O coronel da Polícia Militar Paulo Lhamas afirmou, em entrevista à Rádio Folha AM 1020, que as barbáries envolvendo policiais só irão acabar quando o sistema de formação do policial mudar completamente. Em participação ao vivo no Programa Agenda da Semana, na manhã de ontem, ele destacou que os agentes militares não são treinados para agir socialmente. “Enquanto eles forem treinados para agir acima de todos, como se estivessem numa guerra, outros Felipes irão existir”, disse o coronel, referindo-se ao triplo homicídio praticado na manhã de segunda-feira passada pelo policial militar Felipe Gabriel Martins Quadros, 22 anos.
Conforme Lhamas, o modelo de segurança pública do Estado está falido e deve ser reformulado. “É um modelo em que não há um sistema de seleção que evite que pessoas com problemas psicológicos entrem na corporação. Depois, a formação do policial continua a mesma militarista de tempos de guerra, em que, durante o treinamento, ele é forçado a passar por situações que levam seu psicológico ao extremo e, quando ele sai da academia, quer aplicar isto na sociedade”, frisou o coronel.
Para Lhamas, a prova objetiva que seleciona o policial e permite o ingresso dele na corporação não é suficiente para avaliar se o candidato tem condições de ser um policial. “Nós temos que conhecer a nossa realidade. Alguns policiais que iniciam a carreira vêm das bocas de fumo, são seres provenientes de áreas marginalizadas e que encontram na polícia uma maneira de passar por cima disso. Um simples levantamento do histórico social dos candidatos evitaria tragédias como a que ocorreu na semana passada”, frisou o coronel.
Ele destacou que a atual Constituição protege os policiais e considera ser este um dos principais motivos para que, ao ir para a rua, o agente tenha atitudes criminosas. “Existem mais de 300 normas que regulamentam as ações de um policial militar, mas todas estão voltadas à execução da postura militarista dele dentro da corporação. Não existe nenhuma direcionada para punir aquele policial em campo. Hoje se pune um policial que não bateu continência para um superior, e não se pune um policial que pegou o dinheiro da carteira de um acusado”, disse.
Lhamas afirmou que o sistema é “corrupto e acomodado”. “O que nós deveríamos fazer era mudar completamente o sistema. Adotar o modelo da Inglaterra, que hoje é o melhor modelo do mundo. Nós somos pequenos, tudo o que basta é termos alguém que tenha coragem de fazer a mudança psicológica e legislativa do sistema, mas ninguém que já está nele quer que isso ocorra, já que perderiam a autoridade”, criticou o coronel.
Para Lhamas, a Polícia de Roraima poderia ser referência nacional. Ele ressaltou que, como resultado de 20 anos de estudo, desenvolveu um modelo de fiscalização da polícia e apresentou para o atual Governo de Roraima. “O sistema não tem coragem de se autodepurar. Ao meu ver, a solução seria criar um órgão fora da polícia que tivesse autoridade para investigar e punir quem agisse contra os princípios. Hoje, a Corregedoria não dá conta do recado porque quem executa o trabalho são os próprios policiais que, muitas vezes, evitam de cumprir certas representações contra um outro companheiro porque tem medo de sofrer represálias do restante do comando”, afirmou Lhamas.
O coronel ressaltou ainda que Roraima tem o maior efetivo de policiais de todos os estados brasileiros e que tem capacidade de tornar-se referência nacional. “Podemos evitar de nos tornamos um Estado com uma polícia suja e causadora de tantas atrocidades como estamos vendo hoje. O que deve ser feito é começar do zero, melhorar os policiais, mudar o sistema. E aí, sim, teremos um exemplo de polícia e não vários exemplos de Felipes”, frisou, referindo-se outra vez ao policial homicida. (JL)
Comandante diz que PM irá implantar dois conselhos da Polícia Comunitária
Até o final deste ano, duas centrais do programa Polícia Comunitária serão instaladas em Boa Vista. O anúncio foi feito pelo comandante da Polícia Militar de Roraima, coronel Dagoberto Gonçalves, durante o programa Agenda da Semana, da Rádio Folha AM 1020, na manhã deste domingo, 15. Em uma conversa com o economista Getúlio Cruz, o coronel afirmou que as unidades irão iniciar a instalação do programa no Estado.
Segundo Gonçalves, as unidades serão instaladas inicialmente na zona Oeste da cidade, onde ocorre o maior número de ocorrências policiais. “Inicialmente, nós vamos inserir esses conselhos nos bairros Senador Hélio Campos e Cidade Satélite. Cada conselho irá abranger um perímetro de três bairros, onde um comandante irá ter à disposição cerca de 110 homens para auxiliar no patrulhamento da região e nas ações que forem necessárias”, detalhou.
O comandante ressaltou que o objetivo da Polícia Comunitária é descentralizar o comando da PM e aproximar a população dos policiais. “Um estudo realizado apontou que cada bairro tem uma escola estadual que centraliza as atividades daquela região. Por isso vamos nos aproximar da comunidade e designar um comandante da PM para atender cada região. Ele irá trabalhar em conjunto com a comunidade, realizando reuniões para perceber quais os maiores problemas de segurança do local e, numa parceria com a Polícia Civil, agir em prol dessa comunidade”, disse o coronel.
A meta é instalar, até a metade de 2016, cerca de 15 conselhos de Polícia Comunitária na Capital e levar o programa para o interior do Estado no futuro. “Agora nós queremos dar mais qualidade à prestação do serviço da PM aos boa-vistenses. Queremos integrar polícia e comunidade e atuar em áreas de risco na Capital para tão logo chegarmos aos outros bairros”, enfatizou.
Segundo ele, cerca de 80% dos atendimentos realizados pelo 190 hoje correspondem a casos que não evoluem para uma investigação ou processo policial. “São casos em que a polícia acaba resolvendo no local em parceria com a comunidade. Então, aproveitando essa prática, nós vamos ouvir a população, em parceria com todas as instituições da sociedade, e atuar junto a ela. Vamos acabar com a imposição e inserir a PM no âmbito da sociedade”, frisou Gonçalves. (JL)