Jessé Souza

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Um alerta: máquinas da mentira encontraram uma terra fértil de pessoas de bem

Jessé Souza*

Quando a mídia tradicional era a única maneira de informar e ser informado, em tempos não muitos distantes em que não havia internet com as populares redes sociais, a imprensa era atacada de todas as formas, partindo de todos os flancos, acusada de mentir, manipular e de ser sensacionalista, além de alvo de chacotas a qualquer erro ou deslize, pois, afinal, são humanos produzindo conteúdo.

Obviamente que, em certos momentos, houve excessos e manipulações para favorecer grupos, empresas e políticos, bem com a utilização do sensacionalismo como estratégia em busca de audiência (leitores/ouvintes/telespectadores). É possível encontrar casos que ficaram para a história que se tornaram exemplos de erros grotescos ou de manipulações bem aplicadas a serem evitados para o bem coletivo.

Mas esses casos foram sempre exceções que arranharam a credibilidade de determinados veículos, mas não o suficiente para desacreditar na importância dos meios de comunicação como instrumento para a manutenção da democracia a partir do papel de uma imprensa livre, que é monitorar o centro do poder e possibilitar ao cidadão estar bem informado para que tomem suas decisões.

Porém, com o avanço das redes sociais, a nova realidade começou a revelar que a internet não apenas ampliou e democratizou a forma de produzir conteúdos e receber informações, mas também deixou clara uma perigosa predisposição de pessoas a serem exatamente aquilo que elas acusavam a imprensa:  manipuladoras, mentirosas, preconceituosas e alarmistas.

O segundo turno das eleições brasileiras comprovou que o lamaçal das fake news é muito mais profundo e perigoso do que se imaginava, com pessoas bem instruídas, inclusive professores universitários aí incluídos, criando e compartilhando notícias e informações falsas de forma consciente apenas para defender seus candidatos e suas ideologias.

A mídia tradicional não consegue mais acompanhar essa enxurrada de mentiras a fim de desmenti-las na mesma velocidade que elas são produzidas e manter o cidadão bem informado, trabalhando sua consciência crítica e o alimentando sobre a importância de manter uma sociedade responsável por proteger a democracia e os direitos dos mais fracos.

Isso porque grupos poderosos, que querem manter o controle da sociedade de acordo com seus interesses, descobriram que é possível confundir para dividir e desinformar para enfraquecer, por meio de uma poderosa máquina fabricadora de mentiras em tempo integral, com a contratação de equipes especializadas e formadas por profissionais da comunicação, de marketing, de informática e de manipulação para criar e disseminar conteúdos falsos.

Essa disseminação ocorre não somente pelas redes sociais, mas principalmente pelos grupos de WhatsApp, que se tornaram veículos poderosos de manipulação, os quais se fixaram como a única forma de receber conteúdos por boa parte da população, a qualquer hora e onde a pessoa estiver, uma vez que nem todos criaram o hábito de recorrer a sites jornalísticos confiáveis, e nem os veículos de comunicação dispõem de uma rede de divulgação pelo WhatsApp.

Desta vez, esses criadores e disseminadores de mentiras planejadas encontram não somente pessoas incautas ou predispostas a acreditarem em uma mentira bem contada ou várias vezes compartilhadas, mas agora acharam uma terra fértil de pessoas bem instruídas, com boa formação profissional e educacional, que querem mentiras que as satisfaçam, em favor de seus políticos, de suas ideologias e de seus interesses.

E essas pessoas, que muitas vezes gozam de credibilidade junto ao meio onde vivem, se tornaram poderosas portas de entrada para as mentiras, tudo isso escancarado a partir do segundo turno das eleições. Não se sabe mais o que é verdade ou o que é mentira. Nem o que é meme e o que é conteúdo sério. Os teóricos estão atônitos, enquanto nossa sociedade está sob um grande risco.

Ninguém sabe ainda aonde isso tudo vai parar e quais suas consequências…

*Colunista