Enquanto sangue jorra do teto do HGR, autoridades devem explicação sobre obras e contrato
Jessé Souza*
O caso do sangue e secreções escorrendo do teto do novo anexo do Hospital Geral de Roraima (HGR) acabou por apontar a real situação sobre como as obras são realizadas em Roraima, especialmente quando dizem respeito aos prédios dos hospitais, em que os seguidos gestores não conseguem resolver problemas simples, como goteiras no teto. E a situação não está sendo diferente com o novo prédio do HGR inaugurado em março deste ano.
Uma vistoria feita pelas equipes médica, de diligência e de engenharia do Ministério Público de Roraima (MPRR), no dia 25, não só confirmou a respeito do caso do sangue caindo do teto do novo anexo como apontou a grave situação do prédio, em que a obra apresentou falhas estruturais logo que foi entregue. Significa que empreiteira entregou a obra, que foi recebida e atestada pela Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinf), mas não tardou a surgirem vazamentos na tubulação e infiltração no teto e nas paredes das salas.
Em vez de medidas austeras e urgentes, os problemas foram ignorados e ocultos do público pelas autoridades até a semana passada, quando surgiram as perturbadoras imagens do vídeo. Agora não se tratam mais de conjecturas ou suposições baseadas em compartilhamento nas redes sociais. Desta vez, a Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde do MPRR emitiu relatório da vistoria feita no local confirmando que se tratavam mesmo de sangue e secreções jorrando do teto do novo HGR, na quarta-feira da semana passada, dia 24.
Este caso ocorreu logo após uma nova cena de goteiras no teto que alagaram o HGR durante uma forte chuva. No dia seguinte, o forro do Bloco F do novo anexo desabou com o peso do líquido contaminado em cima da copa onde são preparados alimentos, cujo vídeo com a cena macabra foi divulgado em um grupo de WhatsApp de enfermeiros, mas que logo ganhou ampla repercussão pública pela gravidade da situação.
Conforme o relatório do MPRR, o encanamento do esgoto usado para descartar o expurgo (secreções, sangue e outros resíduos de cirurgias) da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Boco G, no segundo andar, começou a vazar, provocando a queda de parte do forro da copa do Bloco F, no primeiro andar. Como pode ser observado, são erros estruturais básicos, mostrando o descaso e desleixo com que as importantes obras na saúde são tratadas.
Pelo histórico da construção do novo anexo do HGR, esses problemas não deveriam jamais ter ocorrido, diante da polêmica que cercou a obra. Iniciada em 2011, a previsão inicial era ser concluída em 2019, mas foram quase dez anos de construção. O prédio foi inaugurado em março deste ano, tratado como um marco político, após um gasto que pode ter ultrapassado os R$34 milhões. Sem contar que a inauguração foi adiada diversas vezes, o que significa tempo suficiente para uma rigorosa fiscalização e resolução dos problemas.
Agora, o mínimo que contribuinte espera é que as autoridades tomem uma atitude séria em relação a estes recorrentes problemas no teto do HGR e das falhas estruturais do novo anexo do HGR, conforme foi tema do artigo do dia 25 passado, no mesmo dia da diligência do MPRR, sob o título “Enxurrada caindo do teto e um silêncio preocupante sobre contrato para evento festivo”, o qual cobra explicação sobre o contrato feito pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), no valor de R$ 7,6 milhões, com uma empresa de eventos.
Afinal, não se trata apenas de fiscalizar a boa aplicação dos recursos da saúde pública, mas também de cuidar da vida de pessoas, pois, conforme o artigo anterior, mortes ocorreram após o recorrente desabamento do teto do HGR em cima do leito de pacientes. E isso não pode ficar no esquecimento, como as coisas costumam a ocorrer quando se tratam de denúncias envolvendo autoridades.
*Colunista