No Dia das Mulheres, tudo o que uma mãe jamais abonaria em um filho
Jessé Souza*
O Dia Internacional das Mulheres, celebrado neste 8 de março, está sendo marcado negativamente pela indignação nacional provocada pelo áudio de um deputado estadual de São Paulo, Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), um controverso grupo que se autointitula conservador.
Em uma suposta missão social na Ucrânia devastada pelos ataques bélicos da Rússia, o parlamentar do MBL direcionou o seu olhar sobre as ucranianas que vai muito além de machismo estrutural. O repugnante áudio vazado mistura misoginia, sexismo e machismo, como também dá uma aula de perversão que revela como o bicho homem age quando se está apenas entre “machos alfas”.
De tudo o que foi dito, a frase “são fáceis porque são pobres” não diz respeito somente sobre as mulheres da Ucrânia observadas na fila para deixar o seu país para fugir da guerra, mas fala também sobre o que pensa esse tipo de gente a respeito de qualquer mulher, independente da nacionalidade e da situação de vulnerabilidade em que se encontra.
A frase ganha mais indignação porque se trata de um político que prega a moral e os bons costumes, sob a fachada de um movimento conservador, que costuma misturar religião e política, falando sobre mulheres dentro de um contexto de guerra, em que os civis desesperadamente são obrigados a abandonar tudo para fugir de seu país na tentativa de sobreviver.
É desta forma que a política brasileira está impregnada, de homens que pregam a moral e os bons costumes, defendem a família e enaltecem o cidadão de bem, mas quando estão entre os seus ou em quatro paredes revelam suas verdadeiras faces, ocultas pela hipocrisia e pela fachada da religião; de mulheres que apoiam tudo isso, contraditoriamente, mantendo uma sociedade submissa a essa hipocrisia e à política que trata o sexo feminino com misoginia.
A frase “são fáceis porque são pobres” não é menos pior do aquela, “Você é feia e nem merece ser estuprada”, mas que não causou impacto nem indignação suficientes, a ponto de autor desta ter sido eleito presidente da República. Certo que a primeira foi dita para um grupo privado, embora em um contexto de guerra, mas a segunda foi proferida abertamente, na frente das câmeras de TV.
É por isso que o Dia das Mulheres deste ano precisa ser refletido seriamente sob a luz do que realmente representa o áudio do Mamãe falei, levando em consideração que uma mãe jamais iria abonar uma fala dessa estirpe sobre mulheres humilhadas na fila para fugir de seu país por causa de uma guerra; e nem qualquer homem, especialmente o que usa o nome de Deus, da família e da pátria, possa tratar uma mulher em desespero extremo como seu objeto sexual.
O Brasil já vinha sofrendo duramente com o machismo estrutural e com todo o tipo de exploração do pobre e a violência contra as mulheres, historicamente. Mas tem adoecido severamente com essa “nova política” que se esconde sob uma fachada religiosa, que alimenta os malfeitores em nome de Deus e da pátria, usando a Bíblia para que eles continuem explorando os mais pobres e manterem a mulher como seres inferiores ou como seus objetos de desejo perverso.
Mulheres, o momento urge.
*Colunista