Um grande alerta que precisa sempre estar ligado para o bem de nosso futuro
Jessé Souza*
A única pauta encampada (de verdade) pela Assembleia Legislativa de Roraima é o apoio incondicional ao garimpo em terras indígenas, mesmo sendo uma atividade ilegal e altamente predatória. Só para se ter uma ideia desse apoio, na semana em que se celebrava o Dia Mundial do Meio Ambiente, 06 de junho, aquela Casa legislativa estava dando apoio ao movimento pró-garimpo.
Durante a semana, reflexões sobre o meio ambiente foram apresentadas, especialmente sobre a crise hídrica que vem assolando o país nos últimos anos, o que tem chamado a sociedade a discutir as ameaças sobre a segurança hídrica. Em Roraima, o garimpo ilegal em terras indígenas é a grande ameaça aos principais mananciais de água potável do Estado.
A atividade garimpeira está ferindo de morte a bacia hidrográfica do Rio Branco, rio este que tem 1.300 km de extensão, o maior de Roraima e o principal afluente do Rio Negro, no Amazonas. Essa bacia cobre 80% do Estado e abriga cerca de 90% da população, sendo imprescindível para a conservação não apenas dos recursos hídricos, mas também da biodiversidade e dos serviços ambientais na Amazônia.
Esse cenário é que deveria estar em debate diante das sérias e reais ameaças à principal riqueza mundial, que é a garantia de água potável para abastecer a atual e as futuras gerações. Enquanto isso, continua o acelerado processo de destruição dos principais mananciais que formam o Rio Branco, sem que isso chame a atenção de nossos parlamentares e das autoridades de uma forma geral.
Sem se preocupar com as discussões sobre o meio ambiente, a Assembleia Legislativa não apenas aprovou o projeto da “lei do garimpo” enviado pelo Governo do Estado, inclusive incluindo a autorização para uso de mercúrio, como vem dando apoio incondicional ao garimpo ilegal, mesmo que este movimento tenha sido tornado uma bandeira eleitoral de um empresário do garimpo investigado pela Polícia Federal.
A real possibilidade de uma crise hídrica vem sendo ignorada, enquanto especialistas alertam que precisa ser pensado sobre como garantir água para as pessoas, proteger o meio ambiente e preservar as diversas atividades econômicas em seu entorno. E isso sem contar com a ameaça de extinção dos povos Yanomami, os quais sofrem duramente as ações predatórias da exploração mineral e o sentimento anti-indígena de boa parte da população.
O momento se tornou decisivo para o nosso futuro, especialmente analisado que, onde a água se tornou escassa, o principal desafio é garantir a segurança hídrica, discutindo como recuperar as bacias hidrográficas, com despoluição de rios, combatendo desmatamento, além da restauração florestal em áreas de nascentes, matas ciliares e as áreas de recarga (responsáveis por infiltrar a água subterrânea, a fim de reabastecer o lençol freático para que essa água possa voltar para o rio).
Neste momento, ainda é possível frear a destruição pelo garimpo ilegal como principal instrumento de preservação de nossa bacia hidrográfica. Se isto não for feito agora, estaremos decretando o início de uma crise hídrica sem precedentes, seja com seca extrema no verão ou chuvas extremas durante inverno. Mas é necessário que as autoridades assumam esse importante papel.
Até aqui, o que temos são apoiadores explícitos do garimpo ilegal, qu8e é a atividade que mais ameaça o futuro de todos. Por isso é necessário estar com este alerta sempre ligado, pois se nada for feito para impedir a acelerada destruição provocada pelo garimpo, teremos uma ferida que pode ficar incurável, como já ocorre nos grandes centros urbanos com a crise hídrica.
*Colunista