado, um dos das mais castigados pelas chuvas que vêm caíndo nos últimos dias, é um exemplo da morosidade ou descaso com que os problemas são tratados pelo governo. Antes do Natal passado, uma forte chuva atingiu aquela mesma região, deixando moradores ilhados, estradas tomadas por atoleiros e pontes de madeiras arrastadas pela enxurrada.
Nas vilas do Trairão e do Bom Jesus, por exemplo, as pontes de madeira foram destruídas. Passaram-se quase três meses, mas nenhuma ação governamental foi realizada para recuperar o que a chuva destruiu, a não ser o paliativo clássico de enviar trator para raspar vicinais de barro, as quais se tornam atoleiro a qualquer chuvinha. Resultado disso: as chuvas arrastaram as madeiras improvisadas como pontes pelos próprios moradores e destruíram os desvios.
Antes mesmo dessas chuvas torrenciais, já era possível ver carros pendurados nessas pinguelas improvisadas ou tentando vencer atoleiros. Agora, nesse fim de semana, nada mais restou de improviso, para desespero dos moradores e produtores rurais. E isso se repete nas demais regiões daquele e de outros municípios do interior.
O que chama a atenção é que, nessas duas regiões do Amajari, políticos foram lá, durante a campanha municipal passada, e prometerem inclusive asfaltamento da estrada, com parlamentares confirmando inclusive emendas para realizar a pavimentação. O tempo passou e as chuvas desnudam a realidade fictícia que assistimos nos institucionais na TV.
Mas essas mesmas promessas sempre se repetem em todas as regiões onde geralmente chegam apenas paliativos. E as chuvas que vêm caindo dão o atestado de incopetência de seguidos governos que não conseguem chegar aonde os mesmos problemas ocorrem anualmente, faça sol ou faça chuva. As redes sociais estão infestadas de vídeos e fotos do desespero da população.
Estamos assistindo as consequências dessa política de paliativos e de mentiras governamentais, tanto por parte do governo quanto dos municípios, principalmente onde os engodos são alimentados por políticos locais que tentam tapar o sol com a peneira ou esconder temporal com guarda-chuva. Mas, em tempos de internet, não há mais como sustentar mentiras.
Mas parece que a amnésia coletiva reina quando o sol reaparece.
*Colunista