Ações beija-mão e rapapés para entregar barcos de pesca em período de defesa
Jessé Souza*
Uma ação governamental que ocorreu na região do Baixo Rio Branco, no Sul do Estado, na semana passada, provocou indignação em leitores que enviaram comentários a respeito do assunto. “Em pleno início do período de defeso, o Governo do Estado entregou barcos, rabeta, redes de pesca e combustível”, comentou um deles, via aplicativo de mensagens, classificando o ato como “falta de noção completa pelo senso de oportunidade e conveniência”.
No final de fevereiro, mais precisamente no dia 28, esta Coluna comentou a respeito da morte de uma bebê na comunidade Caicubi, naquela região que fica próxima da divisa de Roraima com o Amazonas, devido à completa desassistência por parte das autoridades municipais e estaduais, o que permite que aqueles moradores fiquem largados à própria sorte em um local aonde só se chega de barco ou de avião.
Lá existe apenas um posto de saúde, onde falta o básico, como remédios, e não dispõe sequer de um enfermeiro temporário ou de um técnico de enfermagem permanente. E aquela criança morreu porque não havia um médico nem um barco que pudesse transportá-la para um atendimento de emergência na localidade mais próxima.
Em vez de tomar decisões para corrigir os graves problemas que lá ocorrem, o Governo do Estado promoveu uma dessa caravanas que mais se assemelham a uma campanha eleitoral antecipada, em clima de festa, do que um socorro àquela população que mora distantes dos centros urbanos. E o grande detalhe é que as autoridades entregarem barcos e tralhas de pesca no período em que é proibido pescar por causa do defeso, conforme observaram os leitores.
Conforme foi comentado no artigo a respeito da morte da criança, a Prefeitura de Caracaraí tem dado prioridade à realização de festas com pagamento de gordos cachês a artistas nacionais, enquanto deixa de disponibilizar as assistências mais básicas. Para se ter uma ideia, a emergência mais rápida fica do lado amazonense, na comunidade de Barcelos, já que a região fica próxima da divisa com o Amazonas.
Enquanto os políticos consideram os votos do Baixo Rio Branco como decisivos, os moradores historicamente, após cada pleito ou festa governamental em forma de ação social, voltam a encarar a realidade de abandono e desassistência, especialmente na saúde pública, onde o posto de saúde não consegue sequer disponibilizar remédios, muito menos um nebulizador, o que foi decisivo para a morte daquela criança. Isso para ilustrar o descaso criminoso com que aquela região é tratada.
Na Educação, um outro drama, pois em Caicubi só existe uma escola municipal que sequer enviou os materiais básicos para que os professores dessem início ao ano letivo no tempo certo. E o Governo do Estado não tem escola naquela localidade. Se querem os filhos estudando após sair da Educação Infantil, os pais precisam enviá-los para a cidade mais próxima.
Não é à toa a revolta dos leitores, pois essas caravanas governamentais se parecem com um Brasil colonial, em que as autoridades realizavam raramente seus eventos beija-mão em que o povo as recebiam com festejos e rapapés. Depois, tudo voltava ao sofrimento que era, uma realidade que os moradores do Baixo Rio Branco e de outras localidades do interior de Roraima sabem muito bem como funciona.
*Colunista