O sentido do tempo na Montanha Mágica de Thomas Mann
João Paulo M. Araujo
Professor do curso de filosofia da UERR
Aclamada pela crítica, A Montanha Mágica de Thomas Mann além de um modelo paradigmático de Bildungsroman (romance de formação), é sem dúvida uma obra que traduz os anseios de uma Europa desintegrada, decadente de valores e perspectivas que, por seu turno, não tardaria até a primeira grande guerra mundial. Aliás, Hans Carstop, jovem engenheiro de Hamburgo e personagem central do romance, quando desce do sanatório, no alto dos alpes suíços, onde estava afastado da vida burguesa e do mundo do trabalho para tratar-se de uma enfermidade respiratória, descobre que o continente acabara de entrar em guerra. Nas palavras de Rosenfeld (1994) “a montanha mágica é uma descrição genial de uma vida de irresponsabilidade, de doenças e de morte”. Trata-se de uma expressão viva de um velho mundo forçado a uma transição para o novo cuja temporalidade anunciava os contornos da vida que em nossos dias atuais é lugar comum.
Não pretendo oferecer uma descrição pormenorizada do que representa A Montanha Mágica no campo literário e filosófico, tal empreendimento está além do meu alcance. Aqui contento-me apenas com uma breve e singela reflexão sobre o sentido do tempo em nossa experiência, sobretudo, quando chegamos num lugar que demanda de nós outros hábitos para uma adequada aclimatação. Nossas ações passam a ser condicionadas pelas exigências do lugar e não o contrário. Isso, por sua vez, ocasiona inicialmente uma outra consciência da passagem do tempo, muito embora essa consciência em breve, como veremos, também se dissolverá nas amarras do hábito. Thomas Mann dedicou em A Montanha Mágica um breve capítulo que ele chamou de “Excurso sobre o sentido do tempo”. É sobre esse “excurso” que pretendo discorrer. Para usar a expressão de Rosenfeld, Mann não é apenas um “esteta implacável”, mas, acrescento, ele também é um metafísico implacável quando se trata de filosofia. Apesar de ser um escritor situado no séc. XX, seu espírito filosófico ou ao menos algumas de suas grandes influências (e.g. Schopenhauer e Nietzsche), residem no séc. XIX.
Não é nenhuma novidade que o tempo muito antes de ser objeto das ciências naturais já era objeto da especulação metafísico-filosófica, e muito antes do advento do pensamento filosófico, religioso etc., penso que já era intuído pelo mais primitivo dos homens. Todo mundo já se deparou com a questão “O que é o tempo?”, esta por sua vez, para além de nossas intuições mais imediatas acerca de nossa percepção da passagem do tempo, não é algo tão simples de se responder. Foi Santo Agostinho que chamou atenção para essa perplexidade, para o filósofo africano, quando não lhe perguntavam o que era o tempo, ele sabia perfeitamente do que se tratava, quando lhe perguntavam já não se encontrava à vontade para responder a seus interlocutores. Parafraseado Aristóteles, o tempo é essa misteriosa realidade que continuamente nos escapa, pois, algumas partes já não são, outras estão por ser, mas nenhuma é. Todavia a intuição Aristotélica não falha ao associar a compreensão do tempo como estando ligada a dois elementos, primeiro ao movimento (“O tempo é o número do movimento segundo o antes e o depois”), e em segundo, a alma (entendida por Aristóteles como um sínolo de matéria e forma, princípio vital). Ora, somos nós seres humanos que nos perguntamos sobre o tempo, a pergunta já é constitutiva do nosso lógos.
Em A Montanha Mágica, Thomas Mann chama atenção para o quão estranho pode tornar-se o processo de aclimatação em um novo lugar, especialmente, quando entra em jogo o escrutínio do olhar atento. Trata-se de uma interrupção no curso natural de nossos hábitos, isto é, da vida que levávamos anteriormente. Aliado a isso, Mann enfatiza o papel que muitas vezes o tédio exerce em nossa consciência do tempo. Todavia, ele pontua que a respeito do tédio encontram-se muitos equívocos acerca de sua natureza. Num primeiro momento Mann assinala que é comum a visão segundo a qual “a novidade e o caráter interessante do conteúdo “fazem passar” o tempo, quer dizer, abreviam-no, ao passo que a monotonia e a vacuidade lhe estorvam e retardam o fluxo”. O valor de verdade dessa passagem não pode ser encarado como absolutamente correta, mas apenas num sentido restrito. A vacuidade e a monotonia elencada acima por Mann podem contribuir para tornar nossa consciência do tempo tediosa, todavia, ressalta o nosso escritor, “as grandes quantidades de tempo são por elas abreviadas e aceleradas, a ponto de se tornarem um quase nada”. O nada se revela como ausência de acontecimentos significativos tornando supérfluo todo o curso do tempo.
Os labirintos que a consciência do tempo pode nos incutir revelam outras perspectivas, até então abscônditas, em nossa percepção da passagem do tempo. Dado o truísmo que é a ideia segundo a qual quanto mais ocupado estamos com algo o tempo parece passar mais rápido, Thomas Mann nos convida a pensar que apesar dos conteúdos ricos e interessantes que nos ocupamos despertarem em nós essa sensação de rápida passagem do tempo, se consideramos a partir de uma visão de conjunto, todos esses acontecimentos conferem nas palavras de Mann “peso e solidez ao curso do tempo, de maneira que os ricos acontecimentos passam muito mais devagar do que aqueles outros, pobres, vazios, leves, que são varridos pelo vento e se vão voando”. Assim, aquilo que num primeiro momento julgávamos ter passado muito rápido, na visão de conjunto quando, por exemplo, fazemos uma retrospectiva de um ano bastante produtivo, ficamos surpresos com a quantidade de coisas que conseguimos comprimir e, portanto, realizar dentro daquele período de tempo. Por essa razão, segundo Mann, o que chamamos de tédio seria, na verdade, “uma brevidade mórbida do tempo, provocada pela monotonia”. A intuição que extraímos daí, segue o mesmo caminho da relação entre nossas ocupações e a rápida passagem do tempo, só que de maneira inversa. Aquilo que antes julgávamos como monótono e tedioso do ponto de vista da passagem do tempo, assume na visão de totalidade, algo sem substância, de modo que o decurso do tempo comprime-se de tal forma que nos espantamos. Nas palavras de Mann “quando um dia é como todos, todos são como um só; passada numa uniformidade perfeita, a mais longa vida seria sentida como brevíssima e decorreria num abrir e fechar de olhos”. Em outras palavras, paradoxalmente, por mais associada que estejam nossas ocupações com a passagem rápida do tempo, no final ela revela-se como uma longa vida de ocupações enquanto que uma vida tediosa que, prima facie, pareça se arrastar, ao fim se revelará como uma vida breve, vazia e pobre de conteúdo.
Diante dessas observações Mann chama atenção para o papel do hábito. O hábito é por ele metaforicamente
representado como uma sonolência causada por alguma enfermidade, um enfraquecimento do senso de tempo. Mann correlaciona isso de um lado, com o ritmo acelerado de nossa existência adulta que em suas palavras “se desenrola e foge cada vez mais depressa”, e por outro, com a sensação de vagarosa passagem do tempo durante a infância. Sobre este último, em suas Elegias de Duíno, o poeta alemão Rainer Maria Rilke escreveu algo semelhante: “Oh dias da infância, em que atrás das figuras havia mais do que passado e em que diante de nós não se abria o futuro!”. Trata-se daquela sensação que permeia nossas memórias da infância, onde o tempo carecia de substância e nós parecíamos viver num eterno presente. Além do mais, é na intercalação de mudanças de hábitos, isto é, adquirindo novos hábitos, que podemos segundo Mann, “refrescar a nossa sensação de tempo, para obter um rejuvenescimento, um reforço, uma retardação da nossa experiência do tempo, e com isso, o renovamento da nossa sensação de vida em geral”. Décadas depois expressou Belchior em uma de suas canções “e o que há algum tempo era jovem novo, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer”. Esse rejuvenescimento, essa renovação da vida, Mann associa a mudança de lugar, de clima e de viagens cujo objetivo seria o descanso, o recreio; tudo isso se manifesta como benéfico para a renovação da saúde mental e física.
Mesmo a mudança de hábitos com lugares e climas diferentes associado a renovação, Mann assevera que antes do processo de aclimatação os dias iniciais num lugar novo possuem um curso vagaroso, juvenil, vigoroso e amplo, que por sua vez, duram de cerca de uma semana. Todavia, a medida que vamos nos aclimatando ao novo lugar, começamos a sentir paulatinamente uma contração na passagem do tempo. Assim, afirma Mann “quem se apega à vida, ou melhor, quem gostaria de fazê-lo, talvez note com horror como os dias voltam a torna-se leves e começam a deslizar voando; e a última semana – de quatro, por exemplo – é de uma rapidez e fugacidade inquietantes”. A nossa consciência do tempo que se afigura nova quando passamos uma temporada num lugar diferente também se faz sentir quando retornamos ao nosso lugar de origem e retomamos a nossa rotina. Aqueles dias iniciais que passamos em casa e até mesmo no trabalho também se revelam novos, longos, pouco afetados pelas amarras do hábito. Contudo, logo esses dias voltam a passar com a mesma voracidade de outrora, de acordo com Mann, “a gente se acostuma mais rapidamente a rotina do que à sua suspensão”. Para algumas pessoas cujo o senso de tempo já está dominado pela lassidão, seja em virtude da idade ou por nunca ter desenvolvido essa sensibilidade para a consciência da passagem do tempo, Mann assinala que a sensação do tempo tende a adormecer muito depressa de modo que “já ao cabo de vinte e quatro horas é como se tal pessoa jamais tivesse se afastado do seu ambiente habitual, e a viajem não passasse do sonho de uma noite”.
Em A Montanha Mágica, o jovem Hans Castorp, tem segundo Mann, ideias análogas a essa meta descrição que acabamos de realizar. No romance, esse “excurso sobre o sentido do tempo” ocorre como uma digressão do narrador na tentativa de traduzir o tipo de aclimatação na qual está condicionada a personagem principal. Ainda que a questão do tempo atravesse toda a obra como uma grande malha de pano de fundo, nada mais justo que tecer, mesmo que minimamente, considerações sobre o sentido do tempo na psique da personagem, uma vez que sua estadia no sanatório da montanha em Davos, que inicialmente se tratava apenas de uma visita ao seu primo Joachim que, por sua vez, deveria durar menos de um mês, se estende a uma simbólica temporada de sete anos.
A verdade é sincera
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Fale a verdade, seja ela qual for, clara e objetivamente, usando um toque de voz tranquilo e agradável, liberto de qualquer preconceito ou hostilidade”. (Dalae Lama)
Falar e dizer a verdade é simples. O problema é que nem sempre estamos preparados para a sinceridade. E não conseguiremos falar a verdade se não formos sinceros. Seja qual for a verdade ela deve ser dita, sobretudo, com muito respeito. O que às vezes confundimos. Acabamos dizendo a verdade com arrufos e arrogância. O que não é verdadeiro, claro. Quando dizemos a verdade de modo sincero e civilizado, somos respeitados. E se por acaso sua verdade não for bem recebida, não esquente a cuca. Você fez o que devia fazer. Apoie-se na sua personalidade e não na de quem não o respeitou pela sua sinceridade.
Mas tenha cuidado no fazer. Seja sempre uma pessoa agradável. Nada de preconceitos ou coisas tão tolas assim. Afinal, somos todos iguais nas diferenças. Somos nosso próprio timoneiro. Somos nós, em cada um de nós, que dirigimos o barco da nossa vida. E nessa direção sempre devemos saber para onde vamos. “Todos os caminhos que levam ao sucesso na vida dependem de dois fatores: o pensamento e a vontade”. São nossos pensamentos que nos levam aonde queremos chegar. Porque é onde estamos que vivemos desfrutando o fruto da semente que plantamos.
Seja sincero com você mesmo, ou mesma, em tudo que você faz e diz. Nada é mais prazeroso do que o prazer que sentimos depois de uma verdade dita com civilidade. Seja sempre uma pessoa civilizada no que você, faz ou pensa. São seus pensamentos que lhe dizem o que você realmente é. Pense sempre positivamente. Nunca desperdice seu precioso tempo com negativismo. Porque só quando somos positivos, somos cincerros conosco mesmo. E só somos felizes quando nos respeitamos.
Mantenha seus amigos sempre ao seu lado, independentemente da distância que os separa. Mas sejamos maduros para saber escolher os amigos. Cada um amigo é um vizinho. E é aí que devemos nos lembrar do Emerson: “Você é tão pobre ou tão rico quando o seu vizinho, senão não seria vizinho dele”. E por isso escolha sempre seu amigo, mas sem menosprezar os que não devem estar no grupo. Porque mesmo não sendo seu vizinho, ele está na dele, e você na sua. Nunca deixe de cumprimentar alguém porque acha que ele não é merecedor do cumprimento. Porque o valor do seu cumprimento está em você. Não nos esqueçamos de que só recebemos no troco, o valor do que demos. Então vamos dar o melhor de nós para merecermos o melhor no que recebemos. Mostre-se no seu falar. Seja sincero, cordial e verdadeiro. Pense nisso.
99121-1460