Jessé Souza

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O xadrez do Deep State do lavrado  cujo jogo nem é tão oculto assim

Jessé Souza*

Atentemo-nos ao que afirmou Theodore Roosevelt, o 26ª presidente dos Estados Unidos da América (EUA), que governou aquele país de 1901 a 1909. Ele fez uma aterradora revelação com grande significado para o mundo: “Por detrás do governo ostensivo acha-se um governo invisível, que não deve fidelidade nem reconhece qualquer responsabilidade perante o povo”.

E sentenciou: “Destruir este governo invisível, dissolver esta maligna aliança entre negócios corruptos e política corrupta, há que ser a primeira tarefa de Estado. Este país pertence ao povo. Seus recursos, seus negócios, suas leis, suas instituições, deveriam ser utilizadas, mantidas ou alteradas somente da maneira que melhor atendesse o interesse coletivo”.

O termo cunhado para o que revelou Roosevelt é “Deep State” (Estado Profundo), ou seja, “um Estado dentro do Estado” ou um “governo paralelo” que opera na calada dos bastidores com finalidades ocultas e desconhecidas da população de forma geral, com pautas exclusivamente voltadas para seus interesses na maioria das vezes escusos.

Embora seja possível entrar em uma análise mais ideológica ou ampliar o debate para mesclar os fatos com teorias da conspiração, também é possível trazer a reflexão sobre o Deep State para a realidade local, onde os operadores agem de forma oculta e escusa em benefício político e econômico próprio.

É notória a existência de um “Estado profundo” (mas nem tão oculto assim) que tem agido desde a instituição do Estado, o qual vem se apropriando da política partidária, decidindo os caminhos tomados pelo governo, desviando os recursos que entram fartamente nos cofres estaduais a fim de drená-los para seus negócios e para alimentar seus projetos de perpetuação no poder, passando de pais para filhos, de maridos para esposas.

A cena de um grupo de deputados, no mês passado, atravessando a pé a Praça do Centro Cívico para se aboletarem nas cadeiras legislativas foi a visualização concreta de agentes a serviço desse “governo paralelo”, se movimentando para se acomodarem dentro da nova configuração que estão planejando para o Estado de Roraima, com forças poderosas agindo em favor de interesses de grupos.

Os mesmos de sempre, aqueles que vêm dividindo os nacos do poder e decidindo pela vida das pessoas e o futuro do Estado, estão lutando pela manutenção de um poder que vai além do que o povo acompanha pela mídia. Esses sempre agiram para deixar tudo como está, permitindo que o governo matenha-se travado na luta pelos interesses coletivos, enquanto um governo paralelo flui, transferindo as riquezas para um seleto grupo.

As eleições deste ano terão essa grande batalha pela  manutenção e/ou divisão de poder. O poder oculto mexe as peças, utilizando aqueles que orbitam e se servem do que cai do banquete dos senhores do Deep State do lavrado. Está tudo sendo desenhado, com redivisão de nacos, acomodações partidárias, pai repassando a chave para o filho, marido ungindo a esposa, peças sendo eliminadas para que nada possa dar errado.

O que restou para o povo, até agora, foram desesperança, problemas históricos assombrando, os grandes se tornando mais gigantes que nunca, políticos que sempre estão em busca de seus interesses, os quais são responsáveis pelo engessamento do Estado, enquanto eles se se juntam para acumular mais poder  político e econômico, em um Estado loteado, como se fosse uma capitania heriditária.

Enquanto isso, o tambor toca nas mais longínquas vicinais do interior, largadas historicamente, e nas periferias dos centros urbanos, onde famílias fazem “vaquinha” para correr em busca de atendimento médico particular ou fora do Estado, porque não conseguem uma cirurgia para emendar osso quebrado em acidente de trânsito ou tratar de uma vesícula inflamada.  Ou na periferia da Capital, onde o crime organizado impõe a violência urbana.

E a tendência é esta realidade piorar. Basta olhar o cenário no entorno da Rodoviária Internacional de Boa Vista, que é a entrada da cidade para quem chega de Manaus (AM) e Guiana, onde uma imigração desordenada se amplia, local este que voltou a se tornar uma favela ao ar livre e que teima em alertar os governantes, mas eles  estão muito ocupados jogando o xadrez do Deep State do lavrado.

*Colunista