Jessé Souza

A realidade das escolas reflete a grave situacao do ensino publico 13551

A realidade das escolas reflete a grave situação do ensino público

Jessé Souza*

Dois anos com as escolas fechadas não foram suficientes para que a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) organizasse administrativamente a rede estadual de ensino. Sequer conseguiu avançar na reforma dos prédios das escolas nos municípios. Nem o transporte escolar foi providenciado.

A situação que ocorre na unidade escolar da Serra do Tepequém, no Município do Amajari, reflete muito bem essa realidade de descaso com a educação em todo o Estado. Lá existe a Escola Municipal Olavo Bilac que abriga uma turma anexa da Escola Estadual Ovidio Dias de Souza, cuja sede fica na Vila Brasil, onde faltam professores, pessoal de apoio e até merenda escolar.

Com as aulas entrando para o segundo bimestre, a turma da escola estadual anexa em Tepequém não tem sequer professor de Matemática. Uma professora é obrigada a preparar a merenda escolar (quando tem) porque não há merendeira. Na sexta-feira, os alunos foram dispensados porque não havia água no prédio da escola.

O descaso se repete na maioria das unidades no interior e comunidades indígenas. Na semana passada, foi parar na tribuna da Câmara Federal o caso da escola estadual na Comunidade Indígena Manoá, quando foi relatada a situação do gestor que foi exonerado do cargo depois de um vídeo  divulgado nas redes sociais mostrando a situação em que alunos estavam estudando.

As aulas são ministradas de forma improvisada em um barracão aberto com telhas quebradas, com água da chuva caindo do teto, além da falta de carteiras para acomodar toda turma. Em vez de dar uma explicação, a Seed não só exonerou o gestor como também pediu o nome das pessoas que gravaram o vídeo, dando indicação de uma possível represália.

Problemas semelhantes são vivenciados em boa parte das escolas por todo o Estado, cujos alunos voltaram recentemente a estudar de forma presencial. Porém, aqueles que moram no interior e comunidades indígenas ficaram sabendo que continuariam estudando de forma remota porque não havia transporte escolar.

Um absurdo que durante esses dois anos de pandemia com as escolas de portas fechadas os gestores da Educação não conseguiram resolver a situação do transporte escolar, setor este que se tornou um problema crônico em todas as gestões, cercadas por denúncias de irregularidades.

Um parêntese: não se pode esquecer que, durante a Operação Zaragata, em dezembro de 2018, a Polícia Federal prendeu a então deputada estadual eleita Yonne Pedroso (Solidariedade), junto com outras nove pessoas, por suspeita de envolvimento em desvio milionário de verbas para transporte escolar.

De lá para cá, a expectativa era a de que a situação do transporte escolar fosse solucionada definitivamente. Porém, entre o que o governo divulga em seus institucionais e a realidade dos fatos, há uma distância muito grande. Foram gastos milhões para adquirir ônibus para o transporte escolar, mas “esqueceram” de contratar os motoristas.

Além de penalizar ainda mais os estudantes, já sacrificados por não poderem acompanhar as aulas remotas devido à falta de internet e de dispositivos móveis ou computadores, há um flagrante desgaste dos bens públicos diante de dezenas de ônibus colocados sob sol e chuva no pátio da Cidade da Polícia, no bairro Canarinho, zona Leste da Capital.

Infelizmente, esse é atual quadro da rede estadual de ensino, com prédios das escolas em situação precária, falta de professor e sem transporte escolar; e isso em um ano de retomada de ensino presencial em que os gestores sequer sabem como lidar com a situação de evasão e abandono durante estes dois anos de pandemia.

E não se pode prever a superação desses problemas em curto espaço de tempo, em se tratando de ano eleitoral, quando as articulações políticas do governo indicam que a Seed pode ser entregue para um aliado político. E quando a Educação entra em negociações partidárias, como se fosse moeda eleitoral, já sabemos no que isso pode dar. Esse filme assistimos no passado não só com a Educação, mas na Saúde também. 

Que ninguém se engane: estamos diante de um grave problema cujos reflexos serão sentido por anos, os quais precisam ser enfrentados o quanto antes para não prejudicar toda uma geração. Mas quem estará disposto a isso?

*Colunista