Um exemplo e a falta de vontade política para ajudar a estruturar o Turismo
Jessé Souza*
Quando há interesse e vontade política as coisas acontecem no poder público. Prefeituras de outros municípios onde há potencial para exploração econômica do turismo poderiam muito bem seguir o exemplo da Prefeitura de Boa Vista que, por meio da Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura (Fetec), decidiu investir nos guias turísticos locais, contratando os serviços desses profissionais, os quais sempre são preteridos por grandes empresas quando se trata de investimento público.
Não só as prefeituras, como também o próprio Governo do Estado poderia criar um programa desse mais robusto, em nível estadual, pois esses profissionais nem sempre conseguem sobreviver exclusivamente de suas atividades. No Município do Amajari, na Serra do Tepequém, onde há os condutores locais, esses profissionais precisam recorrer a outros trabalhos, principalmente fazendo “bicos” a fim de manterem suas famílias.
Como não há apoio do poder público, os condutores precisam trabalhar como ajudante de pedreiro, roçador e capinador de quintal, além de outros trabalhos braçais para poder complementar a renda da família durante a semana quando não há turistas. Alguns ficam dependendo inclusive da ajuda da comunidade para não passarem fome.
Durante a pandemia, sequer o Governo do Estado e a Prefeitura do Amajari foram ao socorro desses condutores, os quais ficaram desempregados e dependendo dos trabalhos braçais de diarista. O governo local poderia ter seguido o exemplo de Tocantins, onde 97 famílias que vivem da renda de guia turístico ganharam uma linha de crédito exclusiva para subsidiar esses profissionais que ficaram com dificuldades econômicas devido a Covid-19.
Em Roraima, além de Tepequém ter sido fechado, ninguém foi ao socorro dos condutores. Não precisa de pandemia para apoiar guias e condutores. Temos um período rigoroso de inverno no Estado que impede esses profissionais de atuarem na condução de turistas nas cachoeiras, especialmente entre maio e junho, por isso eles precisam desse apoio do poder público. Mas a eles só resta o desprezo governamental.
Durante toda a campanha eleitoral, poucos políticos foram lá para oferecer apoio ao Turismo e aos seus profissionais. Quem apareceu por lá foi um candidato empresário do garimpo que, em vez de propostas para geração de emprego e renda no setor turístico, distribuiu bateias e surucas (peneiras para explorar diamante) para fomentar o garimpo.
Isso só para mostrar como o Turismo é tratado no Estado. Por isso, qualquer iniciativa como esta, colocada em prática pela Fetec em Boa Vista, precisa ser enaltecida para que sirva de exemplo e incentive mais autoridades a enxergarem o Turismo, os seus profissionais e empreendedores como uma força alternativa para gerar emprego e renda no Estado. A Serra do Tepequém iria agradecer muito.
*Colunista