Existe um grande fosso a ser vencido na Educação pós-pandemia
Jessé Souza*
Estudo do Banco Mundial, divulgado ainda março de 2021, com base nas análises sobre o impacto da Covid-19 na educação dos países da América Latina e Caribe, já apontava que 70% das crianças brasileiras podem não aprender a ler adequadamente. Até hoje não sabemos, de fontes oficiais, quais foram os reais impactos negativos provocados pela pandemia na educação roraimense.
Pelas informações públicas que existem, esses últimos três anos (dois de pandemia e mais este em que as aulas iniciaram tardiamente e ainda sem estrutura adequada) nunca mais serão recuperados e seus reflexos serão duradouros especialmente para aqueles que não se adaptaram ou não tinham a mínima estrutura física e financeira para garantir as aulas remotas.
Em vez de as autoridades e especialistas em educação estarem discutindo como amenizar os impactos negativos e recuperar esse tempo perdido, a rede pública de ensino ainda bate cabeça com escolas precisando de reforma de sua estrutura física e como garantir transporte escolar para quem mora na zona rural e no interior do Estado, além de ainda ter que conscientizar sobre a necessidade de se vacinar.
Até hoje não se sabe o número da evasão escolar e desistências durante a pandemia, nem quantas crianças e adolescentes ficaram sem acesso a atividades escolares por falta de um dispositivo, de acesso à internet ou por problemas dentro de casa. A falta de dados para enfrentar esse grande problema é um entrave para que se possam surgir estudos visando construir políticas públicas.
Conforme pesquisa Undime volta às aulas 2021, foram 5,5 milhões de estudantes no Brasil que não tiveram acesso ou que tiveram acesso limitado às atividades escolares. A falta de internet foi uma das principais razões, quando os estudantes não conseguiram acompanhar as atividades de suas casas. No país, 47 milhões de pessoas não têm acesso à internet, segundo estudo do Comitê Gestor da internet no Brasil.
Outro dado aponta que 78,6% foi o grau de dificuldade de acesso à internet registrado pelas redes, uma vez que muitos ainda não têm familiaridade com a internet e seus recursos, inclusive professores. O grau piora em relação aos mais vulneráveis, com maior entraves quanto à conexão, o que contribui para a perda do vínculo escolar e para a evasão, conforme o estudo.
Com base nesses fatos, o período eleitoral que se aproxima precisa colocar a Educação como um setor a ser discutido para que propostas sejam apresentadas a fim de reverter esse quadro extremamente negativo, especialmente para alunos que moram no interior e comunidades indígenas, onde o transporte escolar os impediu de voltar às aulas presenciais e onde a internet é um problema sério.
Para piorar, não se viu nenhum parlamentar levantar esses problemas ou discutir soluções para reverter este quadro. Houve um silêncio profundo sobre a questão educacional, assim como a respeito dos demais setores essenciais. A Saúde só foi discutida por causa de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a qual não se fala mais nada. Até agora o que se ouve bradar mesmo é sobre a defesa barulhenta do garimpo. E nada mais.
*Colunista