Opinião

Opiniao 14521

O diabo como ativo eleitoral

Por Gutierres Fernandes Siqueira*

O diabo está em alta na campanha eleitoral de 2022. Recentemente, em um culto evangélico, a primeira-dama Michelle Bolsonaro insinuou que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) é uma providência divina para espantar os adoradores de Satã do Palácio do Planalto. Dias depois, em discurso de campanha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rebateu dizendo: “Se tem alguém que é possuído pelo demônio é esse Bolsonaro”. Nas eleições de 1989, o mesmo Lula era chamado de “diabo barbudo” em algumas igrejas, remontando a ideia medieval de que o diabo tinha barba de bode. Nas palavras dos adversários políticos, “o diabo é sempre o outro”. Da guerra política, agora vivemos no Brasil uma versão aguda de guerra cósmica e maniqueísta do bem contra o mal.

Segundo a leitura cristã da Bíblia Hebraica, a primeira aparição do diabo nas Escrituras aconteceu no Jardim do Éden. No Gênesis, a serpente astuta enganou Adão e Eva que acabaram comendo do fruto proibido. A estratégia da serpente foi simples: convenceu o primeiro casal de que o consumo do fruto não causaria nenhum mal, mas que a proibição de Deus era uma estratégia egoísta do Criador para privá-los do conhecimento libertador. Em um diálogo direto com Eva o diabo disse: “Deus sabe que, no dia em que do fruto comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3:5). Segundo o astuto animal, Deus não estava sendo sincero, mas o Todo-Poderoso proibiu o consumo do fruto para detê-los do conhecimento capaz de torná-los divindades plenas.  O diabo, usando do cinismo e da desconfiança, inaugurou no Éden o fenômeno da pós-verdade.

Na pós-verdade, os fatos não importam, o que importa são as narrativas. Em essência, a pós-verdade é o uso constante e consciente da mentira e do engano para ganhos políticos e de poder. A palavra diabo vem do hebraico satan e do grego diabolos e significa falso acusador, difamador, caluniador e enganador. Nas Escrituras, a mentira é a essência do diabo e o próprio Jesus Cristo disse que o diabo “é o pai da mentira” (Evangelho de João 8:44).

Embora a busca da verdade não seja o objetivo central da democracia, a falta de compromisso com a verdade é uma ameaça constante ao Estado Democrático de Direito. Os regimes autoritários e totalitários desprezam a transparência, a imprensa livre e a prestação de contas porque necessitam do controle de narrativas criando seus próprios “fatos”. Os populistas desqualificam a mediação da mídia porque acreditam que comunicam a “sua verdade” diretamente ao “povo” – todavia, o “povo” na boca do populista é sempre quem o apoia. Os opositores são o “não-povo”; os inimigos da pátria.

Sabemos que a eleição de 2022 será um festival de notícias falsas nas redes sociais (as chamadas “fake news”) e até, infelizmente, nos púlpitos das igrejas. A ampliação dessas notícias é um desafio à democracia e ao Estado de Direito. É aí onde está o diabo. O Satã mora nos detalhes do engano e do autoengano. O diabo da pós-verdade semeia dúvida, desconfiança e cinismo diante do mundo estabelecido. O conhecimento advindo do fruto proibido é o conhecimento que despreza a construção coletiva da verdade. O conhecimento nunca é apenas “a minha verdade”, mas é a soma de análises e descrições promovidas pelas instituições (universidades, imprensa, comunidades, famílias, religiões, judiciário, senso comum, ciência, etc.) e pelo indivíduo no livre pensar.

A serpente semeou no primeiro casal o colapso da confiança e a semente da animosidade. O resultado final foi a expulsão de Adão e Eva do Paraíso e eles passaram a habitar no leste do Éden. Na democracia, o leste do Éden é a tirania, o autoritarismo e a barbárie.    

*Gutierres Fernandes Siqueira é jornalista e teólogo. Autor do livro “Quem tem medo dos evangélicos? Religião e democracia no Brasil de hoje” (Editora Mundo Cristão).

Não basta sonhar e esperar

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Nenhuma vida é mais trágica do que a do indivíduo que acalenta um sonho, uma ambição, sempre desejando e esperando, mas nunca dando uma chance para que aconteça”. (Richard De Vos)

O mundo está repleto de grandes sonhadores que não vão além do sonho. São os que desconhecem a grandeza da ação. Sonham, mas não agem para a concretização do sonho. Sonhar é simples p
ra dedéu. Valorizar o sonho é uma tarefa para os que realmente querem o que sonham. E a ação é o único poder que temos para realizar. Já falamos daquele quadrinho, na parede, da sala do Vereador Tarcílio Bernardo: “quele que fica parado, esperando que as coisas mudem, descobrirá depois, que aquele que não parou está tão adiantado que já não pode ser alcançado”. Sonhadores e visionários existem. A diferença está no que realiza seus sonhos, como um sonhador.

Vamos agir com a consciência de que estamos fazendo o melhor para o crescimento do Brasil. Somos todos responsáveis pelo nosso crescimento como cidadãos. Então vamos sonhar e agir, para que mereçamos a cidadania. E, você acreditando ou não, tudo depende da ação de cada um de nós. Sempre que nos aproximamos de um período eleitoral, preocupo-me. E minha preocupação não é vazia. Desde minha infância que acompanho o andar da política no Brasil. Mas sempre como um observador. Já conheci grandes políticos. Já vi Adhemar de Barros dar um tapa na cara de um cidadão, no centro da Praça da Sé, em Sampa, porque o cidadão o xingou.

É verdade que nosso desenvolvimento não depende só da política partidária. Depende muito da política que há dentro de cada um de nós, quando nos conscientizamos da nossa importância para o nosso desenvolvimento. Então vamos ser mais sensatos, parar de gritar e fazer o que o cidadão deve fazer para merecer ser cidadão. As eleições estão batendo na nossa porta. O importante é que abramos a porta e deixemos a política entrar, mas para uma conversa cidadã. E a conversa cidadã só pode vir do cidadão. Então vamos conversar com os políticos, para que eles acordem para o dever de fazer com que o Brasil seja governado e dirigido por cidadãos.

Não se deixe levar por falatórios aparentemente políticos. Seja um brasileiro de fato e de direito, para poder se orgulhar do País que tem, sabendo que ele, o País, é fruto da sua competência, e do seu amor à Pátria. Veja e analise qual o seu sonho e o realize com a ação cidadã. Mas, só podemos dar o valor que temos. Então vamos nos valorizar para que possamos ser respeitados. E o respeito deve vir, desde o menor município, até o alto do Planalto. Você pode e deve fazer isso. Pense nisso.

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