A realidade da insegurança escancarada com a debandada em massa dos garimpeiros
Jessé Souza*
A debandada de garimpeiros a pé ou de barco da Terra Indígena Yanomami, principalmente na região Oeste do Estado, acabou por escancarar de vez a situação de insegurança nos municípios do interior, conforme esta Coluna também vem abordando há um certo tempo, os quais não dispõem de policiamento ostensivo, com a população tendo que se contentar com visitas rápidas de viaturas que sequer têm tempo de passar sensação de segurança aos moradores das vilas.
Os municípios que abrigam a terra indígena onde existe o maior número de garimpos ilegais – Alto Alegre, Mucajaí e Iracema, de onde partem voos clandestinos e embarcações fluviais – são os primeiros a receber de volta centenas de garimpeiros que fogem dos garimpos ilegais para não serem presos pela Polícia Federal. E a insegurança passou a ser uma grande questão.
Antes disso, a população já reclamava desta perturbadora realidade, a exemplo dos moradores da Vila Reislândia, na região do Paredão, em Alto Alegre. No assassinato de um idoso de 82 anos, na noite do dia 9 passado, vítima de latrocínio, os moradores relataram a insegurança e chegaram a pedir a instalação de um posto policial, uma vez que a localidade apenas é visitada por uma viatura da Polícia Militar.
Mas isto não é um problema exclusivo daquela região. Todo o interior do Estado é submetido a uma segurança pública deficitária, com guarnições da PM mantidas de forma reduzida e acanhada na sede dos municípios, onde geralmente nem Delegacia da Polícia Civil existe para investigar os crimes ou mesmo para a população registrar as ocorrências cotidianas.
Com a saída em massa dos garimpeiros, a PM reforçou o policiamento na região de Samaúma, em Alto Alegre, que é o foco principal do garimpo ilegal. Enquanto isso, começou a surgir problema na Capital, pois, nas redes sociais, internautas passaram a reclamar que estão ligando para o 190, mas a resposta é que não existiriam viaturas disponíveis para atender as ocorrências. Se bem que este é um problema recorrente desde há muito tempo.
A politicalha na segurança pública tem sua grande culpa, uma vez que, enquanto a segurança pública está desfalcada de efetivo, muitos policiais estão cedidos para servirem de seguranças particulares de parlamentares e outras autoridades, além de muitos outros encostados em órgãos públicos exercendo outras funções. Existiram até denúncias de casos de policiais atuando na campanha eleitoral passada, inclusive transportando mochilas suspeitas.
De outra ponta, existem seguidos relatos de que as guarnições não dispõem nas viaturas de PMs femininas (PFem) para atender ocorrências que envolvam mulheres, nas ações do dia a dia, as quais acabam sendo revistadas por policiais do sexo masculino, enquanto boa parte das PMs mulheres não estão na atividade fim, sendo lotadas no serviço administrativo.
Tais deficiências não se tratam de uma questão nova, do atual governo, mas de uma situação antiga, já enraizada na segurança pública, em que os seguidos grupos políticos no poder usam a polícia como seus instrumentos partidários, a partir de quando ficam reféns de suas próprias ações, assim com vem ocorrendo na saúde e educação, em que fica praticamente impossível acabar com antigos esquemas.
Quando surge alguém operacional, disposto a solucionar entraves antigos, a fim de melhorar a segurança pública, este sonhador é logo desmotivado ou simplesmente colocado em seu devido lugar, para que não ouse a desafiar o sistema montado para não funcionar mesmo em favor da população, mas a serviço da política do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
A população que se cuide com suas cercas elétricas ou tome suas devidas precauções para fugir da criminalidade na periferia da cidade ou nas vilas do interior. Porque a polícia sempre estará ocupada em servir aos interesses do grupo do momento que está no poder. Que ninguém se iluda!
*Colunista