Depressão é um perigo silencioso
Saulo Barbosa*
Iniciada no Brasil em 2015, a campanha Setembro Amarelo procura conscientizar a população sobre o suícidio.
Esta conscientização é fundamental, pois a maioria dos casos associados ao problema, tem relação com algum tipo de transtorno mental, como ansiedade e depressão, que podem se manifestar em qualquer fase de nossas vidas.
Além disso, a pandemia da Covid-19 foi determinante para o aumento em 25% de casos de pessoas com ansiedade e depressão, segundo a Organização Pan Americana da Saúde (OPAS).
Em outras palavras, 300 milhões de pessoas sofrem com depressão no mundo.
O período de isolamento e momentos de estresse gerados pela situação podem ajudar a explicar o crescimento significativo de casos, que atingem desde crianças até idosos.
A depressão afeta a qualidade e a regularidade do sono, assim como as atividades diárias de uma pessoa, incapacitando-a muitas vezes a sair de casa, estudar e trabalhar; no pior dos cenários, a depressão leva ao suicídio.
Apesar da existência de tratamentos individualizados, estima-se que menos da metade da população com depressão busca ajuda especializada, seja pelo preconceito – pelo medo de ser taxado de “louco” – seja pela falta de recursos financeiros.
Outro fator é o diagnóstico incorreto, pois nem todos os acometidos por quadros depressivos possuem os mesmos sintomas.
Confundida muitas vezes com uma “tristeza”, a depressão se caracteriza por gerar um desânimo persistente e de grande duração.
De acordo com a OPAS, caso esse tipo de sintoma dure mais que duas semanas, isso é uma forte indicação de suspeita de depressão.
Ao notar esse e outros sintomas, como dificuldade de concentração, insônia, crises frequentes de ansiedade e pensamento suicida, devemos procurar com urgência ajuda de um médico psiquiatra.
Após avaliação e diagnóstico adequado, será ministrado o melhor tratamento medicamentoso, em conjunto com métodos e práticas psicoterapêuticas, que terão como objetivo único a recuperação total da saúde mental.
A continuidade ou mudança do tratamento dependerá unicamente do médico e jamais deverá ser interrompido por vontade própria do paciente.
Alguns casos deverão ter acompanhamento pela vida toda.
Diferente do que muitos julgam, depressão não é frescura e nossa saúde mental deve ser tratada com real atenção e cuidado, assim como fazemos com qualquer problema de enfermidade física que nos afeta.
Expor nossos sentimentos, medos e angústias é fundamental, e buscar auxílio e suporte profissional é o melhor caminho na busca de uma melhor qualidade de vida.
*Saulo Barbosa é médico psiquiatra formado na Universidade Federal do Rio de Janeiro com residência médica em psiquiatria pelo IPUB-RJ. Atende pacientes presencialmente em Minas Gerais, e on-line em todo Brasil e exterior.
O adeus a Mariá
Afonso Rodrigues de Oliveira
“A neve e as tempestades matam as flores, mas nada podem contra as sementes”. (Gibran Khalil Gibran)
O amor é a semente mais forte e poderosa que existe. Nada pode contra ela. Não há como medir o amor. Muitas vezes levamos tempo para entender a grandiosidade do amor. Ontem à noite, estávamos sentados, num papo familiar, quando tudo aconteceu. O Alexandre falou para os do grupo:
– A Mariá não está se sentindo bem. Ela vem ali caminhando com dificuldade.
Quando nos viramos para ver, ela caiu. O Rômulo correu para socorrê-la. Pegou-a no colo e a levou para dentro de casa. Mas quando chegou, ela já estava morta. Ficamos nos lamentando, enquanto o Rômulo cuidava dela. Envolveu-a com um pano branco e a deixou deitadinha, enquanto providenciava algo. Dali a pouco ouvi um barulho debaixo da mangueira, no terreno ao lado. Fui até lá e o Rômulo es
tava cavando o chão, com dificuldade, por falta de ferramenta adequada. Foi uma luta séria, dentro do padrão de qualidade que mostrava o formato da cova. Fomos ajudá-lo.
Era quase meia-noite quando a cova ficou pronta. Rômulo foi até à casa e voltou com a Mariá coberta, enroladinha no pano branco. Colocou-a dentro da cova, cobriu-a com a terra, carinhosamente, e sobre a cova colocou quatro tijolos como proteção. Voltamos para casa, de certa forma emocionados. Tanto pela morte da Mariá, como pelo trabalho exemplar do Rômulo. Tomamos nossos banhos e fomos dormir cheios de sentimentos amorosos, com a falta da Mariá. Antes de dormir fiquei pensando no quanto eu era grosseiro com Mariá. Ela era lindinha, mas chatinha. Mas eu era o único que ficava chateado com as chatices dela. Aí aprendei que o amor não tem limites. Nós é que devemos pôr limites em nossas atitudes diante do amor, seja para um ser humano ou para uma cadelinha lindinha como a Mariá.
A partir de hoje vou prestar mais atenção à família da Mariá, que continua aqui, conosco. Mandela, o pai; Caboca, a mãe, e Tatá e Mary, outra chatinha que me olha com o rabo dos olhos. Mariá pertencia à minha neta, Melissa, que deve estar sentindo muito a falta da Mariá. Vamos prestar mais atenção às diferenças a que assistimos no convívio do ser humano, sobretudo com os cães. Não vamos exagerar, mas ter os cães como companheiros que merecem o amor. E quem ama se dedica. Agora foi que percebi que mesmo um chato implicante com a Mariá, pelos seus comportamentos, vou sentir a falta dela. Amanhã vou bater esse papo com a Melissa, para averiguar o quanto já perdi por não dar mais atenção às mudanças causadas pelo desenvolvimento racional. “Somos todos iguais nas diferenças”. Pense nisso.
99121-1460