A cachoeira que cai do teto que aponta a necessidade de cobrar os políticos
Jessé Souza*
A crítica situação da única maternidade pública de Roraima, funcionando em uma estrutura improvisada, a qual serviu como Hospital de Campanha durante a pandemia, é o reflexo de como a saúde pública vem sendo tratada ao longo dos seguidos governos. Durante as duas últimas fortes chuvas, o forro da maternidade desabou, formando verdadeiras cachoeiras despencando do teto.
A estrutura da maternidade passou a funcionar debaixo de tendas, cujo custo do aluguel chega a R$12 milhões por ano, enquanto o antigo prédio do Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth passa por uma demorada reforma. Houve um flagrante descaso dos governos em relação à manutenção e reforma do prédio, o qual vinha apresentando sérios problemas e há tempos não proporcionava mais um tratamento digno às parturientes.
Como não se podia mais adiar a reforma, depois de décadas de remendos e seguidos paliativos, a transferência para um local inapropriado só piorou a situação do atendimento às mulheres que vão dar à luz e para os profissionais que lá trabalham. E, hoje, os vídeos mostrando salas alagadas com água caindo do teto e forros desabando revelam a falta de planejamento para garantir o mínimo de conforto às mulheres enquanto a reforma perdurar.
Não se pode esquecer que, bem antes do que estamos vivenciando agora, a única maternidade pública do Estado já foi palco de horror com a morte de dezenas de bebês por infecção hospitalar, no final da década de 1990, quando a opinião pública descobriu o completo desleixo e descaso com que era tratado aquele hospital. Desde lá, nenhuma providência foi tomada para que fosse construída não apenas uma nova estrutura, mas também uma outra maternidade para atender o Estado.
Nem os dois anos de pandemia foram suficientes para se planejar uma estratégia a fim de atender as pacientes em um local adequado para que o prédio do Hospital Materno passasse por obras. E o inverno rigoroso que persiste no Estado acabou por ampliar o sofrimento da população que busca atendimento naquela unidade de saúde.
Os dois anos de pandemia já haviam cobrado dos políticos a obrigação de pensar a saúde pública como prioridade absoluta. Por isso é importante que os eleitores estejam de olho nas propostas apresentadas pelos candidatos para a área de saúde, principalmente porque se sabe que recursos não faltaram para o setor. Era tanto dinheiro que logo surgiram escândalos por causa da corrupção com verbas destinadas para a Covid, inclusive em Roraima.
Não se pode mais admitir que os candidatos disputem o voto dos eleitores sem pensar na saúde pública como prioridade em suas propostas, especialmente no que diz respeito ao compromisso em combater a corrupção e se propor com a boa aplicação dos recursos para se evitar o que estamos passando hoje, com prédios apresentando problemas antigos a qualquer chuva mais forte, ou com uma maternidade improvisada porque os governantes não cumpriram com suas obrigações.
O momento de cobrar é agora, neste momento, quando cada voto é importante nesta disputa eleitoral. As históricas corrupções e descaso com os setores imprescindíveis, como a saúde, também podem ser creditadas na conta do eleitor, que se habituou a vender seu voto. Não custa lembrar que, nas eleições passadas, dois deputados eleitos tomaram posse dentro da prisão.
A cachoeira que cai do teto da maternidade funcionando em local improvisado é um claro exemplo da necessidade de o eleitor assumir suas responsabilidades e que passe a cobrar maior compromisso dos candidatos com a saúde pública, para que haja um basta à corrupção endêmica denunciadas por ex-secretários de Saúde após deixarem o cargo e aos vergonhosos descasos com problemas que nunca são resolvidos, por desleixo ou incompetência.
*Colunista