O tambor está tocando enquanto tremula a bandeira do garimpo em ano eleitoral
Jessé Souza*
A defesa do garimpo em terras indígenas tornou-se a bandeira principal de um grupo que está apostando todas as forças na eleição de pelo menos um representante oficial na bancada federal este ano. Não por acaso, o principal candidato será um dos nomes que vêm sendo citado nas seguidas operações da Polícia Federal.
Como sempre tem ocorrido desde a década de 1980, os garimpeiros vêm sendo usados como massa de manobra por essas lideranças, as quais não apenas prometem aquilo que jamais pode ser concretizado, como a liberação da garimpagem em terras indígenas, bem como fazem uma encenação indo até o Ministério Público Federal (MPF) promover uma pressão midiática.
As investigações da PF têm comprovado que o garimpo ilegal em terras indígenas é sustentado por um poderio econômico que têm raízes e tentáculos na política, no empresariado e no crime organizado. É sabido que, quanto maior é o poder econômico de uma atividade, maior é a influência sobre a sociedade local.
Porém, não há qualquer possibilidade de se negociar ou discutir com esses defensores de garimpo enquanto as máfias estiverem com poder de mando nas frentes de garimpo, com o processo de genocídio dos Yanomami sendo a principal estratégia para avançar definitivamente sobre as terras indígenas a fim de ocupá-las.
A situação do garimpo na Terra Indígena Yanomami, embora seja a mais grave, devido à situação delicada dessas populações indígenas que vivem com pouco ou nenhum contato com a sociedade envolvente, não é a única preocupação. São quatro mil pedidos de autorização para pesquisa e lavra garimpeira em 216 terras indígenas no Brasil.
Há um grande lobby para que o governo possa liberar a mineração em terras indígenas e no entorno delas, sem que o Projeto de Lei 191/2000 seja amplamente discutido no Congresso (deixando de passar pelas comissões), pela sociedade e sem que os povos indígenas possam ser consultados, conforme determina a Constituição.
Com a chegada do ano eleitoral, essas forças que patrocinam e se beneficiam do garimpo ilegal (inclusive pastores foram flagrados pedindo barra de ouro como propina no Ministério da Educação) sentem-se empoderadas para usar o garimpo como bandeira para eleger os coronéis do garimpo para que tenham não somente um representante no Congresso, mas principalmente para se beneficiarem da imunidade parlamentar.
A situação do garimpo ilegal em terras indígenas requer uma atenção especial da sociedade, pois não se trata apenas de um crime organizado que ganhou força, mas também uma ameaça a toda sociedade devido às fortes agressões ao meio ambiente, as quais refletem sobre os principais mananciais de água potável e fonte de sobrevivência de várias populações, a exemplo do que já está ocorrendo em Alter do Chão, no Pará.
Os alertas vêm sendo dados e os fatos estão sendo expostos para que a sociedade entenda que o garimpo ilegal, da forma criminosa que vem sendo realizado, é uma grave ameaça a todos, indígenas e não indígenas, bem como toda a população dos centros urbanos submetida a sérias contaminações pelo mercúrio e sujeita a um crise hídrica sem precedentes em futuro bem próximo.
A ilegalidade não pode prevalecer.
*Colunista