Após muitas vítimas do negacionismo e de teorias bizarras, a verdade emerge
Jessé Souza*
A maioria das mais de 600 mil vítimas do coronavírus, no Brasil, morreu esperando pela vacina, a qual demorou a ser disponibilizada pelo governo brasileiro, depois que um grupo tentava operar um esquema para adquirir vacinas a um preço superfaturado e com valores bem mais altos, cuja intermediação era feita por um pastor.
Depois que a vacina foi disponibilizada, muitos morreram ao não se imunizarem acreditando nas fake news espalhadas por meio de uma guerra ideológica e alimentada por teorias conspiratórias sustentadas por religiões pentecostais, cujos líderes pregavam que a vacina poderia transformar as pessoas em jacaré ou que através dela seria implantado o “chip da besta fera” na população.
As campanhas mentirosas foram intensificadas quando a vacina começou a ser disponibilizada para as crianças, cujas fake news usavam vídeos que mostravam crianças que supostamente morreram depois de tomarem a vacina. Porém, ontem uma divulgação oficial acabou desmentindo as campanhas ostensivas feitas por negacionistas da vacina.
O boletim divulgado pelo Ministério da Saúde informou que não há registro de nenhuma morte de crianças ou adolescentes menores de 18 anos em decorrência das vacinas contra a Covid-19. A constatação ocorreu depois de serem investigados 38 óbitos classificados pelas vigilâncias como decorrentes de eventos adversos graves, descartando qualquer relação com o imunizante.
Atualmente, a vacinação contra a Covid-19 no Brasil é indicada para a população a partir de 5 anos, mas devido a fake news pregadas por religiosos e seguidores do bolsonarismo, muitos pais e mães deixaram de levar seus filhos para se imunizarem contra a doença, o que levou uma baixa taxa de imunização de crianças e adolescentes.
Houve uma verdadeira lavagem cerebral por meio das fake news explorando teorias conspiratórias, entre as quais as mais famosas são: a vacina vai modificar o DNA dos seres humanos; a vacina tem chip líquido e inteligência artificial para controle da humanidade; vacinas estão relacionadas à transmissão de HIV; vacinas criam campo magnético no corpo de quem é imunizado; vacinas não são reconhecidas cientificamente.
Nas populações indígenas, essas mentiras provocaram reações piores, pois essas teorias bizarras acabaram mexendo com mitos e a com a visão das etnias, que passaram a acreditar que a vacina poderia transformar gente em bichos, como jacaré, porco do mato, cobras e outros animais. O estrago dessas mentiras pregadas ao longo da pandemia são incalculáveis e custaram a vida de muitos.
Em tempos de rede social e da guerra ideológica que se vale também da religião, que acabou por desenterrar extremistas, negacionistas e muita gente estúpida, é preciso que as pessoas não se deixem levar pelos oportunistas, que se procriam com a desinformação, a mentira e a manipulação da fé das pessoas a fim de tentar manter uma sociedade refém de alguma forma.
E a questão da vacina é um bom exemplo para analisar o que o negacionismo pode provocar em uma sociedade. Muitas vidas poderiam ter sido salvas se a vacinação em massa tivesse começado cedo, no Brasil, e se muitos não tivessem caído no canto da seria das teorias bizarras, algumas quais foram disseminadas inclusive pelo próprio presidente da República. Mas a verdade sempre prevalecerá.
*Colunista