Jesse Souza 13882

A Infância como prioridade para um Estado acossado por antigas mazelas

Jessé Souza*

A realização do  1º Encontro da Urban95 no Brasil, que será realizado até hoje em Boa Vista, está  servindo para fazer algumas reflexões não apenas sobre a Primeira Infância, mas também a respeito do que o país quer para o presente das crianças e adolescentes de uma forma geral.  Afinal, aqui estão reunidos prefeitos, vices, secretários e técnicos de 24 cidades brasileiras que compõem a rede Urban.

Com relação à infância, já foi possível identificar um grande problema que surgiu nesses  anos críticos da pandemia, que foi a queda da vacinação em massa de crianças, a ponto de ser tão brusca que pode ser comparada a uma regressão de 30 anos da imunização infantil em dois anos. 

Os prefeitos e prefeitas têm um grande desafio pela frente diante de uma poderosa rede de fake news e do negacionismo que contribuiu para este grande perigo para a infância brasileira – e o Estado de Roraima não está fora dessa realidade. Se quisermos uma futura geração sadia e promissora, este trabalho tem que começar para ontem com relação a devolver para o inconsciente coletivo a importância e urgente necessidade de vacinar as crianças, as quais têm direito a uma imunização contra 17 doenças.

A propósito, o Estado entrou em alerta sanitário depois do caso do bebê venezuelano de 5 meses diagnosticado com meningite infantil. O caso também chama a atenção para o grande desafio que se tornou a migração em massa de venezuelanos para o país, que pode provocar sérios problemas, a exemplo do caso de meningite, e outros desafios para a infância, que é a parte mais vulnerável dentro dessa crise migratória. 

Outra questão a ser observada não apenas pelas prefeituras, como também pelos governos estaduais, é sobre como recuperar o tempo perdido e as regressões no ensino de crianças e adolescentes durante dois anos de pandemia com ensino remoto.    A defasagem soma-se ao abandono e a evasão escolar por crianças e adolescentes que tiveram pouco ou nenhum acesso a qualquer ensino durante o período de escolas fechadas. 

Os problemas não cessaram com a retomada do ensino presencial. E isso pode ser observado pelas recorrentes denúncias publicadas pela imprensa e redes sociais. Em Roraima, as aulas foram retomadas, mas não havia transporte escolar para alunos de zonas rurais e comunidades indígenas.  Quando o transporte foi regularizado, agora os ônibus não conseguem chegar às escolas em vicinais e estradas que se tornaram imensos atoleiros por causa das chuvas. 

Fora os problemas divulgados inclusive pela FOLHABV sobre escolas com problemas em suas estruturas físicas, principalmente no teto desabando.  Dois anos perdidos por causa da pandemia, os quais não serviram para se pensar não apenas em obras de reforma e transporte escolar, mas também de como recuperar esse tempo perdido para todos, especialmente os excluídos digitais que não tiveram acesso à tecnologia para participarem de aulas remotas.

No que diz respeito à rede estadual de ensino, as recentes informações indicam a mudança da titularidade da pasta de Educação, mas visivelmente não como estratégia para encarar os desafios de novos tempos, e sim pensando no ano eleitoral em curso.  Esta pasta, historicamente, foi usada como moeda de troca eleitoral em busca de apoio partidário.  E a pandemia e o ano eleitoral só serviram para escancarar essas mazelas que se enraizaram.

Assim como a Saúde, a Educação precisa ser tratada como prioridade absoluta a fim de garantir à infância e à juventude um presente seguro para que a sociedade possa almejar um futuro promissor.  Embora não fosse o tema específico do evento, essas questões ficaram bem destacadas nas falas de algumas autoridades no

Encontro da Urban95, promovido pela Fundação Bernard Van Leer, instituição holandesa que atua em favor da Primeira Infância.

Essas prioridades precisam estar acima de interesses partidários.  Não é possível mais a sociedade aceitar que a infância e a juventude estejam em risco. Especialmente em um Estado como Roraima, o mais pobre da Federação e que ainda é acossado pela migração desordenada.  Os tempos exigem o fim de antigas práticas e de políticas públicas direcionadas especialmente para a infância.

*Colunista