Um drama no setor público que começou em dezembro e que se arrasta até hoje
Jessé Souza*
Desde o início de dezembro do ano passado esta Coluna acompanha o drama de um morador do bairro João de Barro, na zona Oeste da Capital, ferido gravemente durante um assalto e que ficou internado no Bloco D do Hospital Lotty Iris, em Boa Vista, que é conveniado ao Governo de Roraima por meio do Sistema Único de Saúde (Sesau).
Tudo começou quando, ao ser abordado por um bandido de moto que se passava como entregador de comida, com uma bolsa térmica nas costas, ele foi atacado a pauladas para que entregasse o celular, fraturando os dois braços ao tentar se defender da agressão. Desde lá, este funcionário público vem passando por transtornos devido à ineficiência dos serviços públicos prestado à população.
O drama começou na fila de espera pela cirurgia, a qual só foi feita depois que esta Coluna narrou o problema dele e de cerca de mais 80 pacientes com alguma tipo de fratura, os quais se acumulavam nos leitos do hospital conveniado do governo. Depois, a dor de cabeça seguiu na polícia, quando é iniciada uma ação orquestrada para dificultar o registro do caso para que seja dado início à investigação.
Com base na realidade dos fatos, percebe-se que não se trata de uma negligência pura e simples no atendimento ou somente pela falta de estrutura qualquer. Naquela época, as delegacias só funcionavam meio expediente. Na verdade, dificultar ao máximo o registro do caso significa menos dados nas estatísticas oficiais, passando a impressão de que a violência está sendo reduzida ou simplesmente que os problemas não existem.
Além de todas as dificuldades, o servidor passou por duras barreiras para conseguir o laudo a fim de comprovar no seu local de trabalho que ele estava impossibilitado de trabalhar porque está com os seus dois braços fraturados e cirurgiados. Segundo ele, o legista afirmou que só poderia emitir um laudo depois que ele passar pela fisioterapia.
O drama não parou por aí e segue até hoje. Agora, o servidor não consegue dar sequência ao tratamento de fisioterapia porque não há profissionais suficientes para atender ao público no Núcleo Estadual de Reabilitação Física, localizado no bairro Nova Canaã, na zona Oeste. As duas últimas seções foram canceladas porque não há substituto para profissionais de férias.
Os pacientes precisam se deslocar bem cedo para o bairro Nova Canaã e, sem qualquer aviso prévio, são mandados de volta para casa porque não há fisioterapeuta disponível, prolongando o sofrimento de quem foi vítima de violência urbana e que vem sendo maltratado pelos órgãos públicos por onde é obrigado a buscar atendimento.
O problema no Núcleo afeta inúmeras pessoas vítimas de acidentes de trânsito, cuja espera começa na fila do hospital para a cirurgia, impondo um sofrimento maior a quem já está fragilizado pelas circunstâncias da violência no trânsito ou da violência urbana que se abate principalmente para quem mora nos bairros mais afastados do Centro.
E assim o contribuinte é tratado nas várias esferas de governo e nos órgãos públicos onde ele busca atendimento. Como não há quem fiscalize as ações do governo estadual, pois quase todos os deputados da Assembleia Legislativa são da base governista, restam aos cidadãos sofrerem calados, por temerem represálias, ou buscarem ajuda da imprensa.
Por cima da realidade existe um discurso para sustentar que tudo está funcionando muito bem e propagandas bem elaboradas que escondem as deficiências que se arrastam em quase todos os setores públicos. Enquanto isto, os políticos já estão pensando nas próximas eleições municipais, pois, afinal, eles não estão se importando muito com que o público está pensando neste momento.
*Colunista