Jessé Souza

Jesse Souza 14412

O ouro de tolo que reluz e ofusca a mente dos mais desavisados

Jessé Souza*

Enquanto os verdadeiros trabalhadores garimpeiros morrem soterrados, chegam doentes nos hospitais e são assassinados em conflitos, os que realmente lucram com o garimpo ilegal têm dinheiro vivo em casa, com milhões em seus cofres embutidos na parede, desfrutam de vida nababesca na cidade e ainda buscam mandatos eletivos para que continuem com influência na política  em favor de seus negócios. Essa é a realidade que os empresários do ouro ilegal escondem da opinião pública. 

Os garimpeiros não passam de mão de obra barata, muito semelhante ao de uma escravidão no meio da floresta inóspita, cuja missão é rasgar a terra, devastar matas e desviar cursos de rio, sem qualquer garantia de que sairão vivos ou com os bolsos cheios para que possam seguir uma vida tranquila.  Até mesmo as associações que dizem defender o garimpeiro na verdade são entidades patronais, ou seja, estão nas mãos de empresários e seus lacaios.  

Porque, se fosse para defender os pais e mães de família trabalhadores, os garimpeiros já teriam garantia de direitos, no mínimo não precisariam pagar para trabalhar, enquanto os donos de garimpo vivem em mansões, desfilam de aeronaves e nem se preocupam em guardar dinheiro em banco, enquanto seus advogados ficam igualmente ricos, inversamente aos garimpeiros sujeitos a prisões e todos os tipos de privações. 

O projeto que prevê a criação da Frente Parlamentar Ampla de Apoio à Mineração nos Estados Amazônicos, apresentado no Senado, tem essa finalidade de manter tudo do jeito que está, com os donos de garimpo cada vez mais ricos e os garimpeiros cada vez mais pobres, porém iludidos com a promessa de que um dia poderão ser ricos, caso o garimpo ilegal seja regulamentado.  E são essas promessas falaciosas que alimentam esse pobres trabalhadores explorados e enganados.

Não custa lembrar que o autor desse projeto teve uma aeronave em seu nome apreendida em uma operação da Polícia Federal em um garimpo ilegal na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Também não custa refrescar a memória de que se trata do mesmo parlamentar flagrado pela PF escondendo dinheiro em suas roupas íntimas. Como sempre, os políticos defendem seus interesses particulares e dos grupos de grandes mineradores, sem incluir nas suas propostas garantias de direito ao trabalhador garimpeiro, como se eles fossem algo descartável.  

Não se pode deixar de frisar que o garimpo ilegal agora tem um novo dono, que é o crime organizado, onde o trabalhador sempre estará sujeito às leis de quem tem o poder na ponta do dedo no gatilho ou na quantidade de cifras dentro do cofre no quarto de casa.  Mas todos são iludidos de que um dia poderão ser livres e ricos se o garimpo ilegal for reconhecido. No fundo, eles desconfiam que nunca será assim, mas há um reluzente brilho no discurso que ofusca a mente de quem crer no ouro de tolo pregado pelos políticos que estão a serviço de quem tem muito dinheiro para bancar suas campanhas eleitorais. 

*Colunista