Passou da hora de se acabar com as filas da humilhação no serviço público
Jessé Souza*
Passam-se os anos, entra governo e sai governo, mas as reformas prometidas para melhorar a máquina pública e agilizar os serviços oferecidos aos contribuintes nunca ocorrem. Um exemplo clássico: a vergonhosa fila para tirar Carteira de Identidade, como se ainda vivêssemos naqueles tempos em que não havia tecnologia, submetendo os cidadãos a situações vexatórias.
Outra cena vergonhosa que não muda é aquela enfrentada por pacientes em busca de consulta médica no antigo Hospital Coronel Mota, que até já mudou de nome, mas não mudou a forma de tratar o cidadão que depende do Sistema Único de Saúde (Sesau). É como se fosse um pesadelo sem fim, enquanto a tecnologia avança, mas não consegue alcançar o método de marcar ou agendar uma consulta médica, aumentando ainda mais o sofrimento de quem já está enfrentando problemas de saúde.
Se a iniciativa privada consegue informatizar a marcação de um exame oftalmológico por meio de um aplicativo, por que o serviço público não? Ou não há interesse dos gestores públicos e dos políticos de uma forma geral em mudar essa realidade ultrapassada de colocar as pessoas na fila e arquivar papéis em armários de aço enferrujados? É inaceitável que seguidos governos não consigam fazer uma verdadeira reforma administrativa e digital para garantir melhor atendimento ao público, de forma mais ágil e sem impor mais sofrimento a quem já está fragilizado por sua condição de baixa renda.
A modernidade permite que uma Inteligência Artificial resolva problemas de clientes de empresas por WhatsApp, mas os governos não conseguem acabar com a burocracia e as longas filas de espera como se ainda vivêssemos na Idade Média, com papeladas infindáveis, gente mal humorada atendendo rispidamente, guichês superlotados e uma grande quantidades de chefes para carimbar e assinar. E a burocracia se mostra um problema sem fim, consumindo recursos públicos cada vez mais escassos.
Já passou da hora de acabar com filas para marcar consultas médicas e para tirar identidade. Elas representam o que há de pior no serviço público roraimense, cujo herança maldita é realimentada a cada novo governo. Não é possível que um dia possa surgir alguém com a capacidade de acabar de vez com essas filas da humilhação e que possam tornar o serviço público digno de um momento em que a tecnologia avança cada vez mais rápido, enquanto os serviços públicos ainda engatinham em um atraso crônico.
*Colunista