O risco do bajulador para as organizações
O bajulador é um detentor de um cheque sem fundo: impressiona, mas não tem valor algum
Não temos como ignorar que somos afeitos a elogios, mas não podemos viver em torno deles e criar mundos ou bolhas que acabam nos deixando longe da realidade e nos fazendo esquecer o que é importante e que não pode ser ignorado.
O ex-presidente americano, Barac Obama, tem em uma de suas frases o “encaixe perfeito” quando olhamos com calma para dentro de nossas organizações, em especial quando falamos de trabalho em equipe: “Livre-se dos bajuladores. Mantenha por perto pessoas que te avisam quando você erra”. Essa frase ecoa nos ouvidos dos gestores em todo mundo. Os líderes natos sabem que se cercar de bajuladores é um grande risco na busca dos objetivos, já que não existe conquista sem que desafios sejam encontrados, portanto pessoas prontas para enfrentá-los e não apenas subestimá-los vendendo imagem de mundos ou pessoas ideais. Quem vende mundos ideais pode comprometer a evolução das organizações e de seus colaboradores.
Os setores de gestão de pessoas/recursos humanos devem estar cada vez mais atentas para esse perfil de profissional que busca ocupação a qualquer custo e quando estão dentro da organização colocam suas garras de fora, se escondendo atrás de suas bajulações. As lideranças narcisistas têm facilidade de se relacionar com esse perfil, por esse motivo os setores que selecionam e contratam devem estar imunes a interferência desse “pseudo líder” sobre o processo de recrutamento.
Mas se sabemos quão danosa é a bajulação, por que motivo esse perfil se prolifera nas organizações? Uma pesquisa da escola de negócios da Hong Kong University of Science and Technology indica que a bajulação tem um efeito marcante no cérebro da pessoa bajulada. Mais surpreendente do que isso é a conclusão do estudo de autoria de Elaine Chan e Jaideep Sengupta: quanto mais descarada a bajulação, mais eficiente ela é.
Os autores da pesquisa foram muito cautelosos ao afirmar que puxar o saco funciona, mas foi nessa direção que a pesquisa apontou. Em uma das dinâmicas os pesquisados foram expostos à bajulação insincera e oportunista. Numa delas, distribuíram um folder entre os pesquisados que detalhava o lançamento de uma nova rede de lojas. O material publicitário elogiava o “apurado senso estético” do consumidor. Apesar do evidente puxa-saquismo, o sentimento posterior das pessoas foi de simpatia em relação à rede. Entre os participantes, a medição da atividade cerebral no córtex pré-frontal (responsável pelo registro de satisfação) indicou um aumento de estímulos nessa região. O mesmo ocorreu em todas as situações envolvendo elogios. Vale salientar que na relação comercial essa ferramenta é valiosa e aceita, já que o processo de convencimento do cliente passa pelo encantamento e não existe cliente que não goste de se sentir importante no processo de conquista.
Segundo os coordenadores da pesquisa, a bajulação funciona devido a um fenômeno cerebral conhecido como “comportamento de atraso”. A primeira reação ao elogio insincero é de rejeição e desconsideração. Apesar disso, a bajulação fica registrada, cria raízes e se estabelece no cérebro humano. A partir daí, passa a pesar subjetivamente no julgamento do elogiado, que tende, com o tempo, a formar uma imagem mais positiva do bajulador. “A suscetibilidade à bajulação nasce do arraigado desejo do ser humano de se sentir bem consigo mesmo”. A obviedade e o descaramento do elogio falso, paradoxalmente, conferem-lhe maior força. Segundo os pesquisadores, é a rapidez com que descartamos os elogios manipuladores que faz com que eles passem sem filtro pelo cérebro e assim se estabeleçam de forma mais duradoura.
Outro fator contribui para a bajulação. É o “efeito acima da média”. Temos a tendência de nos achar um pouco melhor do que realmente somos, pelo menos em algum aspecto. Pesquisas com motoristas comprovam: se fôssemos nos fiar na autoimagem ao volante, não haveria barbeiros. Isso vale até para a pessoa com baixa autoestima. Em alguma coisa, ela vai se achar boa, nem que seja em sua incompetência.
Mas se corremos o risco de autoengano com a ajuda do bajulador, como se prevenir? “Desenvolvendo uma autoestima autêntica”. A pessoa equilibrada, que tem amor-próprio, é mais realista sobre si mesma, aceita-se melhor e se torna mais imune à bajulação.
Até agora falamos apenas na relação de líderes e liderados em níveis mais básicos da pirâmide organizacional, mas essa regra infelizmente também está presente na alta gestão. Uma pesquisa das universidades americanas Northwestern e de Michigan, revelou que executivos tendem a subir na carreira com mais facilidade quando adulam os líderes, mesmo não tendo o melhor currículo.
Nessa pesquisa a tática mais eficiente foi a bajulação por meio de um pedido de conselho. Como quem não quer nada, o adulador profissional pergunta ao chefe “como conseguiu fechar um contrato tão bem-sucedido?” e, assim, conquista seu espaço.
Outra ação bastante adotada pelos executivos é fazer elogios aos líderes para seus amigos, já presumindo que eles vão servir de “pombo-correio” e contarão aos chefes tudo que ouviram. Em terceiro, os executivos buscam descobrir as opiniões de seus chefes previamente para, depois, afirmar publicamente que concordam com tal postura. Quem consegue emplacar movimentos mais sofisticados de bajulação, reforçando as semelhanças sociais, políticas ou até religiosas com os colegas, geralmente conseguem alcançar seus objetivos.
Essas táticas, segundo a pesquisa, fazem diferença mesmo. Dados apontam que, se um executivo escolhe um membro do conselho para bajular e, em um ano, consegue executar as três estratégias por, pelo menos, duas vezes, suas chances de ser indicado para o conselho aumentam 68%.
Além das estratégias de bajulação, a pesquisa mostra a importância das relações interpessoais para o desenvolvimento da carreira. Ela aponta também que profissionais das áreas de direito, vendas e política tendem a ter mais talento para a bajulação do que aqueles especializados em engenharia, serviços financeiros e contáveis, já que o cotidiano destes não exige muitos contatos pessoais.
Como pode se observar a “bajulação” é uma ferramenta de crescimento dentro das organizações, mas vou preferir ficar com a citação de Renée Venâncio escreveu: “Chefe que se entrega ao oportunismo dos bajuladores de plantão não sabe incentivar um bom trabalho em grupo, pois este só quer dissimular a sua insegurança, ou esconder a sua incapacidade de liderar pessoas e as suas diferenças. O puxa-saquismo é a ruína da autoestima, é o prejuízo da competência, e é a falência do profissionalismo”. A citação de Renée é a tradução exata sobre a dificuldade causada pelos bajuladores no trabalho em equipe.
“Bendita seja aquele que aprende a admirar, mas não invejar. Seguir, mas não imitar. Elogiar, mas não bajular e liderar, mas não manipular”. Livre-se dos bajuladores ou você terá que bajular muito para chegar aonde você já poderia ter chegado.
Por: Weber Negreiros