Mais um início de ano letivo conturbado revela o nível de prioridade com a Educação
Jessé Souza*
Quatro anos não foram suficientes para que o Governo do Estado conseguisse ao menos normalizar o início do ano letivo da rede estadual de ensino livre de qualquer percalço. Desde o fim da pandemia, os recorrentes problemas persistem, revelando a falta de prioridade para a Educação nesta administração que mal consegue reformar prédios.
Com dois anos de Covid-19, de 2020 a 2022, quando as escolas ficaram fechadas, o governo não foi competente para investir na reforma, ampliação e construção de novos prédios, fazendo com que escolas sem manutenção ou reformas se deteriorassem ainda mais, ficando impossibilitadas de ofertarem o mínimo de estrutura para receber alunos e professores.
Também desde o início da atual gestão, ainda no primeiro mandato, o transporte escolar foi outro entrave que se arrastou até o ano passado, quando escolas em áreas indígenas sequer conseguiram retomar as aulas porque não havia como os alunos chegarem até a escola. Aliás, é outra questão a ser observada neste início conturbando de ano letivo.
No interior do Estado, comunidades indígenas e algumas escolas da Capital, faltam professores para diversas disciplinas porque a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) não consegue equacionar a questão sequer com a realização de seletivos no tempo certo para que não prejudique o início do ano letivo. É como se tudo fosse na base do improviso.
É bem verdade que desde administrações anteriores a Educação serviu mais como moeda eleitoral, em que o setor sempre era entregue a algum aliado político da vez, que loteavam não apenas cargos, licitações e outros, mas também transformavam diretores de departamentos e gestores de escola em cabos eleitorais.
Na atual administração, o governador Antonio Denarium deixou a Seed nas mãos da cunhada, a qual só foi substituída em maio do ano passado, quando os problemas só se avolumaram sem solução, conforme este artigo relacionou acima. E o novo secretário pode até alegar que não teve tempo suficiente para colocar ordem na casa, mas não justifica.
Foi possível perceber que houve um direcionamento político e ideológico, aliado com o então governo bolsonarista, para militarizar o maior número possível de escolas estaduais, como se isso fosse a solução de todos os problemas, o que provou não ser verdadeiro, pois as escolas militarizadas não melhoraram o nível educacional, enquanto a situação das demais escolas só caiu em decadência.
A militarização da escolas, especialmente no interior, apenas dificultaram ainda mais a vida de famílias pobres, que agora têm que comprar o fardamento a um preço que afet4a o orçamento familiar. Quem não consegue se vê na obrigação de tirar o filho da escola para outra não militarizada mais distante de casa ou de sua comunidade.
A consequência da falta de prioridade para a Educação, com priorização do projeto de militarização, pode ser sentida em mais um início de ano letivo conturbado, com o governo recorrendo a seletivo tardio para remendar a falta de planejamento, além de reformas realizadas no atropelo, escolas anexadas a outras, inclusive em unidades municipais, transporte escolar ineficiente e prédios em comunidades indígenas há 30 anos sem qualquer reforma e manutenção.
Enquanto isso, o governo se movimenta para priorizar garimpo, conforme foi anunciado no início do ano, e com atuais declarações estapafúrdias sobre a situação do povo Yanomami. Só aí é possível perceber quais são as prioridades dessa administração.
*Colunista