Jessé Souza

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O poderio que age às sombras e que acaba sendo revelado a cada operação da PF

Jessé Souza*

A continuidade da operação da Polícia Federal no combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, coloca em evidência tudo o que vem sendo dito a respeito dessa atividade criminosa, a qual é bancada por pessoas de grande poder aquisitivo que se valem da imagem do garimpeiro para suas práticas que se misturam à política partidária, como sempre ocorreu em outros tempos.

Conforme as informações divulgadas pela PF, trata-se da segunda fase da operação que visa desarticular uma organização criminosa que atua na extração e comercialização de ouro e cassiterita em garimpos ilegais. As ações se concentram em quatro investigados, os quais fazem parte de um grupo criminoso ligado a uma empresa de táxi aéreo e a outra empresa de poços artesianos. Essas empresas possuem 20 helicópteros para transportar os minérios extraídos da Terra Yanomami.

A forma de atuação é de conhecimento público, que inclui evasão de divisas e lavagem de dinheiro.  A PF informou que o grupo estaria ocultando patrimônio por meio da transferência de bens a terceiros e  fazendo remessa de dinheiro para o exterior com uso de falsa identidade ou por meio de operação de câmbio não autorizada. Até empresa fantasma estaria sendo utilizada para ocultar a movimentação financeira ilícita.

Tudo dentro do que diz o manual de qualquer máfia, inclusive financiando candidatura eleitoral que garante não apenas apoio político ao garimpo ilegal, mas também imunidade parlamentar.  Pela campanha eleitoral aberta e antecipada, o grupo tem muito dinheiro para gastar, inclusive bancando maquinário para limpar estrada de comunidades indígenas a título de “caridade”, já que os governos e o órgão indigenista não fazem seu trabalho.

Como pode ser notado, há muito dinheiro envolvido nas atividades para arrancar o minério das terras indígenas; e muito dinheiro significa também muito poder para atuar não apenas em ações financeiras obscuras, mas também para bancar candidaturas.  Não é à toa que o crime organizado partiu para atuar no garimpo ilegal, pois é uma atividade lucrativa e que se vale do vácuo dos poderes constituídos que não conseguem chegar efetivamente nas mais longínquas terras indígenas país afora.

O garimpo ilegal em terras indígenas tornou-se o retrato de um país leniente e conivente com grupos poderosos que atuam na sombra da ilegalidade, em que até pastores evangélicos não se intimidam em pedir barra de ouro como propina em negociatas com recursos da Educação.  A PF está conseguindo investigar somente uma parte do grande esquema.  Há outros atores da ilegalidade por toda terra indígena que seguem intocáveis, sabedores da burocracia e das deficiências da polícia e dos órgãos fiscalizadores.  É o Brasil!

*Colunista