O poderio econômico falou alto nas eleições, com uma feira-livre às vésperas do pleito
Jessé Souza*
Infelizmente, a compra de voto rolou solta por todo o Estado até às vésperas da votação, neste domingo. A maior movimentação da feira eleitoral ocorreu na noite de sexta-feira, nos bairros periféricos de Boa Vista, seguindo por todo o sábado. Porém, durante toda a campanha, houve estratégias variadas, como pagamento a quem foi arregimentado por meio de um cadastro prévio e até mesmo para quem atendesse a uma ligação de surpresa que iria confirmar o voto em determinado candidato.
Isso significa que o poder econômico falou mais alto, aliciando boa parte dos eleitores que não titubeiam na hora de vender seu voto por qualquer “Boca de Urna (BU)”, refletindo diretamente na eleição ou reeleição de candidatos que montam seus esquemas em seus devidos currais eleitorais ou onde houver gente interessada em arregimentar eleitores sedentos por levar alguma vantagem em dinheiro vivo em 45 dias.
Houve candidatos que ofertaram até R$600,00 na véspera da votação. Outros ofereceram R$1.500,00 em duas parcelas. Teve até eleitor narrando, na fila da votação, no bairro Cidade Satélite, que teria achado uma nota de R$100,00 grampeada em um santinho lançado na rua durante a madrugada. Ainda houve empresário oferecendo trator para ajeitar estrada de comunidades indígenas e agricultores nas vicinais aonde os governos não chegam.
Valeu até helicóptero de garimpeiro desfilando pela cidade. A propósito, o candidato a deputado federal a favor do garimpo, Rodrigo Cataratas, foi o que mais mostrou poderio econômico, dividindo repercussão de casos de investigação da Polícia Federal por apoio ao garimpo ilegal, ante e durante a campanha, e a prisão dele pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) sob suspeita de compra de votos na reta final da eleição. Ele declarou à Justiça Eleitoral que tem R$4,5 milhões em dinheiro vivo guardado em casa. Não se elegeu, mas arrebanhou mais de 9 mil eleitores.
Esse vale-tudo durante toda a campanha decidiu boa parte dos votos para todos os cargos. Inclusive, na disputa pelo governo estadual, embora o governador Antonio Denarium (PP) tenha decidido a eleição no primeiro turno, os fatos que ocorreram na reta final da campanha indicam que haverá o chamado “terceiro turno”, considerando que houve uma operação da Polícia Federal batendo à porta de seu comitê eleitoral, o que poderá levar a Justiça Eleitoral a decidir se ele poderá ser cassado ou não futuramente.
Isso provocará uma instabilidade que os eleitores roraimenses já conhecem muito bem de tempos passados recentes, o que gera expectativa e tensão em relação a ações judiciais até a decisão final da Justiça, o que pode levar anos até que tudo se resolva definitivamente, provocando uma séria instabilidade política e administrativa. Mas é o que temos diante de tudo o que ocorreu e agora resta esperar o que vai ocorrer até lá.
Apesar de o resultado final da eleição em Roraima ainda não havia sido divulgado oficialmente até a conclusão deste artigo, porém, pelo cenário desenhado, pode-se dizer que teremos mais do mesmo nos legislativos, com raríssimas exceções, com a maioria das renovações podendo ser classificada como uma troca de seis por meia dúzia.
Sem contar que, com a decisão da disputa para a Presidência do Brasil indo para o segundo turno, também iremos ter mais do mesmo na polarização entre esquerda e direita, com os ânimos mais acirrados, uma vez que temos uma votação bem dividida entre Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
*Colunista