Ontem falamos cá nesse espaço sobre a liderança de Lula da Silva quando falamos em esquerda no Brasil. Pois bem, Jair Bolsonaro (PL) é sem dúvida o mais carismático líder de direita que o Brasil já viu desde o começo dos anos 60 do Século passado quando Jânio Quadros, da então  União Democrática Nacional (UDN), ganhou a eleição do centro-esquerdista marechal Henrique Lotti, do PSD. Bolsonaro passou quase 30 anos como deputado federal, e nesses longos anos de Parlamento acumulou polêmicas, com postura de extrema-direita. Em quase três décadas nunca ocupou funções importantes na Câmara Federal, e sequer liderou qualquer das várias bancadas das quais participou. Foi como se diz no jargão dos parlamentares, um deputado federal do baixo clero.

Com os ventos soprados desde a operação Lava Jato, com um discurso abominando a prática dos governos de coalizão dos presidentes que o antecederam, e que resultaram no maior escândalo de corrupção de que se tem noticia na história republicana brasileira, Bolsonaro conseguiu se apresentar como alguém de novo na política brasileira, apesar da longa convivência com os políticos nos seus trinta anos de mandato parlamentar na Câmara Federal. Além de se apresentar como contrário à política do “toma lá, dá cá”, de que foram exemplos exacerbados os governos petistas de Lula da Silva e Dilma Rousseff, e o governo tampão de Michel Temer (MDB); o então deputado federal Jair Bolsonaro também assumiu o discurso conservador de preservação de costumes numa sociedade majoritariamente cristã, assustada com o avanço de pautas absolutamente na contramão desses valores.

Aberto o processo pré-eleitoral de 2018, foi impressionante o crescimento popular e eleitoral de Bolsonaro, que começou especialmente entre os jovens aficionados mais que seus pais em redes sociais e internet. Com Lula da Silva na cadeia, cumprindo pena por corrupção, o PT não conseguiu trazer seus “puxadinhos” da esquerda para apoiar a candidatura de Fernando Haddad, o ungido monocraticamente pelo velho líder hospedado numa sala da Superintendência da Policia Federal em Curitiba. Esquerda dividida e centro já perdido – como ocorreu agora na eleição de 2022, a eleição presidencial de 2018 restou polarizada, com um segundo turno disputado por Bolsonaro e Haddad. Filiado a um minúsculo partido, com amplo domínio nas redes sociais, potencializado pelo atentado que sofreu em Juiz de Fora (MG), que quase lhe tirou a vida, Bolsonaro venceu em segundo turno, o candidato de Lula da Silva.

Como prometera em campanha, o novo presidente começou o governo com uma equipe quase toda formada por técnicos, e algumas pitadas de arranjo partidário. Enxugou a estrutura ministerial e chamou para comandar o Ministério da Economia, criada com a junção de outras várias pastas, o economista liberal Paulo Guedes, de onde partiram as principais inspirações para as poucas, mas fundamentais reformas, que tronaram o Brasil mais competitivo, e que atraíram capitais externos para mover a economia do país. Sem dúvida, apesar de ter enfrentado dois anos da maior crise sanitária dos últimos cem anos – pandemia de Covid19-, Bolsonaro deixa a presidência com um Brasil bem situada no contexto dos principais países do mundo; recuperou a capacidade de crescimento do país – uma das maiores taxas de  crescimento do PIB dentre as maiores economias do mundo-; desemprego em baixa; inflação relativamente controlada; arrecadação tributária em ascensão; e marcos regulatórios capazes de atrair alguns trilhões de investimentos públicos e privados para a área de infraestrutura.

Se foi bem na área econômica, a administração Bolsonaro não teve igual desempenho nalgumas áreas do governo. Na Saúde, por exemplo, teve quatro ministros diferentes, e acossado por uma oposição oportunista não lidou adequadamente no enfrentamento à pandemia da Covid19. Falhou especialmente na comunicação, embora não se lhe possa acusar de leniência, como fez aquela CPI no Senado Federal, na verdade um palanque eletrônico eleitoral montado para buscar votos. E deu certo para a oposição, ancorada por uma imprensa hostil, principalmente por ter sido hostilizada pelo próprio, que sempre achou que seu palanque eletrônico, montado em redes sociais,  lhe elegeriam. E por algumas decisões de  ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que acabaram por beneficiar uma vitória para a oposição. O que resta agora é Bolsonaro falar. Porque para muitos seu silêncio não condiz com a imagem que ele mesmo construiu, e que apesar da derrota ainda leva tantas pessoas para ruas todos os dias. Amanhã tem mais…