Um desenho sobre a conexao da super droga com a rota do garimpo ilegal 15154

Um desenho sobre a conexão da super droga com a rota do garimpo ilegal

Jessé Souza*

Enquanto os políticos disputam cargos, indicações e poder desde que as eleições encerraram-se, em outubro do ano passado, um grande movimento puxado pelo avanço de uma droga altamente viciante, o Skank, popularmente conhecido como “supermaconha”,  vem crescendo vertiginosamente no Estado. A opinião pública pode ter uma noção desta triste realidade a partir das matérias publicadas desde dezembro passado.

Essas matérias policiais acabam por desenhar a configuração do avanço dessa droga poderosa, cujo comando é liderado a partir da região Centro-Oeste do Estado, no que pode ser chamado de arco de apoio ao garimpo ilegal, entre os municípios de Mucajaí e Alto Alegre, onde as maiores apreensões têm ocorrido pelas autoridades policiais no mês de dezembro passado.

Uma apreensão significativa para entender esse movimento organizado ocorreu no dia 07.12.22, em uma fazenda na região de Samaúma, em Alto Alegre, onde os policiais civis encontraram não apenas 234Kg de Skank, mas também  outros materiais que ligam a super droga ao garimpo ilegal, como armas de fogos e munições, bem como combustível para abastecer as atividades do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.

A ação policial, que provocou um prejuízo de R$2 milhões nas atividades da organização criminosa, ocorreu depois que a operação da Polícia Civil de Roraima foi desencadeada a partir da prisão de um técnico de informática no dia 02.12.22 com 18Kg de Skank, no bairro Pintolândia, na zona Oeste de Boa Vista. Até então, seria a maior apreensão desse tipo de droga no ano.

As investigações indicaram que o homem integraria uma organização criminosa com atuação interestadual e que era a pessoa responsável por guardar a droga antes de ser distribuída aos pontos de vendas na Capital. Aqui já pode ser visualizada a conexão com o crime organizado de outro Estado e que agora mantém ligações com o garimpo ilegal.

Porém, a maior apreensão da supermaconha no ano de 2022 acabou ocorrendo pela Polícia Federal no dia 11.12.22, em Mucajaí, quatro dias depois da grande apreensão feita pela Polícia Civil em Alto Alegre. Desta vez, a PF apreendeu meia tonelada de Skank  em uma fazenda localizada exatamente no vizinho Município de Mucajaí, que integra o arco de apoio ao garimpo ilegal.

A operação foi em conjunto com a ação da Força Tarefa de Segurança Pública de Roraima (FTSP) e com o apoio da Força Aérea Brasileira (FAB), uma vez que a droga estava sendo transportada em uma aeronave monomotor, a qual foi apreendida junto armas de fogo e veículo. Sabe-se que esta região abriga pistas de pousos clandestinas que servem ao crime organizado, que atua não mais apenas no tráfico de drogas como também no garimpo ilegal.

Essas matérias em destaque explicitam toda articulação naquela região do Estado, de total conhecimento das autoridades policiais, ações estas facilitadas pelo asfaltamento interligando Mucajaí e Alto Alegre. No entanto, o mês de janeiro foi um dos que mais registrou matérias policiais apontando prisões de traficantes e apreensões especificamente de Skank, fora as prisões por outros tipos de droga e execuções advindas provavelmente do tráfico.

Prisões e apreensões resultantes da supermaconha foram registradas no Sul do Estado (Rorainópolis), Centro-Sul (Mucajaí e Iracema) e Centro-Oeste (Alto Alegre), bem como em vários bairros da Capital, com identificação de uma rota que interliga o Residencial Vila Jardim, no bairro Cidade Satélite, a bairros próximos ao longo do Anel Viário, na zona Oeste da Capital. Tudo isso com base nas matérias publicadas.

Foram 13 matérias sobre prisões de suspeitos e apreensões de Skank somente em dezembro passado. E o mês de janeiro de 2023 segue até ontem com mais duas matérias sobre apreensões e prisões, sendo uma na Capital e outra na Vila Campos Novos, no Município de Iracema. A curiosidade é que essas prisões não foram de simples usuários, mas de traficantes com quantidade razoável de droga, alguns portando acima de 1kg.

Em resumo, o combate ao tráfico droga passa também pelo combate ao garimpo ilegal, o que mostra o grande desafio das autoridades nas ações de enfrentamentos que estão sendo desenhadas pelo atual governo. Por isso, é inconcebível que alguma autoridade se posicione, neste momento, em defesa do garimpo, pois é crível que esta atividade ilegal está atrelada a outros crimes, entre eles o avanço da supermaconha em Roraima.

As matérias policiais estão aí para desenhar essa realidade. Vale ressaltar que o ano de 2023 começou com mais um corpo desovado na área central de Boa Vista, no Igarapé Caxangá, região de atuação do tráfico, cuja vítima estava dentro de um saco, com os pés e mãos amarradas, no dia 02, indicando que a guerrilha urbana patrocinada pelo crime organizado segue firme e sem trégua.

 *Colunista