A baderna e o abandono de uma estrutura que deveria ser exemplo
Jessé Souza*
Há cerca de seis meses, esta coluna comentou sobre a situação do Parque Anauá, no artigo sob o título “Depois do ‘choque de ordem’, é necessário um ‘choque de gestão’ no Parque Anauá”. Tratou-se de uma opinião sobre devolver aquele local de lazer às famílias, considerando que há tempos havia sido abandonado pelo Governo do Estado, somando ao tempo que esteve fechado por causa da pandemia.
Parece que o governo age por demanda, atacando os problemas quando eles ocorrem, em vez de atuar de forma organizada, seja preventivamente ou por meio de ações que foquem nessas questões antigas que se apresentam constantemente, seja qual for o governo. E o Parque Anauá é esse problema recorrente em que se repetem as arruaças por jovens que não querem saber de limites e de respeito a quem quer que seja, inclusive a polícia.
Naquela época, já eram recorrentes confusões que se formavam depois das 18h, quando o momento de lazer das pessoas passava a ser transformado em uma explícita baderna ao ar livre, durante à noite, com paredões de som embalando as aglomerações com muita bebida alcóolica e drogas ilícitas, bem como todos os tipos de transgressões no trânsito e desordem típico de um local sem regras.
Com atraso, o Estado começou a pôr ordem na balbúrdia, quando a Polícia Militar encontrou dificuldades para executar a Operação Paz no Parque. Não se tratava apenas de baderna que impedia as famílias de frequentarem uma lanchonete, restaurante ou um bar ao redor do Lago dos Americanos. O abandono da estrutura alimentava a falta de segurança.
Então, no fim de semana passado, mais um caso de balbúrdia veio à tona, em que a ordem foi desrespeitada e os baderneiros explicitamente impediram um policial militar de continuar sua atuação. Da forma que o vídeo apresenta, mais parecia uma ação isolada de um policial do que mesmo de uma atuação organizada da força policial.
Ou as autoridades passam a agir de forma organizada, impondo as regras naquele local de lazer e esporte, ou novamente os desordeiros continuarão tornando o Parque Anauá em um local fora da lei, em que as famílias não terão mais vez, com os ilícitos passando a ser praticados ao ar livre, como eles fazem em postos de gasolina na periferia, durante a madrugada, como se fossem territórios permissíveis para quaisquer atos.
O cenário de abandono da estrutura do parque acaba contribuindo para que marginais e baderneiros tentem adotar aquele lugar como ideal para suas práticas que desafiam a polícia. A cada crítica, o governo faz uma maquiagem para tentar disfarçar a impressão de abandono, mas tudo volta ao que sempre foi.
O descaso é explícito, a começar pela Praça Renato Hadad, onde as fontes luminosas viraram sucata, mais parecendo um cenário de filme de terror, mesmo ficando de frente para o maior complexo esportivo e de lazer do Estado, a Praça Ayrton Senna, servindo de vitrine para a incompetência administrativa junto com o Ginásio Totozão, que se tornou um monumento do abandono.
E isso não é de agora. Remonta a administrações anteriores. E o cenário segue como se fosse um problema insolúvel, que se soma a obras milionárias de revitalização que foram abandonadas, a desafiar o bom senso e a incentivar que a marginalidade se apodere de um dos locais que deveria ser exemplo de zelo público e de investimento em lazer, esporte e cultura para a Região Norte.
*Colunista