Jessé Souza

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Pesquisa revela o que a população sente na insegurança dos bairros onde moram

Jessé Souza*

O que as pessoas que moram na periferia já sabem no seu dia a dia acabou sendo revelado por uma pesquisa divulgada  pelo Instituto Ideia sobre segurança pública: 62% dos brasileiros relatam algum tipo de ação de facções criminosas em seus bairros. Apenas 9% disseram não identificar nenhuma presença de grupos marginais onde moram e 29% dizem que a atuação criminosa é baixa.

A pesquisa foi encomendada pelo Brazil Forum UK 2022, promovido pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, cujo resultado espelha o crescimento de facções criminosas em todo o país. Em Roraima,  não poderia ser diferente, onde os crimes com claros sinas de execução continuam ocorrendo na Capital e no interior mostrando que há uma guerrilha em curso por disputa de território na venda de droga e poder.

Quem acompanha a crônica policial diariamente pode perceber que boa parte das ocorrências policiais diz respeito ao tráfico de droga, inclusive uma das primeiras notícias do dia de ontem foi a deflagração de uma operação policial pela Força-Tarefa de Segurança Pública de Roraima, integrada pelas polícias Federal, Civil e Penal e pelas secretarias de Justiça e Cidadania e da Segurança Pública.

Três dos mandados de prisão foram cumpridos dentro do presídio roraimense, o que mostra que o crime organizado continua dando ordens mesmo estando detrás das grades, que é um problema antigo e que só foi reduzido a partir de quando houve uma intervenção federal no sistema prisional de Roraima.

Apesar de ser um problema grave, apenas agora a Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania (Sejuc) tenta dar uma resposta com anos de atraso, ao publicar a Portaria Nº 551, de 06 de junho de 2022, criando a Assessoria Especial de Inteligência, que irá exercer atividades de inteligência e contrainteligência, a partir da implantação da Inteligência Penitenciária do Estado de Roraima, a qual ficará responsável por coletar informações sobre organizações criminosas e outras atividades criminosas.

O poder constituído assistiu inerte o crime organizado se expandir para áreas de garimpo ilegal em terras indígenas, onde é praticamente impossível agir por vários motivos, especialmente por essa atuação criminosa ocorrer em áreas remotas onde as autoridades policiais não ousam chegar porque não dispõem de estrutura para isso, muito menos apoio do governo brasileiro.

Enquanto as autoridades ainda tentam se organizar, a guerrilha segue na periferia de Boa Vista e nos municípios do interior, proliferando à luz da imigração desordenada e com maior poderio econômico por parte do crime organizado, cujas lideranças decidiram explorar minério em terras indígenas para bancar suas ações.

Significa que, enquanto for este o cenário de violência e impotência da sociedade, com o crime cada vez mais organizado, nenhuma política de segurança pública irá funcionar no Estado como deveria, pois as polícias ficam “enxugando gelo”, ou seja, atacando os reflexos e não as causas da criminalidade crescente.

E não há perspectiva de que possa partir alguma ação mais contundente dentro da política partidária, pois o Estado de Roraima é bem servido de policiais com mandato nos legislativos. São dois policiais militares (soldado e tenente-coronel) e dois policiais civis na Assembleia Legislativa (agente e delegado), além de um policial federal rodoviário na Câmara Federal. E isso sem contar com um guarda municipal na Câmara de Boa Vista.

Se o crime está organizado e o Estado ainda tenta alguma organização ainda que tardia, os únicos que podem comemorar são os políticos, especialmente aqueles policiais que conquistam mandatos seguidos sem que haja retorno desse grande contingente de parlamentares policiais para devolver a tranquilidade dos cidadãos na periferia. Há algo de muito errado em tudo isso.

*Colunista