Jessé Souza

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Estranhas movimentações, operação da PF e um pagamento milionário feito um relâmpago

Jessé Souza*

As notícias mais recentes da crônica policial vêm mostram abordagens da Polícia Militar, em bairros da periferia de Boa Vista, com a detenção de pessoas com santinhos de candidatos, dinheiro e lista de eleitores, indicando prováveis movimentações da chamada boca de urna (BU), que é a prática de compra de voto já muito conhecida. Até aí, tudo dentro dos conformes, pois comprar e vender voto é um crime eleitoral que precisa ser combatido pela polícia.

Porém, mais recentemente, políticos de oposição começaram a denunciar que a PM estaria sendo usada para monitorar comitês eleitorais e intimidar adversários do grupo governista, inclusive postando vídeos e fotos de viaturas estacionadas estrategicamente perto de escritórios e comitês eleitorais. Embora seja uma denúncia grave, o fato não teve muita repercussão.

Então, ao amanhecer o dia desta quinta-feira, a Polícia Federal deflagrou uma operação que investiga compra de voto que supostamente beneficiaria o grupo governista, cujo provável esquema contaria com a participação de policiais civis e militares, inclusive com busca e apreensão em endereços ligados à campanha do governador Antonio Denarium (PP) e nas propriedades do ex-chefe da Casa Civil do Governo, Disney Mesquita.

Embora sejam casos distintos, juntando esses três fatos é possível supor que realmente há uma atuação muito presente da PM em acompanhar a campanha eleitoral, em prejuízo ao policiamento ostensivo que é tão necessário devido à criminalidade praticada pelo crime organizado em Roraima, que mata, esquarteja e desova corpos em bairros centrais e nas cercanias da cidade.

É fato que a PM seja uma força auxiliar de segurança nas eleições, conforme justifica o governo, mas as curiosas movimentações dos últimos dias e a investigação da participação de policiais em um suposto esquema de compra de voto acabam por revelar uma preocupante situação. São denúncias que precisam ser bem esclarecidas pelas autoridades, pois já tivemos exemplos no passado em que situações semelhantes não terminaram bem.

No mínimo, haveria nesse meio uma conduta proibida, que seria o uso de agentes públicos e de bens públicos para beneficiar a campanha eleitoral. Porém, uma possível participação de policiais em esquema de compra de voto indica algo bem pior, daí a necessidade de a Polícia Federal esclarecer todos os fatos até as últimas consequências.

Até aqui, caminhávamos para encerrar uma eleição dentro da normalidade, mas as últimas notícias remetem a uma grande preocupação. Anterior aos fatos envolvendo policiais e a operação da PF, houve o caso de um pagamento milionário, feita pelo governo, aos donos de um terreno desapropriado ainda no tempo de Território Federal, na década de 1980, mesmo que o processo ainda esteja tramitando na Justiça, conforme esta coluna comentou no artigo de ontem.

E tudo feito às pressas, por meio de um acordo extrajudicial e furando a fila do pagamento de precatórios. Consta nesse acordo extrajudicial que o pagamento da primeira parcela dos R$45,6 milhões só seria feito após a homologação do acordo pela Justiça. Mesmo assim, a parcela de R$23 milhões foi paga e o saque de pelo menos R$19 milhões também foi feito de forma tão relâmpago quanto o pagamento.

Pode parecer que esse fato não tenha nada a ver com a operação da PF e as denúncias de uso da PM para intimidar adversários políticos. Mas as investigações da PF tratam de suposta compra de voto, o que sugere um provável derramamento de muito dinheiro na reta final da campanha.  Logo, tudo pode estar conectado, e as autoridades precisam dar resposta a tudo isso o quanto antes.

Afinal, já foi comentado aqui, em uma coluna anterior que tratava sobre o Linhão de Tucuruí, que o grande mal de Roraima continua sendo a corrupção, a qual precisa ser combatida a todo custo. Senão, jamais iremos alcançar esse sonhado desenvolvimento que é pregado da boca para fora pelos políticos.

*Colunista