Jessé Souza

Pacaraima como nau a deriva e o momento para tomar vergonha na cara 13710

Pacaraima como nau à deriva e o momento para tomar vergonha na cara

Jessé Souza*

Não é apenas a imigração desordenada que tornou o Município de Pacaraima um completo caos, na fronteira com a Venezuela, ao Norte de Roraima. Ainda que o impacto com a chegada em massa de venezuelanos seja o principal complicador, a questão política tem um peso muito grande pelo cenário de terra arrasada naquela cidade.

Aos fatos. O prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato  e o vice Simeão Oliveira  tiveram os mandatos cassados pelo Tribunal Regional de Roraima (TRE). Os dois foram condenados por distribuírem cestas básicas e fartos brindes nas eleições de 2020, como kits de higiene, fogões, panelas, ventiladores, liquidificadores e batedeiras, em troca de voto.

Antes disso, o prefeito  foi condenado pela Justiça Eleitoral a pagar a multa de R$ 53,2 mil por divulgação irregular de pesquisa eleitoral. Torquato também foi alvo de denúncia do Ministério Público de Roraima (MPRR) por não realizar concursos públicos e manter servidores comissionados no município.

Além disso, é investigado por desvio de recursos e  superfaturamento em contratos com recursos da educação e combate à Covid-19, em um suposto esquema investigado pela Polícia Federal que apontam desvios na ordem de R$ 10 milhões do caixa da prefeitura.

As investigações indicam suspeita de irregularidades em mais de 20 licitações entre 2019 e 2020, como superfaturamento nos contratos e uso dos equipamentos e servidores da prefeitura para executar serviços que deveriam ser feitos por empresas privadas contratadas pela administração municipal.

Dinheiro que deveria ter sido usado para ações de combate ao coronavírus teria sido desviado para uma rede de postos de combustíveis em Boa Vista, que também teria recebido recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e do programa Criança Feliz, voltado para atender crianças na primeira infância.

Não há como enfrentar uma crise migratória sem precedentes se os políticos daquela localidade não estão cumprindo com o básico em suas obrigações, dispensando todo empenho e esforço à politicalha, que é responsável por  minar recursos públicos para outros fins que não o bem-estar coletivo e minar também forças política para cobrar apoio para a resolução dos problemas.

É bem verdade que as autoridades estaduais e federais deram as costas para Pacaraima, com bem disse um parlamentar em entrevista neste fim de semana, mas não poderia ser diferente diante da forma como aquela cidade está sendo administrada, como uma nau à deriva, com o prefeito cassado e acossado pela PF que o acusa de malversação de recursos públicos.

A falta de representatividade política é tão absurda que os moradores sentiram-se na obrigação de fazer um abaixo-assinado para pedir das autoridades federais que cuidem da situação da BR-174, onde o atoleiro dificulta o tráfego para Pacaraima e ameaça aquela localidade de isolamento. A obra de recuperação daquela rodovia tornou-se um pesadelo sem fim.

É necessário que as autoridades deem uma atenção especial a Pacaraima, largada ao caos administrativo e fustigada pela imigração desordenada, uma vez que não se pode esperar mais nada da Prefeitura. E, mais que nunca, a população precisa tomar vergonha na cara e parar de trocar voto por brindes.

Afinal, os eleitores estão com a oportunidade única de ter  noção do que a venda de voto pode impactar na vida das pessoas. E isso serve também para as comunidades indígenas, que acabam tendo uma responsabilidade muito grande na hora de decidir seus votos. Os fatos estão à mesa.

*Colunista