Opinião

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Filósofos e filósofas brasileiras na ágora audiovisual

Matheus Oliva da Costa

Henry Bugalho, um brasileiro residente na Espanha e filósofo com um dos maiores canais de Youtube atualmente, afirmou em vários dos seus vídeos que a importância do debate nas mídias sociais se dá pelo fato de que esses são as nossas ágoras contemporâneas. “Ágora” era um local público nas antigas cidades (polis) gregas em que os cidadãos livres debatiam suas decisões políticas, entre outras coisas. Assim, na visão de Bugalho, as mídias sociais como Youtube, Facebook, Twitter, Instagram e tantas outras seriam um tipo de espaço em que políticas e decisões públicas seriam debatidas – não todas elas e nem sempre, mas, ainda assim, acontecem nesses ambientes virtuais.

Seriam por estes meios que o debate público está ocorrendo no século XXI nas sociedades em que a internet se tornou um elemento comum. Mas, na época dos gregos antigos, os filósofos tinham um papel importante nesses espaços: o de questionar as justificativas e as decisões, cobrando mais coerência, fundamentação ou até apontando para como poderíamos ver por outras perspectivas o que era visto sempre da mesma forma. Algumas vezes isso chegou a lhes custar a vida, como no caso de Sócrates. Passados séculos e milênios, atualmente filósofos são formados em universidades, como no curso de licenciatura em Filosofia da UERR e na especialização em Filosofia da Religião da mesma instituição, só para dar um exemplo local. Sendo assim, onde estão os filósofos e filósofas e o que estão fazendo nessas novas ágoras? Essa é uma questão que envolve o que começou a menos de uma década a ser chamada de “filosofia pública”.

Uma resposta rápida é que você, leitora ou leitor, pode ler textos de filósofos do curso da UERR desde novembro de 2021 aqui na Folha de Boa Vista. Pensando também em outros estados, lembro que há filósofas e filósofos presentes nas mídias brasileiras há algumas décadas, como é o caso da professora do Departamento de Filosofia da USP Marilena Chauí, que influenciou fortemente as críticas à “classe média brasileira”, crítica que desde então é tão forte nos meios da esquerda nacional. Mas durante o final século XX não temos muitos exemplos dos profissionais da Filosofia nas mídias (até onde vai meu conhecimento, pelo menos). Isso mudou no século XXI.

Existem dois formados em Filosofia, mesmo que se vejam mais como artistas, que criaram programas de entrevistas marcantes para a televisão pública brasileira. O primeiro foi Antônio Abujamra, que, em seu antigo programa de entrevistas Provocações, de 2000 a 2015 questionava diretamente seus entrevistados sobre “o que é a vida?” ou “como vai a educação do seu país”, e oferecia respostas ácidas como “a felicidade não é uma ideia velha!?”, “a vida é uma causa perdida”, bem como citava frequentemente Pascal e Dostoievski, só para dar dois exemplos. Pouco depois o filósofo e músico Rogério Skylab criou o programa de entrevistas Matador de Passarinho, que ocorreu entre 2012-2014 com temas fortes, entrevistados majoritariamente da cultura alternativa brasileira, como Nelson Rodrigues Filho ou Arrigo Barnabé, e mesmo com artistas fortemente conhecidos, como Elza Soares. Ao contrário do ácido Abujamra, Skylab apresentava um estilo mais pós-moderno desconstrucionista à la Deleuze, com recorrência de temas musicais, sexuais e qualquer outro tema que pudesse chocar uma visão conservadora de mundo.

Paralelo a tudo isso, alguns personagens públicos formados e até mesmo professores universitários de Filosofia ascenderam nas mídias sociais. Alguns exemplos podem ser: Márcia Tiburi, Viviane Mosé, Luis Felipe Pondé, Mario Sérgio Cortella ou Clóvis de Barros. Alguns deles e delas, como a Márcia Tiburi e L. F. Pondé, participaram ativamente dos debates públicos sobre os temas mais quentes da última década (alguns não tão “novos”): feminismo, rolezinho, comunismo, conservadorismo cristão, existência de Deus, impeachment/golpe contra Dilma, PT, bolsonarismo e tantos outros.

Estes filósofos e filósofas – entre outros intelectuais da História, Economia e de outras áreas – se tornaram formadores da opinião pública atual. Suas ideias, provocações e argumentos se tornaram referências, seja no sentido positivo, seja como o que deve ser rejeitado. Tiburi, do lado da esquerda brasileira, se tornou uma intelectual orgânica no sentido dado por Gramsci, pautando debates sobre mulheres na filosofia, crítica ao fascismo brasileiro ou a importância e atualidade do feminismo. Da mesma forma, Pondé é um dos divulgadores da ideia de ser “conversador nos costumes e liberal na economia”, que acabou se tornando a principal visão política de direita política no Brasil nos últimos anos. Este são dois exemplos de que quando filósofos e filósofas logram seus espaços nas mídias sociais acabam sendo referências de ideias e questionamentos ao público.

Nos últimos cinco anos vemos mais jovens filósofos e filósofas apresentarem podcasts, canas de Youtube e no Twitter em todo o mundo, e não é diferente no Brasil. Temos, por exemplo, o canal de Youtube da Associação Latino Americana de Filosofia Intercultural (ALAFI), que enfatiza a perspectiva intercultural do fazer filosófico; o canal Uma Filósofa por Mês, que, como o nome informa, busca mostrar mensalmente pesquisas sobre filósofas; o Filosofia Acadêmica do pesquisador em Filosofia Elan Marinho, mais voltado à filosofia analítica, com entrevistas, experimentos mentais, leituras comentadas e debates entre posições filosóficas distintas; e o canal Conversações Filosóficas que foca em entrevistas conduzidas por Caio Souto com estudantes e professores de Filosofia, mais focado em Filosofia continental (da Europa) produzida no Brasil. Há, ainda, iniciativas não acadêmicas, de quem deseja dialogar com um público mais amplo sem usar linguagem ou formas acadêmicas, como o canal do filósofo Chiu Yi Chih, o próprio canal do já citado Henry Bugalho e o canal do grupo Nova Acrópole.

Esses são só alguns exemplos de todos os filósofos públicos atuais. Isso mostra, por um lado, que há sim filósofos e filósofas no espaço público não apenas discutindo como também sendo referências de ideias; por outro lado, é gritante que trata-se de um movimento ainda muito recente na história do Brasil, já que a presença de formados(as) em Filosofia começa a ter destaque nas mídias sociais somente no séc. XXI. Comparado com os outros 500 anos de história do país, 22 anos ainda é pouco tempo para que filósofos e filósofas tenham um impacto profundo no público, para além das frases que são repetidas em memes de modo não necessariamente refletido pelo público.

Diante dos fatos de que (1) há filósofos públicos no Brasil e que (2) eles e elas impactam a opinião pública, levanto a seguinte pergunta, para você, leitor ou leitora, buscar responder: a formação em Filosofia é um fator relevante para quem divulga a Filosofia apresentar referenciais de virtudes intelectuais no ambiente público? Em outras palavras: ser formado(a) em Filosofia ajuda para que, quando essa pessoa apareça numa mídia social para discutir uma questão pública, essa mesma pessoa contribua com uma comunicação que esclareça mais os temas discutidos ou que amplie as perspectivas? Ter essa formação auxilia numa postura crítica e mobilizadora do debate público, transformação coletiva de ideias e formação intelectual da audiência? Entendendo virtudes intel
ectuais como habilidades e competências que são exercitadas até alcançar uma excelência, seriam os filósofos e filosofas virtuosas no debate público? Ou, melhor ainda: diante do discurso e da postura desses profissionais da Filosofia, você, leitor ou leitora, tem refletido mais? Pensando melhor sobre sua própria vida? Tem buscado se posicionar de forma mais justa na política do seu país?

Faço votos que as respostas as perguntas anteriores sejam positivas. Afinal, este é um ano de eleição, e ter cidadãos e cidadãs mais bem articulados, com mais justificativas justas para o seu direito e dever público de eleitor, é melhor para todos que vivemos nesse grande conjunto de polis chamado Brasil. Por isso mesmo, você, que me lê agora: busque se fundamentar, leia, converse, elabore argumentos, verifique esses argumentos – tal como filósofos são formados para ser. Caso contrário, alguém, como um político, o fará por você, mas não necessariamente para você.

*Matheus Oliva da Costa é professor do Curso de Filosofia da UERR

A culpa é sempre sua

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Se você é capaz de sorrir quando tudo deu errado, é porque já descobriu em quem pôr a culpa”. (Thomas Jonhes)

Evitar erros é humanamente impossível. Não fosse assim e não estaríamos num processo de evolução. Alguém já disse que: “Errar é humano, insistir no erro é estupidez”. E para não insistir no erro é preciso que o aceitemos como um processo de avanço na racionalização. Então, vamos ser mais inteligentes e aprender a aprender com os erros, sejam nossos ou dos outros. Que é quando paramos de ridicularizar os que erram. O que devemos é incentivá-los a aprenderem com seus próprios erros. Você é dos que riem quando eu digo pra você se olhar no seu espelho interior? Sorria pra você, rindo de você mesmo ou mesma.

Vamos debulhar a espiga. Sejamos mais sinceros conosco mesmo. Nunca menosprezemos o valor que temos. E quando nos conhecemos no que realmente somos, somos capazes para enfrentar os trancos que sempre trazem erros. E se o erro é humano vamos incluí-lo no nosso plano de aprendizado. E não devemos nos esquecer de que isso independe de nossa idade cronológica. E é assim que aprendemos com os filhos, netos e bisnetos. E aproveitando a bola, vou falar de um grupo de professores que me ensinam, todos os dias, coisas atuais, às quais nem sempre lhes dou atenção: são seis filhos, dezessete netos e sete bisnetos. É gente pra dedéu. E você nem imagina o quanto eles me fazem feliz.

Tempo desses fui ao aniversário de um dos bisnetos. Quando cheguei, ele levantou o braço e gritou:

– Ei, vô!!…

Parei. Sorri e respondi:

– É isso aí, cara… Vô… nada de bis, tá?

Rimos e a festa foi muito legal. Sua família é o que mais deve lhe trazer felicidade. Não há como existir relacionamento humano, dentro e fora da família, sem a harmonia familiar. E nesse enrolar da bobina da vida, não podemos deixar de lado a verdade que nos diz que como seres de origem racional, somos todos uma família. E é por isso que somos todos iguais nas diferenças. O que exige que respeitemos as diferenças. O Emerson nos manda esse recado que nos alerta para a racionalidade: “Você é tão pobre ou tão rico quanto o seu vizinho, senão não seria vizinho dele”. E, com certeza, o vizinho a que o Emerson se refere não é o cidadão que mora na casa ao lado da sua, mas o ser humano.

Deixo aqui meu abraço do tamanho do mundo, para minha neta MELISSA. Ontem comemoramos seus quinze anos de idade. Foi uma comemoração que me orgulhou e enriqueceu meu espírito de avô. Um beijão do tamanho do mundo pra você MEL. Eu a amo de verdade, e sinto muito orgulho em ser seu avô. Você é o que eu mereço. Pense nisso.  

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