Parques aquáticos: de símbolo de inclusão social a sucatas do descaso público
Jessé Souza*
Por muitos anos, os parques aquáticos na Capital e no interior representaram locais não só de encontro de famílias nos fins de semana, mas também ponto de lazer, esporte e eventos culturais para quem mora nos bairros da Capital e em municípios desprovidos desses tipos de atividades. Inclusive, serviam como locais de apoio para projetos sociais desenvolvidos por entidades e organizações não governamentais.
Ainda que os parques aquáticos não fossem oficialmente tratados como locais para se promover a democratização e facilitar o acesso das pessoas mais pobres ao esporte e lazer, eles acabavam representavam isso, pois serviam para proporcionar a crianças e adolescentes um momento para minimizar suas condições de vulnerabilidade social, dando a este público a oportunidade de socialização, além do acesso ao esporte e lazer que eram promovidos nesses locais.
Porém, como tudo aquilo que é bom para os mais pobres acaba não despertando interesses de políticos e governantes por sua continuidade, os parques aquáticos começaram a ser abandonados pelos seguidos governos que vieram depois da administração do governador Ottomar Pinto, o idealizador de tudo isso, atualmente falecido. Muitas vezes, por pura briga política.
E foi assim que o Parque Aquático do Parque Anauá foi se tornando sucata até os dias atuais se tornar um símbolo do descaso do governo com o bem público e com os direitos sociais da população, atentado este ao patrimônio público que contou com as vistas grossas dos órgãos de controle, especialmente o Ministério Público.
No dia 1º de abril deste ano, o Governo do Estado havia anunciado que destinaria recursos na ordem de R$19 milhões para reformar os parques aquáticos e outros espaços de lazer da Capital e do interior. Porém, o governo decidiu vender pelo menos um desses espaços históricos de lazer e cultura dos roraimenses.
Trata-se do Parque Aquático do bairro Asa Branca, na zona Oeste de Boa Vista, cujo valor inicial do leilão foi estipulado em R$ 2.650.000,00, conforme consta no projeto de lei encaminhado para a Assembleia Legislativa, no dia 04 de julho, sem uma justificativa para a venda nem onde será utilizado o valor arrecadado.
É preciso que este projeto do leilão seja avaliado e bem discutido, pois não se pode desprezar a importância desses locais para desenvolver projetos visando garantir acesso das pessoas mais pobres a ações de esporte, lazer e cultura como política pública visando minimizar o quadro de injustiças e também como alternativa para combater a ociosidade e falta de atividades que acabam levando crianças e adolescentes às drogas e à marginalidade.
Obviamente que esses espaços precisam ser bem administrados, para que não se tornem pontos de libertinagem que chegou a reinar no Parque Anauá, até bem pouco tempo, que hoje representa um espaço amplo desperdiçado para que sejam efetivados ações, projetos e políticas de governos e de entidades não governamentais voltados para crianças, adolescentes e jovens, além de incentivar a família para estas atividades.
Não se pode achar que somente mais polícia nas ruas irá resolver a questão da violência urbana. É necessário que haja mais espaços públicos, como foram os parques aquáticos no passado, onde projetos sejam efetivamente desenvolvidos pelos governos, entidades e a iniciativa privada visando projetos de esporte, lazer e cultura como proposta de desenvolvimento humano, que contribuam na formação integral das pessoas e na melhoria da qualidade de vida da sociedade.
É por isso que soa muito estranho essa decisão de começar a leiloar os parques aquáticos como se fossem simples sucatas, a exemplo do que foi feito com a estrutura de ferro da Feira do Passarão, que poderia ter sido preservada como um patrimônio que ajudaria contar a nossa História. Os órgãos fiscalizadores precisam estar atentos a esta movimentação iniciada pelo governo ao enviar o projeto de lei do leilão para a Assembleia Legislativa.
*Colunista