Sejam todos bem-vindos à velha política da qual nunca saímos
Jessé Souza*
Para aqueles que ficam resumindo a política entre ser de direita e de esquerda, o fim da janela partidária (que se abre somente em ano eleitoral para permitir que parlamentares troquem de partido antes das eleições) mandou um recado: o fisiologismo é quem manda e trouxa é quem acredita em candidatos que alimentam essa guerra dualista.
No Congresso, aproximadamente 130 parlamentares mudaram de partido alegando alguns motivos, como desentendimentos partidários ou alegando que não haveria mais alinhamento da sigla partidária com seus interesses políticos. Porém, ficou bem claro que o maior motivo foi mesmo o interesse pessoal de buscar a reeleição ou, para quem não tem mandato, de viabilizar sua eleição.
No cenário nacional, o troca-troca partidário deixou bem claro que quem manda na política brasileira é o toma-lá-dá-cá, conhecido também como fisiologismo. Isso ficou bem evidenciado com o fortalecimento do Centrão, no Congresso, conhecido por ser um bloco composto por partidos que não defendem uma agenda específica de interesse coletivo ou de minorias.
O Centrão é o típico bloco que está sempre com o governo, desde que ele atenda aos seus pedidos, como vem ocorrendo com o orçamento secreto, negociações para liberação de verbas, cargos e outras benesses em um comportamento fisiológico que abre as portas para a corrupção. Então, essa janela partidária pode ser resumida como o crescimento surpreendente do grupo fisiológico no Congresso.
Quando ainda era candidato, o hoje presidente Jair Bolsonaro (PL) vivia dizendo que não aceitaria esse tipo de negociação com o toma-lá-dá-cá nem se juntaria ao fisiologista Centrão. Dizia que haveria um “nova política”, mas tudo caiu por terra e quem manda hoje na política nacional é o fisiologismo. Essa briga de esquerda e direita é apenas uma lorota para desviar a atenção dos trouxas.
Então, com raríssimas exceções, quando o eleitor ouvir um discurso de político afirmando que trocou de partido por alinhamento ideológico ou por acreditar nas propostas colocadas à mesa, desconfie imediatamente. Os políticos estão sempre visando seus próprios interesses. Eles sequer colocam em discussão essa briga de esquerda/direita.
Outros, em Roraima, trocaram de partido por oferta de dinheiro mesmo, sem levar em consideração ideologia, alinhamento partidário, programa de governo ou proposta de partido.
Bem-vindos de volta à velha política (mesmo que nunca tenhamos saído dele mesmo).
*Colunista