Jessé Souza

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Quando bandidos e malandros sentem-se livres na ausência do poder público

Jessé Souza*

O tiroteio na madrugada de sexta-feira para sábado passado, com um morto e dois baleados, no Conjunto Residencial Vila Jardim, no bairro Cidade Satélite, ocorreu em menos de 24 horas da ação do Governo do Estado que inaugurou o Centro de Atendimento Social (CAS), destinado a atender famílias em situação de vulnerabilidade social e risco pessoal naquela localidade.

Supostamente, conforme propaganda anunciada na imprensa, esse serviço contaria com patrulhamento da Polícia Militar por 24 horas, o que não intimidou a ação dos bandidos que dominam aquele setor da cidade desde que as autoridades abandonaram o conjunto habitacional dois anos após inaugurado.

É de conhecimento público que está havendo uma guerra proveniente da disputa pelo tráfico de droga no Vila Jardim, cujo homicídio anterior ocorreu na noite do dia 23 de setembro passado, quando um adolescente venezuelano de 15 anos, suspeito de ser um “olheiro” dos traficantes, foi assassinado a tiros.

A bandidagem age sem controle, com a audácia podendo ser observada na tentativa de homicídio que ocorreu no dia 8 de outubro, quando um elemento baleou um funcionário de um bar no bairro Cidade Satélite, aos arredores do Vila Jardim, indicando um possível acerto de contas. E esse foi “apenas” mais um caso dentre outros que vêm ocorrendo ao longo dos anos.

A ausência ou deficiência da segurança pública é tão flagrante naquele setor da cidade que, na semana passada, um grupo de vândalos, composto por jovens e adolescentes, não só foi flagrado por câmaras de segurança como os próprios elementos gravaram a atuação deles dando chutes para derrubar os portões das residências. Malandragem por pura diversão de quem vive na ociosidade e sente um ar de impunidade.

O desafio de manter a ordem e devolver a tranquilidade para os moradores daquela região tem a ver com a demora para o governo agir, não apenas os anteriores, mas também o atual que deixou tudo correr frouxo nos últimos quatro anos, inclusive com um policial militar assassinado lá mesmo, no Vila Jardim, a tiros, com indicações de estar envolvido com drogas também.

Como nada foi feito, os bandidos se apoderaram de tudo ali, e o serviço do recém-inaugurado CAS, naquele residencial, estará comprometido pela insegurança, mesmo que a PM tenha prometido estar presente em tempo integral, o que é praticamente impossível diante da fragilidade do sistema, o qual não consegue resolver os principais desafio da violência urbana em toda cidade e interior.

É necessária uma ação mais abrangente e contundente, com choque de ordem que precisa incluir a ação do Conselho Tutelar e Juizado da Infância, que precisam agir para impedir a ociosidade de crianças e adolescentes, deixadas sem acompanhamento qualquer enquanto os pais saem para trabalhar, bem como coibir o uso de menores de idade pelo tráfico, cena que se tornou corriqueira entre os imensos blocos do Vila Jardim.

Além disso, torna-se imprescindível um serviço de inteligência para enfrentar o tráfico de drogas e a ação de outros bandidos que escolhem aquele local para morar justamente para se esconder, uma vez que não há o menor controle na maioria dos condomínios, onde traficantes e faccionados se passam de vizinhança das famílias de bem, as quais precisam adotar a lei do silêncio e fingir que nada estão vendo.

Se algo bem amplo e organizado não for feito por lá, o CAS será apenas mais um instrumento obsoleto do governo em meio aos imensos blocos residenciais, algo feito apenas para fingir a presença das autoridades, assim como se tornou inútil um boxe da PM instalado por lá, no passado, que passou a funcionar apenas como um apelo visual, que não metia mais medo nem nos malandros.

*Colunista