Jessé Souza

Roraima e um dos estados com maior numero de pistas de pouso clandestinas 15347

Roraima é um dos estados com maior número de pistas de pouso clandestinas

Jessé Souza*

Apesar de ter a menor população do país, Roraima é o terceiro Estado com maior quantidade de pistas de pouso de avião na Amazônia, no total de 218, sendo superado apenas pelo Mato Grosso (1.062) e Pará (883). Na quarta posição está Tocantins (205). Os dados são de um levantamento inédito feito pela entidade MapBiomas.

Ao identificar 2.869 pistas da Amazônia, o estudo revela um número que representa o dobro do que está registrado na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Deste total, 28% delas estão dentro de alguma área protegida (Terras Indígenas e Unidades de Conservação), o que representam  804 pistas de pouso ilegais.

Trata-se de um levantamento inédito feito pelo MapBiomas divulgado no dia 30 de janeiro, o qual detalha que 320 (11%) destas pistas clandestinas estão no interior de Terras Indígenas (TIs) e 498 (17%) no interior de Unidades de Conservação (UCs). Do total de pistas irregulares (804) que estão dentro de alguma área protegida, 456 delas ficam a até 5 km de distância de um garimpo.

A entidade aponta, ainda, que em 2021 o bioma Amazônico concentrou mais de 91% do garimpo no Brasil. Nos últimos 10 anos, a expansão da área de garimpo em TIs foi de 625% e, nas UCs, foi de 352%. Ao menos 12% (23 mil hectares) da área de garimpo do país é ilegal, pois está dentro de TIs ou de UCs.

Três das cinco terras indígenas com maior quantidade de pistas de pouso são também as de maior área garimpada: Kayapó (11.542 hectares), Mundukuru (4,743 ha) e Yanomami (1.556 ha). Em Roraima, na Terra Indígena Yanomami foram identificadas 75 pistas de pouso e, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, foram 58.

A entidade explica que esta é a primeira versão do mapeamento de pistas de pouso na Amazônia feita a partir de interpretação visual de imagens de satélite de alta resolução (4 metros, Planet) por meio de mosaicos mensais livres de nuvens, do ano de 2021, sem dissociação entre pistas autorizadas ou não.

As imagens analisadas foram disponibilizadas pelo programa NICFI (Norway’s International Climate & Forests Initiative) de fornecimento de imagens de alta resolução para os trópicos. O mapeamento das pistas de pouso foi realizado pela Solved, que também lidera o mapeamento de mineração, aquicultura e zona costeira no MapBiomas.

Como se pode notar, não é difícil para um governo identificar pistas e pontos de garimpos ilegais por meio de imagens de satélites. Basta vontade política. No entanto, especialmente nos últimos quatro anos houve uma política de desmontar e desmobilizar qualquer tipo de estudo neste sentido, além de também de desaparelhar os órgãos ambientais, o que resultou na explosão do garimpo ilegal na TI Yanomami e em outras áreas na Amazônia.

Logo, não se pode falar em regularizar o garimpo, inclusive o artesanal, sem antes passar a limpo o grande esquema montado na Amazônia por empresários financiadores de maquinários e estrutura física, aliciadores de mão de obra, donos de aeronaves que dão apoio logístico e políticos que se beneficiam não apenas do voto como também atuam no esquema.

Os primeiros passos já foram dados. E não há mais desculpa para as Forças Armadas, Ibama, Polícia Federal e Anac alegarem que não têm conhecimento da localização das pistas clandestinas. O levantamento do MapBiomas está aí, para quem quiser consultar na internet.

*Colunista