Investigações mostram um poder paralelo poderoso, enquanto o governo se enfraqueceu
Jessé Souza*
A Folha de São Paulo deu detalhes, em matéria postada na tarde de terça-feira, 08, sobre as investigações em torno de um grupo suspeito de movimentar R$ 200 milhões em dois anos, sendo boa parte dos valores proveniente do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. O caso ganhou repercussão a partir de uma prisão determinada pela Justiça Federal em Roraima, no sábado, 05.
Com concordância do Ministério Público Federal (PF), o pedido de prisão foi feito pela Polícia Federal, que cumpriu a ordem judicial contra Celso Rodrigo de Mello, que é filho do empresário de garimpo conhecido como Rodrigo Cataratas, o qual concorreu ao cargo de deputado federal nas eleições deste ano. Ele é apontado pela PF como líder do grupo suspeito da movimentação milionária.
Conforme o pedido de prisão cumprido pela PF, detalhado pela Folha de S. Paulo, as investigações apontam para novas transações suspeitas e cita um acidente envolvendo um helicóptero do grupo que resultou na morte de duas pessoas, cuja aeronave era alvo das investigações da PF por ser utilizada para o transporte de pessoas e de ouro extraído da terra indígena.
Esse helicóptero chegou a ser apreendido em 2021, mas foi devolvido em janeiro de 2022 ao grupo por ordem da juíza federal Maria do Carmo Cardoso, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), o qual voltou a ser utilizado mesmo com o certificado de aeronavegabilidade cancelado. O acidente ocorreu em julho, quando duas pessoas morreram, uma delas um piloto que já era investigado.
A matéria do jornal paulistas traz outros detalhes sobre as investigações e a relação com outros fatos. Mas o importante a destacar são as cifras e as movimentações que vêm sendo apontadas pela PF desde outubro de 2021, quando o grupo em questão foi alvo da primeira fase da operação Urihi Wapopë, que investiga o garimpo ilegal na Terra Yanomami.
Apesar das investigações, as atividades do garimpo ilegal nunca cessam por toda a região, inclusive com a divulgação pela imprensa de seguidos acidentes com pequenas aeronaves que fazem voos para a terra indígena e para garimpos igualmente ilegais do outro lado da fronteira, na Venezuela.
Os fatos só reforçam o grande desafio do próximo governo em frear a escalada do garimpo ilegal que só aumentou nos últimos quatro anos. Não se pode falar em regularizar a mineração no país enquanto não for minado o poder da ilegalidade que comanda a extração ilegal de ouro especialmente na Amazônia.
Um poder paralelo se estruturou na mesma medida em que o governo perdeu todas as suas forças para fazer frente a esta nova realidade, ainda que a PF tenha atuado fortemente para investigar as ações dos empresários do garimpo em terra indígena. O poderio econômico e político é muito forte, o que tem sido decisivo para que o governo tenha permitido chegar ao que vem sendo apontado nas investigações.
*Colunista