Jessé Souza

Tempos de beijinhos em criancas e idosos ou de varrer calcadas 13618

Tempos de beijinhos em crianças e idosos ou de varrer calçadas

Jessé Souza*

O vídeo que mostra um pré-candidato varrendo a calçada da casa de uma mulher, que passou a circular nas redes sociais, esta semana, retrata fielmente o que é a velha política em sua máxima potência em plena atividade. Outras situações semelhantes vêm ocorrendo há um certo tempo, uma vez que muitos políticos anteciparam a campanha eleitoral.

Pré-candidatas que nem mais apareciam em Roraima agora estão na periferia de Boa Vista e no interior, com roupas simples e sem maquiagem, beijando e pegando bebês no colo, tirando fotos com idosos e mulheres humildes, a exemplo do que fizeram no passado, andando de bicicleta e simulando ligação em orelhões, como eram chamados os telefônicos públicos.

Para que ninguém incorra em alguma ilegalidade eleitoral, a velha política inovou ao batizar de “pré-campanha” todas as formas antecipadas de pedir voto, assim como outros realizam showmícios igualmente antecipados sob o disfarce de “prestação de contas do mandato”, com sorteios de bicicletas, motos e eletrodomésticos como ventiladores. 

Mas engana-se quem acha que fotos com crianças, vídeos varrendo casa ou comendo comida de pobre são expressões máximas da velha política. Tratam-se apenas de uma prática cínica e demagoga dos que querem se parecer amigos dos pobres e digno de se parecerem humildes, conquistando o voto por uma aparência qualquer.

O cerne da politicalha está nos atos igualmente públicos, mas que não chamam a atenção dos eleitores menos críticos ou sem instrução necessária diante do que é a política. Trata-se das trocas partidárias no apagar das luzes do prazo concedido legalmente pela legislação eleitoral, o que acaba dando legalidade no ato, mas não a honestidade com os seus princípios diante dos mais pobres.

As trocas partidárias têm sido feitas por conveniências, interesses próprios ou mesmo acordos expúrios, envolvendo também o vil metal. Tudo em busca de um mandato a qualquer custo, mesmo ignorando as ideologias partidárias, princípios pessoais antes pregados como sagrados e os anseios de seus eleitores em favor de uma nova política.

Os partidos tornaram-se um produto à venda, cujas negociações compram pré-candidatos que passam a adotar o oportunismo para se darem bem, em um primeiro momento, almejando um mandato para que fatalmente irá servir a esses mesmos negócios perpetuados pela velha política, do que “é dando que se recebe”, o famoso toma-lá-dá-cá, os grandes esquemas e o ciclo vicioso da corrupção.

Nesse grande contexto, o eleitor passa a ser um detalhe, a ser conquistado de alguma forma, seja beijando crianças ou varrendo a casa do eleitor, seja comprando o voto de alguma forma, inclusive com promessa de pagamento futuro, a partir de acordos nunca não cumpridos; ou travestido mesmo na pele de cordeiro, na cara dura.

O anseio de um Estado promissor, que tenha possibilidades reais de vencer seus principais obstáculos, para gerar prosperidades ao trabalhador e aos menos favorecidos, acaba sendo rifado por políticos que visam apenas seus interesses e de seus grupos, com os ricos ficando cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

E o eleitor sempre caindo nas mesmas armadilhas do “tapinha nas costas” ou do “toma aqui o seu cenzinho”.

*Colunista