Jessé Souza

Os destruidores do Turismo em Tepequem e o Mirante da Pedra Mao de Deus 14781

Os destruidores do Turismo em Tepequém e o Mirante da Pedra Mão de Deus

Jessé Souza*

Já passou da hora de as autoridades se manifestarem sobre a Serra do Tepequém, o único destino turístico realmente consolidado em Roraima, localizado ao Norte do Estado, no Município de Amajari, que é reconhecido no país e até internacionalmente graças aos esforços da própria comunidade e dos empreendedores. Porque, se dependesse do governo, nada teria avançado.

Quando se trata de investir, apoiar e divulgar, as autoridades fazem corpo mole, ignorando a força de quem vive neste ponto turístico, a despeito de todas as adversidades impostas pelo poder público em todos os níveis de governo e por gente que deseja transformar aquele local em um instrumento de seus próprios interesses.

Recentemente, surgiu até um movimento para interditar definitivamente um dos roteiros mais procurados pelos turistas e visitantes, o Mirante da Pedra Mão de Deus, que é um bloco de rocha que fica suspenso no abismo apontando para a imensidão do vale ao Sul, no mesmo roteiro da Cachoeira do Igarapé do Paiva.

Sem ter usado qualquer instrumento que possa realmente garantir a existência do risco iminente de desabamento, a Fundação Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Femarh) emitiu um relatório recomendando a construção de uma cerca no local para impedir o acesso de pessoas em cima da pedra. É uma decisão açodada, que só mostra uma ânsia de fechar tudo.

Sequer foi usado um drone ou um simples serviço de rapel para se observar a base da rocha, por exemplo. Veja o que diz textualmente o laudo apresentado à comunidade no item 3 sobre Material e Método: “Foram usados para o trabalho em campo: uma pick-up, aplicativo de GPS ‘Alpine Quest’ e Mapa Geológico da Serra, NA ESCALA 1:100.000.”

É como se fosse um trabalho escolar daqueles velhos e bons tempos do ginásio, em que se reúne biografias sobre o assunto para montar a ideia do tema a ser abordado e monta-se uma excursão ao local apenas para confirmar o que dizem os livros ou trabalhos científicos já realizados sobre o assunto. No caso de Tepequém, nunca houve um estudo específico sobre aquela pedra, e os servidores foram lá recebendo diárias.

É assim que tratam o Tepequém, única fonte de renda de centenas de pais e mães de família e um local de referência em Roraima para o contato com a natureza, descanso, lazer e refúgio para muitos que tentam escapar dos inflamados centros urbanos a cada feriado e fim de semana, a exemplo de nossos vizinhos manauaras.

O governo estadual sequer faz sua parte, a começar pela recuperação do asfalto da RR-203, cujo trabalho está paralisado, mesmo não havendo mais inverno, enquanto a buraqueira só aumenta inclusive em trechos já recuperados. O governo municipal não cuida ao menos da única e minúscula praça, que deveria ser um cartão de apresentação ao turista, mas se tornou feia, suja e escura, indigna de um ponto turístico exuberante por natureza.

A questão fundiária é um caso de polícia, quando autoridades do alto escalão do governo local transferiram a Gleba Tepequém ao arrepio da lei, travando o processo de transferência das terras da União para o Estado, provocando uma onda de ocupação para especulação imobiliária, além de prejuízos incalculáveis e transtornos a moradores e empreendedores que não conseguem ter o documento de suas propriedades.

O setor estadual que cuida do Turismo, por sua vez, trata Tepequém não apenas com desprezo, mas também com uma ignorância sem precedentes, optando por colocar fotos do monte venezuelano Kukenan, no Monte Roraima, como sua principal imagem de capa na divulgação sobre o turismo roraimense. É um grande descaso até com o próprio departamento, jogado de um lugar para outro, mostrando a irrelevância do Turismo para a política de governo.

Então, mesmo com um relatório sem provas cabais e sem que tenha sido feito um laudo definitivo, com estudos feitos com equipamentos e instrumentos que possam confirmar o risco iminente de desabamento, surgiu um movimento favorável pelo fechamento do roteiro da Mão de Deus para visitação de turista, mesmo diante de um relatório que não tem nenhum poder para isso.

É necessário, sim, que haja ordenamento na visitação, com limitação de número de pessoas e que se aponte um local seguro, e obviamente delimitado, até aonde a pessoa pode ir para tirar suas fotos, enquanto não sai um laudo preciso apontando o que é necessário ser feito definitivamente. Mas fechar e passar a cerca, como querem sumariamente alguns, é ferir de morte o Turismo em Tepequém.

Importante frisar: o que foi feito é um RELATÓRIO, e não um LAUDO TÉCNICO. É certo que se torna sempre necessário cuidar da segurança e agir com prevenção. Mas fechar o acesso, como querem alguns, não é a atitude correta. Já existem agências de turismo pensando em desistir de Tepequém diante de informações incorretas e do anúncio de um suposto fechamento deste roteiro.

As autoridades precisam agir rápido para se fazer um laudo definitivo, assim como precisam se posicionar sobre os demais problemas urgentes que impedem o desenvolvimento do Turismo em Tepequém, como o problema da estrada, da falta constante de água e energia, iluminação pública precária, regularização fundiária, projeto de apoio ao turismo e aos empreendedores, bem como uma gestão do governo junto a operadoras de telefonia para que haja internet de qualidade naquele ponto turístico.

Há muito o que fazer, mas as autoridades se mostram inertes, como se fosse algo proposital para impedir o avanço do Turismo, cuja geração de emprego e circulação de renda não podem ser controladas nem o dinheiro desviado por políticos corruptos.  Não há outra explicação lógica para este flagrante descaso. Só pode ser…

*Colunista