Mais um escândalo de pastores que negociavam para ser refletido em ano eleitoral
Jessé Souza*
Não é a primeira vez que pastores evangélicos são flagrados intermediando esquemas dentro do governo Bolsonaro (PL), a exemplo do atual escândalo no Ministério da Educação e Cultura (MEC) revelado pela imprensa com base em áudios vazados que apontam favorecimento a pastores aliados.
Um dos casos que se tornou polêmico no país foi revelado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado, em que o reverendo Amilton Gomes de Paula confessou ter atuado numa negociação para intermediar a venda de vacinas da AstraZeneca em que havia suspeita de tentativa de superfaturamento e cobrança de propina.
Pelo jeito, este caso caiu no absoluto esquecimento, e o que era um grande escândalo acabou sendo abafado com o fim da CPI da Covid, momento em que a mídia deixa de acompanhar o desenrolar dos fatos e passam a não cobrar mais a punição dos envolvidos nos esquemas.
Desta vez, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, que é um dos “terrivelmente evangélico” dentro do governo, admite em um áudio que o Governo Federal deveria priorizar pedidos de liberação de verba de prefeituras nas quais estão envolvidas negociações feitas por dois pastores, Gilmar Santos e Arilton Moura.
Da mesma forma que ocorreu no episódio do pastor que negociava vacina, os envolvidos no escândalo de liberação de verbas da Educação também não possuem cargo no governo, por isso agiam deliberadamente em um esquema informal para conseguir verbas do Ministério da Educação.
Neste caso, Bolsonaro foi citado pelo ministro da Educação, no áudio, como sendo o responsável por orientar a distribuição de recursos para os pastores aliados construírem escolas e igrejas. Isso mostra a existência de uma casta religiosa privilegiada, atentando contra todos os princípios da administração pública e de uma República democrática.
Não é de hoje que pastores tentam comandar a política brasileira sob pretextos de amor à Pátria, à família e a Deus, a exemplo dos pastores midiáticos que têm toda influência possível dentro do atual governo, como se o país não fosse mais um Estado laico. E todos já sabem no que resulta quando o fanatismo religioso se apodera de um Estado.
Há muitos pastores com sede no poder político, que se articulam cada vez mais para transformar seu rebanho em votos. E, vez por outra, algum desses “vendilhões do templo” acaba caindo em desgraça terrena, mostrando que os propósitos não eram exatamente a religião nem Deus, mas os frutos que caem da corrupção na política.
Não se pode esquecer do caso em Roraima que diz respeito ao processo que cassou o deputado Eder Lourinho (PTC) e puniu o ex-deputado federal Airton Cascavel, em que um pastor foi flagrado no esquema da compra de voto, conforme os autos julgados pelo Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR).
Esse é apenas um fato para ilustrar o grande enredo que a opinião pública está assistindo pela imprensa com mais esse escândalo no Ministério da Educação. O pastor que negociava vacina já foi esquecido. Agora, este novo escândalo coloca as pessoas a refletirem sobre o que realmente querem os religiosos que se metem na política partidária e esguelam no púlpito quando são criticados.
E não se pode esquecer que houve um tempo em que as pessoas se aborreciam com as atitudes extremistas de religiosos que queriam apenas converter o pecador; hoje, esses religiosos querem fazer as pessoas a aceitarem seus políticos de estimação no poder.
*Colunista