A mentira como uma grande preocupação para os rumos de nossa sociedade
Jessé Souza*
Desde quarta-feira da semana passada, dia 19, começou a ser compartilhada, nas redes sociais, um repugnante caso de um bebê de 11 meses de vida abandonado pela mãe no hospital após a criança ter morrido vítima de abuso sexual. Começou a ser desenhado um clamor de internautas revoltados, porém, o motivo da morte não foi abuso sexual, como estava sendo afirmado.
Conforme laudo da polícia, os indícios apontam que a morte foi provocada por negligência e maus-tratos, um fato igualmente repugnante. No entanto, para dar um tom de mais dramaticidade ao caso, começaram a inventar um suposto abuso sexual praticado pelo pai, inclusive com a narração de supostos fatos que só podem ter saído de mentes doentias.
É assim que as fake news (notícias falsas) ganham grandes proporções e influenciam de forma decisiva a vida das pessoas, especialmente em tempo de campanha eleitoral. O caso da criança que morreu vítima de maus-tratos não deixa de ser grave, mas a forma como uma mentira é incluída dentro de um fato mostra os riscos da manipulação da opinião pública.
Esse caso mostra-se importante pelo fato de a mentira partir de pessoas anônimas, seja como resultado de conclusões apressadas ou de má-fé pura e simples com o maléfico propósito de alarmar a sociedade, como se fazia em tempos passados, quando se inventavam mentiras que se tornavam lendas urbanas que resistem ao tempo.
Outro fato preocupante é que as pessoas estão predispostas a acreditarem em qualquer mentira, sem buscar fontes confiáveis ou duvidar do que é criado nas redes sociais sem o mínimo de lastro que garanta confiabilidade, inclusive com essas mentiras compartilhadas por influenciadores irresponsáveis, que não têm qualquer compromisso com a verdade e com o combate à mentira.
É por isso que o cidadão precisa aprender a colocar um antigo conselho dado pelos mais velhos, especialmente pais e mães aos seus filhos nos tempos em que sequer existia internet: “Confie desconfiando”. Precisamos incorporar as novidades e os avanços tecnológicos de forma aberta, no entanto, precisamos também manter um certo conservadorismo para não sairmos acreditando em tudo e em todos.
Nossa sociedade avançou rápido na modernização diante do salto tecnológico, mas tudo leva a crer que não aprendemos nada de um célebre e horripilante episódio que ocorreu em 2014, na cidade carioca de Guarujá, quando a internet sequer mais era uma novidade na vida da maioria das pessoas. Tudo começou quando passou a circular uma informação de que uma mulher andava sequestrando crianças para rituais de magia negra.
Era uma mentira. A mulher Fabiane Maria de Jesus foi espancada até a morte por seus vizinhos e moradores de bairro, depois que eles acreditaram que ela era uma sequestradora de crianças que praticava magia negra. No momento do linchamento, ela segurava uma Bíblia nas mãos. Uma fake news que custou a vida de uma pessoa e alertou o país para o perigo da mentira compartilhada nas redes sociais.
Os fatos apontam para a necessidade de a escola passar a ter uma disciplina, ainda que transversal, sobre fake news e suas consequências, pois nossa sociedade não consegue forças, a partir do senso crítico das pessoas, para criar um filtro que possa evitar que a mentira predomine e mude os rumos de nossas vidas.
Os educadores precisam se preocupar com isso o mais breve possível…
*Colunista