Jessé Souza

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Os sinais que mostram o poder da nova geografia do crime na região

Jessé Souza*

Dois fatos que ocorreram na semana passada, um na periferia de Manaus (AM) e outro na Capital de Roraima, acabam por chamar a atenção para a questão da segurança pública no Estado, onde a criminalidade precisa não apenas ser contida, dentro do novo contexto da geografia do crime na Amazônia, como as autoridades necessitam fazer frente ao avanço do crime organizado que monta uma nova hierarquia que avança para a fronteira Norte, aproveitando o fluxo migratório desordenado. 

Um desses fatos revela o controle de certas regiões do Amazonas, como já ocorre nos bairros pobres de Manaus, nas chamadas “áreas vermelhas”, por uma facção que desafia a polícia e os poderes constituídos do Estado vizinho. Informações que circularam nas redes sociais deram conta de que uma facção criminosa foi até um local onde iria ocorrer um comício eleitoral do grupo governista de lá, quando homens armados atearam fogo no palanque, no bairro Colônia Antônio Aleixo. 

E os brandidos ainda divulgaram um aviso nas redes sociais aos moradores: quem fosse pego fazendo campanha eleitoral e tirando fotos com determinado candidato “seria cobrado”. Ou seja, montou-se um poder paralelo que fugiu ao controle por parte das autoridades, cujas lideranças criminosas ditam regras para a população que mora nessas áreas controladas pelo crime, onde o poder público sempre se mostrou ausente não apenas por meio da polícia, mas de suas ações de governo. 

O segundo fato foi a prisão de uma liderança de facção criminosa do Amazonas que trafegava pelo trecho urbano da BR-174, em Boa Vista, dirigindo um carro avaliado em meio milhão de reais. Abordado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), o elemento era procurado pela Justiça e tem na sua ficha criminal a suspeita de 10 homicídios. Ele estava com cinco aparelhos celulares. E isso significa uma conexão do crime organizado em nível interestadual que se articula para aumentar seu poder de atuação na região, uma imensidão geográfica que sofre com a ausência de políticas públicas. 

Dentro de uma nova geografia do crime organizado, é visível que as autoridades perderam o controle da bandidagem no Amazonas e, diante  das informações da violência urbana em Roraima, os fatos mostram uma situação muito semelhante em Boa Vista, avançando cada vez mais para o interior do Estado, onde a presença das polícias estaduais é mínima, mais no sentido de parecer que há segurança em determinados locais do que realmente para fazer frente no combate ao crime.  Se nada for feito, não tardará para que o crime passe a dar ordens em determinadas regiões – se é que isso já não venha ocorrendo. 

Então, torna-se necessário que o intercâmbio entre forças policias sejam intensificadas e melhoradas para frear a sanha do crime organizado. Não basta dizer que se tem o controle de presídios. É necessário tecnologia e inteligência atuando entre as forças policiais, para que o crime seja desarticulado, impedindo a instalação de um poder paralelo como vem ocorrendo no Amazonas, bem como contendo a infiltração de criminosos através da fronteira, fragilizada devido à imigração desordenada. Ou as autoridades assumem essa prioridade na segurança pública, ou até os políticos terão que pedir autorização para fazer campanha eleitoral em um futuro não muito distante, como vem acontecendo em Manaus. 

*Colunista