O fim de onze anos de engabelação política em torno do Linhão de Tucuruí
Jessé Souza*
A assinatura do termo de repasse de R$133 milhões aos povos Waimiri-Atroari, como compensação ambiental para a construção do Linhão Tucuruí entre Amazonas e Roraima, representa o fim de 11 anos de mentira dos políticos em relação a este importante empreendimento para o Estado, especialmente os de Roraima, que se habituaram a colocar nos indígenas a culpa pelo fato de a obra não ter sido iniciada.
Para que a amnésia não contamine as pessoas, é preciso lembrar que o empreendimento foi licitado em 2011, com estimativa de entrar em operação comercial em 2015. Porém, as obras não iniciaram porque os representantes do governo se negaram a negociar com as comunidades indígenas as compensações para mitigar os problemas ambientais que a obra irá provocar nos 715 quilômetros da linha de transmissão dentro das terras dos Waimiri-Atroari.
De lá para cá, prevaleceram a mentira e a recusa em reconhecer o pedido legítimo dos indígenas, inclusive com senadores apresentando emenda e projeto de lei, no Congresso, como forma de engabelação política para tentar atropelar os direitos dos indígenas e ludibriar a opinião pública. Houve até uma bizarra encenação com motosserra para acirrar os ânimos. São estes mesmos políticos que hoje fazem festa querendo aparecer como “pais da criança”.
É importante ressaltar que, em três anos desse atual governo, o entrave deveria ter sido resolvido há muito mais tempo, porém, novamente os representantes do governo tentaram atropelar os indígenas, primeiramente anunciando o início das obras sem ter resolvido a questão ambiental; depois, com a Funai dando o aval para o Ibama emitir o licenciamento ambiental, sem estar definida a compensação ambiental, o que levou o caso para a Justiça.
Com a assinatura do termo de repasse, em Brasília, encerra-se essa década de mentiras lançadas para enganar eleitor besta e alimentar teorias conspiratórias que sempre são usadas pelos políticos a fim de encobrir seus esquemas e suas incompetências. Esse termo se resume a isso: o Governo Federal repassará R$ 90 milhões e o consórcio de empresas que vai executar a obra, R$ 43 milhões. É um valor irrisório diante do grande lucro que a empresa terá com o empreendimento.
Agora, como não haverá motivos para invencionices políticas nesta questão de Tucuruí, em vez de festa os governantes e os parlamentares deveriam estar imbuídos em resolver a grave situação da BR-174, que é urgente e depende de vontade política, além de ser responsabilidade da bancada federal fiscalizar a boa aplicação dos recursos destinados para aquela rodovia.
Ou vão precisar de mais uma década de mentiras para resolverem essa questão?
*Colunista