Operações da PF e as intrincadas conexões com cifras bilionárias provenientes do garimpo ilegal
Jessé Souza*
A Operação da Polícia Federal chamada de Gold Rush, deflagrada no dia 20 passado em Roraima e em mais seis outros estados, só reafirmam o que vem sendo revelado nas seguidas investigações, inclusive a segunda versão desta mesma operação, realizada no dia 02 de agosto deste ano, mostra uma intricada conexão de um esquema bem organizado e milionário.
Na segunda operação, o alvo foi o garimpo ilegal Água Branca, em Itaituba (PA), onde está sediada a empresa Gana Gold (que mudou o nome para M.M.Gold), do empresário milionário Márcio Macedo Sobrinho, um esbanjador de dinheiro que exibe mansões, carros de luxo e festas com artistas regionais, conforme já foi comentado nesta coluna em outros artigos.
A movimentação financeira de Macedo e de seu grupo empresarial revela que, entre os anos de 2020 e 2021, a exploração ilegal de ouro rendeu cerca de R$ 1,1 bilhão somente ao empresário esbanjador. Mas o grupo empresarial liderado por ele teria movimentado cerca de R$ 16 bilhões entre 2019 e 2021. Bilhões!!! Para se ter uma ideia das conexões, parte dos valores proveniente do garimpo ilegal foi lavada em criptomoedas.
Na segunda operação, que teve Roraima como um dos alvos, na semana passada, a PF investiga o grupo sob suspeita de ter movimentado, em 20 estados, mais de R$ 300 milhões provenientes do comércio de ouro ilegal. Inclusive, são investigadas movimentações de uma empresa de limpeza urbana que teria feito depósitos de R$3 milhões, além de uma joalheria de fachada suspeita de movimentar R$ 200 milhões em cinco anos.
É muita cifra que chega a confundir a leitura. Mas todos esses bilhões contabilizados nas seguidas operações policiais teriam origem em garimpos ilegais país afora, incluindo terras indígenas em Roraima e na Venezuela, conforme apontam as últimas operações da PF deflagradas no Estado.
Após a primeira versão da Operação Gold Rush, deflagrada em setembro do ano passado para investigar a extração e o comércio ilegais de ouro, empresários do garimpo investigados tentaram ocultar patrimônio ilícito por meio de movimentações em criptomoedas. O grupo teria alocado moedas digitais em contas de laranjas ou em carteiras frias, conforme relatório da PF (esse é o mesmo grupo dos R$16 bilhões!).
A garimpagem ilegal ganhou força e explodiu a partir da posse do presidente Jair Bolsonaro, que desde quando era candidato mostrava obsessão pelo garimpo, a ponto de já ter assinado oito decretos que beneficiam pequenas e médias mineradoras e facilitam o garimpo ilegal. Um dossiê aponta que Bolsonaro, além de promover o garimpo em terras indígenas, delegou a mineração empresarial aos aliados no Congresso.
Com todo esse interesse pelo garimpo, foi um passo para um dos filhos do presidente, Jair Renan, o mais novo, chamado de Zero Quatro, ser investigado por tráfico de influência e lavagem de dinheiro. A empresa ligada a ele, a Gramazini Granitos e Mármores Thomazini, conseguiu no fim do ano passado 18 alvarás para pesquisar minérios nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do país.
Para se ter uma ideia, um grupo empresarial capixaba, composto por 17 mineradoras, presenteou Jair Renan com um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil, o qual mora com a mãe em uma mansão avaliada em R$2,9 milhões. As investigações apontam outras conexões, mas esses fatos são suficientes para mostrar o poder do garimpo no país.
E tudo isso passando por cima dos cadáveres de indígenas e de garimpeiros pobres, os quais são aliciados para servirem de mão de obra análoga à escravidão e submetidos, no meio da floresta, às ordens de um crime organizado que se apoderou das frentes de garimpos e que conta, inclusive, com milícias armadas que impõem suas próprias leis.
Os bilhões vão para o bolso de empresários ricos e esbanjadores, enquanto aos garimpeiros ficam o sofrimento, a pobreza, as doenças e as mortes. Para os indígenas, por toda violência a que estão submetidos, resta o risco acelerado de genocídio. E a sociedade assiste à destruição do meio ambiente, que poderá provocar graves consequências em um futuro bem próximo, como uma crise hídrica sem precedentes na Amazônia.
*Colunista