A importância das estatísticos na Segurança Pública, as quais são negadas à sociedade
Jessé Souza*
Na sexta-feira passada, dia 10, completaram-se três anos da publicação, no Diário Oficial do Estado de Roraima (DOERR), do decreto criando o Sistema Estadual de Estatística de Segurança Pública (Seesp), que deveria reunir dados estatísticos da Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar. Mas, pelo visto, não saiu do papel como deveria, dificultando a sociedade acompanhar os números para medir a situação da violência e da criminalidade em Roraima. E não apenas isso, vale ressaltar.
As estatísticas servem também (e principalmente) para orientar a administração pública a respeito das ações e caminhos a serem tomados para planejar, executar e redirecionar as políticas adotadas para o funcionamento do sistema policial. Sem esses dados, sequer a sociedade organizada consegue acompanhar a realidade da Segurança Pública a fim de cobrar gestores e as autoridades, inclusive os que estão no Legislativo fingindo que estão fazendo algo ou apenas beneficiando suas categorias – ou nem isso.
Não é apenas a falta de dados que impossibilita a construção de políticas públicas. A manipulação de estatísticas sempre foi utilizada por seguidos governos para maquiar a realidade da Segurança, escondendo dados sobre a criminalidade e destacando apenas os pontos positivos para fazer a opinião pública pensar que está tudo bem. Acreditando nos dados fantasiados, principalmente nos institucionais do governo, a sociedade é desencorajada a cobrar por melhorias no combate à violência e no avanço da criminalidade.
Com a internet, ficou um pouco mais difícil esconder os fatos do grande público, pois a verdade das ruas e das delegacias acaba sendo compartilhada nos grupos de WhatsApp, que se tornou o principal instrumento de disseminação de informações do brasileiro. Porém, a ausência de estatísticas esconde a verdade daqueles que formam opinião, os quais precisam garimpar e implorar por dados se quiserem contestar os governos, dificultando o monitoramento para que se cobrem políticas públicas. Isso acaba silenciando cobranças efetivas por parte da sociedade civil.
Se a realidade das ruas compartilhada na internet acabe por mostrar fatias da insegurança, a inexistência de dados (ou a manipulação deles) termina ocultando informações importantes e estratégicas para que se tenha um desenho real sobre onde estão os erros, os acertos e as carências das políticas públicas para a Segurança Pública, além de esconder a verdadeira insegurança a que toda sociedade está submetida, e não apenas uma parte da população em sua bolha na internet.
O exemplo concreto sobre esse assunto foi a divulgação, em julho passado, dos números do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Nele, pôde-se ter uma noção do que as propagandas oficiais mostram e a realidade do aumento da violência apontada pelos números: Roraima é o quarto Estado mais violento da Região Norte. E os dados estavam incompletos, pois não foram apresentadas estatísticas sobre estupro.
Os poucos que puderam comemorar os números divulgados foram os policiais, uma vez que o Anuário não registrou morte de policiais em situação de confronto em Roraima. Portanto, essa é a importância de se ter estatísticas para medir e comparar a situação da Segurança Pública, algo que vem sendo negado por seguidos governos por motivos óbvios já relatados neste artigo. Talvez por isso mesmo não haja pressa para se efetivar o Sistema Estadual de Estatística de Segurança Pública; sequer houve cobrança para que as estatísticas funcionem efetivamente.
*Colunista