Opinião

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  A filosofia a partir da noção de espanto/admiração (thaumázein)

Yane Nogueira Severo Gameiro

Aluna do Curso de Filosofia da UERR

Já dizia Aristóteles em sua Metafísica: “Todos os homens tendem por natureza ao saber”. Os homens, no início como agora, encontram no assombro o motivo para filosofar, porque no início eles se maravilhavam diante dos fenômenos mais simples, dos quais não podiam dar-se conta, e depois, paulatinamente, se encontraram diante de problemas mais complexos, como as condições da Lua e do Sol, e as estrelas, e a origem do universo…

Para Aristóteles, o espanto é o ponto de partida para a formulação de perguntas críticas e racionais e, consequentemente, para a busca por respostas e soluções que possam minimizar ou solucionar definitivamente as questões que geram dúvida, incômodo e desconforto.

Antes ainda de Aristóteles, no diálogo Teeteto de Platão, Sócrates diz qual seria a causa da origem da filosofia e, por consequência, do filósofo: A admiração (thaumázein) é a própria afecção (páthos) do filósofo. Thaumázein pode ser traduzido como a admiração, o espanto, a maravilha, ou, ainda, como o susto.

A admiração é a afecção que o humano sofre ao se deparar com a realidade sensível em constante mutação. A parte sensível do humano é o resultado do encontro de forças que imprimem, por meio dos sentidos, um modo de ser do que aparece à alma.

Os sensíveis se formariam de movimentos que se relacionam: da mudança conjunta de tudo com tudo, de uma formação que pressupõe o outro como elemento constituinte, do fluxo como causa. Tudo nasceria do movimento, ou, melhor, de dois movimentos, sendo um de uma força passiva e outro de uma força ativa, que agiria sobre a primeira. Essas forças podem ou trocar de posição – a ativa tornar-se passiva e vice-versa –, ou se conectarem com outras forças, ou, ainda, a que era ativa em uma relação, tornar-se passiva em outra.

A união entre o sensível e o inteligível é o portador do espanto, pois quem se espanta, admira-se, é a alma. Esse movimento de admirar-se é provocado por uma afecção que a alma sofre por meio do corpo. Ser afetado, ou seja, estar em estado de êxtase, é ser tocado pelo sensível e pelo inteligível, que se tornam conteúdo de análise no ambiente intelectual do filósofo ao distinguir nesta mescla pensamento e percepção.

Assim, de acordo com Aristóteles, o que levou os homens às pesquisas filosóficas foi o espanto. Essa conclusão adveio da procura da atitude que estava por traz da busca pelo conhecimento. A atitude comum verificada foi o espanto com o que acontecia diante de ser, o misto de admiração e complexidade.

Esse espanto provocava e a tentativa de saber o porquê de aquilo acontecer e levava o ser humano à busca do saber. Percebe-se, portanto, que espantar-se está relacionado com o reconhecimento da própria ignorância e foi para fugir dela que os primeiros filósofos se dedicaram à filosofia.

Quando alguém se espanta, conclui-se que ele ainda não tem conhecimento daquilo que viu ou ouviu e o espantou. A partir daí vem a curiosidade e as perguntas a respeito, começa-se a imaginar e isso, igualmente, causa espanto.

Com isso o ser humano se inquieta e vai em busca de respostas, de conhecimento.

O espanto, dessa maneira, é considerado o ponto de partida para uma atitude filosófica. A partir dele, o ser social deixa de ser indiferente à sua realidade, as ações e os acontecimentos geram o espanto e impulsionam uma atitude crítica, racional, contestadora e problematizadora.

Nesses termos, o espanto motiva uma tentativa de compreensão e nesse momento tentamos apreender o que a princípio parecia terrível e incompreensível, e, assim, passamos do espanto para o conhecimento.

Ocorre que nem todos os homens, quando estão perante o espanto, se incomodam, desenvolvem a atitude do querer saber, nem todos são tomados pelo desejo de compreender. E, àqueles que têm essa atitude, denominamos filósofos.

Mas, aqueles que têm essa visão contemplativa e curiosa, necessidade de compreensão, vão olhar com olhar físico na tentativa de conhecer e, por analogia, vai olhar com o olhar da alma, que é conhecimento, intuição, contato que o sábio faz com as coisas.  

Nós contemplamos com os olhos do corpo o que é material, e com os olhos da alma o imaterial, o ideal, e, das duas maneiras buscamos chegar à verdade. A verdade, para os filósofos gregos era atingida pela contemplação.

A partir do momento em que o ser humano conhece o que causou o espanto, este deixa de existir, pois só nos espantamos com o que não conhecemos. Nessa passagem, a razão tenta dominar o máximo possível aquela região que antes seria do espant
o, da admiração. Na medida em que o conhecimento vem à tona, perde-se o espanto, o encanto. Sendo assim, a razão, com sua objetividade, faz perder o espanto.

Podemos trazer aqui o conceito de despertar empregado como uma tomada de consciência súbita a respeito de algo que não era conhecido e que, de repente, passa a fazer sentido, e com isso somos levados, a partir da motivação gerada por esse espanto inicial, a continuar o caminho pelo conhecimento para que, além de desenvolver os questionamentos, possamos nos desenvolver por nós mesmos.

Não espere ser ensinado, busque o conhecimento

Por Bandrui de Gergóvia, autora do livro O Maior Rei Celta

Muitas pessoas permanecem acomodadas dentro de um conhecimento limitado porque estão estudando com um bom professor ou em alguma boa escola. Ficam esperando o professor passar o conteúdo do dia e a escola conceder a nota de aprovação e o diploma ao final. Isso é muito pouco!

É por isso que acabam tendo um desempenho mediano. Medíocre significa “na média”, ou seja, nada de diferente ou excepcional. Pode não ser ruim, mas também não é bom. E por isso mesmo, quem é medíocre nunca será o melhor — porque não consegue nem ser bom o suficiente para se destacar.

Todas as pessoas bem-sucedidas têm essa característica: sentem prazer em aprender e descobrir coisas, e se aprofundar no conhecimento. Isso se deve ao fato de que o cérebro, assim como o corpo, adora exercícios.

Assim como a musculatura do corpo se acostuma com o desempenho em uma atividade física e passa a desejar mais, o cérebro — por causa dos mesmos hormônios — sente prazer quando desafiado para mais e mais aprendizados.

É muito comum ver pessoas sedentárias começarem a fazer uma atividade física leve, como uma caminhada, e depois sentirem cada vez mais vontade de praticar esportes e fazer treinamentos físicos mais intensos.

Também a pessoa que começa a estudar um idioma estrangeiro sempre sentirá vontade de aprender uma segunda língua, e depois uma terceira, e assim por diante.

Depois que um analfabeto digital aprende a dominar seus conhecimentos básicos de computador e internet, passa a querer aprender novos aplicativos, programas e mídias.

Isso acontece porque, assim como o corpo, a mente se vicia em aprender cada vez mais. É um caminho infinito, prazeroso, ilimitável. É um caminho sem volta.

Por isso, não seja medíocre: seja acima da média. Descubra esse prazer de aprender. Não engesse suas asas… Abra espaço em sua vida para o conhecimento e o aprendizado. Liberte-se e voe alto!

Bandrui de Gergóvia é pesquisadora da cultura celta há 36 anos e autora do livro O Maior Rei Celta

Cuidado com a barata

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Nossa maior glória não reside na ausência de fracasso, mas no fato de nos erguermos sempre que fracassamos”. (Confúcio)

Existe coisa mais hilária do que alguém correr, com medo de uma barata? Mas nada é mais natural do que alguém ficar feliz e correr atrás do barato no supermercado. Temos dois exemplos aqui em casa. Um passarinho pequeno, vem todos os dias, divertir sem intenção. Ele chega, pousa na cadeira da dona Salete, e fica, eu acho, mandando mensagens, sei lá pra quem. Só sei é que o canto é o mesmo, e chama a atenção de todos, em casa. Todos correm para a janela para ver o cara cantando. E ninguém faz barulho, para não o espantar.

À noite, logo no iniciozinho, aparece um morcego. Ele entra pela janela, voa por toda a casa, faz piruetas e se manda. O pavor dentro de casa é generalizado. E é aí que eu rio e ninguém sabe por quê. É que esse morcego, aparentemente doméstico, é inofensivo e não está ali para amedrontar. Só está dando o passeio dele. E quem sabe, com inveja do pássaro cantador de cadeira.

Os seres humanos somos assim. Tenho uma neta que morre de medo, de galinha. Ela brinca com os cachorros, mas corre apavorada sempre que aparece uma galinha. Conheço uma senhora que cai pra dedéu, nas caminhadas. Ela tropeça no próprio pé. É uma senhora sadia e forte, mas não faz o menor esforço para se levantar, quando cai. Recentemente assisti a uma de suas quedas. Ela tropeçou, não se sabe em quê. Caiu e ficou deitada. As moças de um salão-de-beleza, que estavam saindo, correram e a ergueram. Assustado o pessoal perguntava se ela estava ferida. Mas na verdade ela não tinha sequer um arranhão. Só não sabia se erguer.

Quantas quedas levamos, mundo a fora, nos nossos tropeços e ficamos, involuntariamente, esperando que os outros nos ergam. Ainda não entendemos que não devemos ficar esperando que os outros façam por nós, o que nós mesmos devemos fazer. E tudo, porque ainda não aprendemos a fazer. Senão não teríamos tropeçado no sonho de sucesso. E como tropeçamos…

Nunca se entregue ao problema. Todo problema tem solução. Mas devemos nos concentrar no fato de que você nunca encontrará uma solução enquanto ficar pensando no problema. Ele chegou porque você tropeçou. Então aprenda a não ficar chutando lata vazia, e vá em frente. Mostre para você, como se aprende com os erros. “Errar é humano, insistir no erro é estupidez”. Certa vez, quando criticaram o Edson porque ele estava errando muito nas experiências com a lâmpada, ele respondeu: “Eu não estou errando. Estou aprendendo como não fazer”. Porque é assim que aprendemos com os erros. Pense nisso.

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